TEOLOGIA - PARTE 12

ESPERANÇA ESCATOLÓGICA

I -- Que princípios norteiam a pesquisa teológica?

A) O princípio arquitetônico > revelação = base e eixo da teologia > fé objetiva.
B) O princípio hermenêutico > interpretação dos aspectos históricos da salvação = produto da razão. Da razão ordinária, que é a universalidade do senso comum; da razão filosófica, que produz ordenação; e da razão científica, ligada aos fenômenos.

A utilização de tais princípios possibilitam diferentes versões da revelação. Por que?
Porque o princípio arquitetônico depende do que colocamos como base da estruturação geral de nosso estudo: a graça e a fé, no caso de Lutero; a soberania de Deus, no caso de Calvino; ou o amor, a justiça, a liberdade, etc.?

E porque o princípio hermenêutico depende do uso de uma ou de várias das múltiplas visões filosóficas que podem ser utilizadas como instrumento de interpretação da história da salvação. É por isso que se diz: a ideologia define a hermenêutica.
Aqui reside a dificuldade. A revelação é universal e plena, mas toda teologia é transitória, pois reflete um momento de compreensão da revelação e da história da salvação.

II -- Jürgen Moltmann, teólogo da esperança

Depois de uma criativa ruptura com a modernidade, enquanto pensamento, tradição e história, é necessário sentir de novo a alegria da esperança escatológica, para compreender a natureza do terreno sobre o qual pisamos.
Há um momento de cisão no qual modificou-se, de modo essencial, a concepção do que significa teologia. Esse momento foi assinalado a partir dos anos 60 com a teologia da esperança, de Jürgen Moltmann.
Trata-se de uma reflexão prodigiosamente profética, pois enuncia, não somente a queda do muro de Berlim, mas o processo de aglutinação vivido por alemães, em primeiro lugar, por europeus, na seqüência, e agora muito possivelmente por parte da humanidade. É sem dúvida, uma das elaborações mais impressionantes, se entendermos sua abordagem epistemológica. Sugere um campo normativo, a ser percorrido pelos movimentos e comunidades que abririam aguerridamente, a golpes de machado, a senda pós-moderna.
A expressão abordagem epistemológica não é exagerada. Conforme, Bachelard, "os filósofos justamente conscientes do poder de coordenação das funções espirituais consideram suficiente uma mediação deste pensamento coordenado, sem se preocupar muito com o pluralismo e a variedade dos fatos (...). Não se é filósofo se não se tomar consciência, num determinado momento da reflexão, da coerência e da unidade do pensamento, se não se formularem as condições de síntese do saber. E é sempre em função desta unidade, desta síntese, que o filósofo coloca o problema geral do conhecimento". G. Bachelard, Filosofia do Novo Espírito Científico, Lisboa, Presença, 1972, pp. 8-9.

Assim, abordagem epistemológica, aqui utilizada, refere-se ao projeto teológico, de herdadas estruturas hegelianas e marxistas, relidas e traduzidas por ele e Ernest Bloch. É sobre a questão da identidade histórica, entendida como processo a realizar-se, que recai a crítica da teologia realizada por Moltmann.
Usando a leitura de Roberto Machado, diríamos com ele que "a história arqueológica nem é evolutiva, nem retrospectiva, nem mesmo recorrente; ela é epistêmica; nem postula a existência de um progresso contínuo, nem de um progresso descontínuo; pensa a descontinuidade neutralizando a questão do progresso, o que é possível na medida em que abole a atualidade da ciência como critério de um saber do passado". Roberto Machado, Ciência e saber. A trajetória arqueológica de Foucault, Rio de Janeiro, Graal, 1982, p. 152.

É justamente a experiência de viver, enquanto comunidade que se realiza no futuro, que é realçada por Moltmann. No nível antropológico, trabalha os elementos dessa esperança, a partir da qual se produz saber e praxis cristã. Suas heranças são translúcidas:

"Por meio de subverter e demolir todas as barreiras -- sejam da religião, da raça, da educação, ou da classe -- a comunidade dos cristãos comprova que é a comunidade de Cristo. Esta, na realidade, poderia tornar-se a nova marca identificadora da igreja no mundo, por ser composta, não de homens iguais e de mentalidade igual, mas, sim, de homens dessemelhantes, e, na realidade, daqueles que tinham sido inimigos... O caminho para este alvo de uma nova comunidade humanista que envolve todas as nações e línguas é, porém, um caminho revolucionário". Jürgen Moltmann, "God in Revolution", em Religion, Revolution and the Future, NY, Scribner, 1969, p. 141.

Como num laboratório, o teólogo da esperança extrai o fato teológico de sua contingência histórica, tratada sob condições de extrema pureza escatológica. Muito claramente afirma a escatologia como essência da história da redenção e leva à conclusão de que essa mesma essência seja a expressão maior da ressurreição, enquanto metáfora da cruz de Cristo. Essa cruz repousa sobre o esvaziamento da desesperança, enquanto praesumptio e desperatio, na relação que mantém com o mundo.

A teologia, vida cristã em movimento, numa permanente autoformação, advém das pulsações criadoras da própria esperança, cujo sentido volta-se para ela própria. Essa construção, que se nos apresenta como caleidoscópio, belo, mas aparentemente ilógico, traz em si a força combinatória do devir cristão. Assim, a teologia de Moltmann quebra os grilhões do presente eterno da neo-ortodoxia, e nos oferece um conceito realista da história, que tem por base um futuro real, lançando dessa maneira as bases para uma teologia que responda às reais necessidades do homem pós-moderno.

"O passado e o futuro não estão dissolvidos num presente eterno. A realidade contém mais do que o presente. Ao desenvolver sua teologia futurista, Moltmann realmente tem o peso considerável da história bíblica do lado dele, e faz bom uso dela. (...) Ao enfatizar o futuro, desenvolveu um pensamento bíblico legítimo que jazia profundamente enterrado na teologia ética e existencial dos séculos XIX e XX". Stanley Gundry, Teologia Contemporânea, SP, Mundo Cristão, 1987, p.167.

A teologia de Moltmann nasce enquanto reação ao existencialismo e absorção do revisionismo de Bloch. A descontrução do marxismo, realizada por esse filósofo, não agradou ao mundo comunista, mas estabeleceu uma ponte, diferente daquela da teologia da libertação, entre o hegelianismo de esquerda e o cristianismo. Substituiu a dialética pelo ainda-não, enquanto espaço que não está fechado diante de nós, e definiu uma antropologia que não mais está calcada no império dos fenômenos econômicos, mas na esperança.

Os escritos filosóficos do jovem Marx serviram de ponto de partida para o vôo de Bloch. A alienação do homem é um fato inquestionável, não como determinação econômica, mas enquanto determinação ontológica. Afinal, o universo em que vive é essencialmente incompleto. Mas a importância do incompleto é que é suceptível de complemento. Por isso, o possível, o ainda-não, o futuro traduz de fato a realidade.

Nesse processo estão presentes a subjetividade humana e sua potência inacabada e permanente em busca de solução e a mutabilidade do mundo no quadro de suas leis. Dessa maneira, o ainda-não do subjetivo e do objetivo é a matriz da esperança e da utopia. A esperança traduz a
certeza da busca e a utopia nos dá as figuras concretas desse possível.

Para Bloch, o homem é impelido, assim, ao esforço permanente de transcender a alienação presente, em busca de uma ‘pátria de identidade'. É no ‘vermelho quente' do futuro que está a razão fundamental da existência humana.

Nenhum marxista chegou tão próximo da escatologia cristã!

"Deus -- enquanto problema do radicalmente novo, do absoluto libertador, do fenômeno da nossa liberdade e do nosso verdadeiro conteúdo -- torna-senos presente somente como um evento opaco, não objetivo, somente como conjunto da obscuridade do omomento vivido e do símbolo não acabado da questão suprema. O que significa que o Deus supremo, verdadeiro, desconhecido, superior a todas as outras divindades, revelador de todo o nosso ser, ‘vive' desde já, embora ainda não coroado, ainda não objetivado (...) Aparece claro e seguro agora que a esperança é exatamente aquilo em que o elemento obscuro vem à luz. Ela também imerge no elemento obscuro e participa da sua invisibilidade. E como o obscuro e o misterioso estão sempre unidos, a esperança ameaça desaparecer quando alguém se avizinha muito dela ou põe em discussão, de modo muito presunçoso, este elemento obscuro". Ernst Bloch, Geist der Utopie, Franckfurt, 1964, p. 254 in Battista Mondin, Curso de Filosofia, São Paulo, Paulinas, 1987, vl. 3, pp. 246-7.

Bloch realiza uma penetrante releitura da cosmovisão judaico-cristã. Entende o clamor profético do mundo bíblico e da proclamação cristã não como alienação e ópio, mas como fermentos explosivos de esperança, protestos contra o presente em nome da realidade futuro, a utopia.

Talvez por isso possamos dizer que nos anos 60, os caminhos de Moltmann e Bloch não apenas cruzaram-se na universidade de Tübingen, mas abriram espaço para o mais enriquecedor diálogo cristão-marxista que conhecemos.

É interessante lembrar que em 1968, quando manifestações estudantis varriam Tübingen, Heidelberg, Münster e Berlim Ocidental, grande parte dos líderes estudantis eram oriundos das faculdades de teologia. Sua Theologie der Hoffnung (Jürgen Moltmann, Teologia della Speranza, Queriniana, Bréscia, 1969), publicada no início da década na Alemanha, estava na oitava edição, e no ano seguinte, ele lançaria Religion, Revolution and the Future nos Estados Unidos.

Agora, a partir da escatologia da esperança de Jürgen Moltmann apresentamos um rápido esboço de sermão que tem por base o texto de Apocalipse 22.6-21.

III -- Fiel é a Palavra

Introdução
1. No Apocalipse, o futuro define o presente.
O Apocalipse inverte a nossa noção de tempo. O futuro modela e estrutura o presente.

2. Saber como a história termina nos ajuda a entender como devemos nos encaixar nela, agora. Por isso, já estamos vivendo os últimos dias.

3. As visões de João mostram a realidade do juízo divino, quando cada um de nós dará conta de sua existência diante de Deus. Deus recompensará aqueles que, às vezes, ao custo de sua própria vida "guardaram as palavras da profecia deste livro".

4. Profecia é proclamação da Palavra de Deus. E no Novo Testamento é proclamação das boas novas.

Três blocos de textos
10 bloco
Vers. 6 > As palavras são fiéis e verdadeiras.
Vers. 7 > É feliz quem guarda as palavras daquilo que é proclamado (profecia) neste livro.

20 bloco
Vers. 10 > Não feche este livro. O futuro é hoje.
Vers. 11 e 12 > O futuro deve definir o que você faz. E você dará conta disso. E receberá o troco.

30 bloco
O que Cristo diz àqueles que obedecem às palavras desse livro?
Vers. 18 > Quem acrescentar = sofrerá os flagelos
Vers. 19 > Quem tirar = fica fora. Sem acesso à árvore da vida, fora da cidade santa e sem as benções prometidas no livro.

Conclusão

A Palavra é fiel
Vers. 20 > Jesus, a Palavra que reina, garante: Estou chegando! naiv,
evvrcomai tacuv.

Parte II

O APOCALIPSE - Estudo 12
"Eis que vem com as nuvens..."

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@uol.com.br

O Apocalipse hoje

O inspirador livro do Apocalipse foi escrito, como vimos ao longo de todo o estudo, para dar forças espirituais aos crentes que sofriam a perseguição das autoridades políticas, e eram alvo de ataques dos hereges dentro da Igreja dos dias apostólicos.

As visões e suas lições São sete as visões que ocorrem nos seus vinte e dois capítulos. Mas a mensagem é a mesma: a Igreja de Jesus Cristo, apesar de sofrer perseguição, apesar das tribulações, do martírio, tem um glorioso destino: A VITÓRIA! A condenação atingirá o sistema deste mundo, e Jesus Cristo reinará para todo o sempre como Rei dos reis e Senhor dos senhores! Procuremos, então, ser práticos, e extrair lições de todo o livro do Apocalipse. Como o livro é formado por visões, sete ao todo, um plano adequado para a nossa pesquisa é partir de cada uma.

E por falar em visões...
A primeira visão (1-5)
Seu tema é "Jesus Cristo e a Igreja Militante no mundo e na vida celeste". Apropriadíssimo como abertura para todo o livro.

A primeira lição que devemos aprender é que, visto que Jesus Cristo é o começo e o fim de todas as coisas, o "Alfa e o Ômega" (1.8), "o autor e consumador da nossa fé" (Hb 12.2), nossa esperança deve estar unicamente nEle. Ele é o "que vem sobre as nuvens" e Aquele "que todo olho verá" (Ap 1.7).

Isso significa que é inadmissível para o discípulo de Jesus abraçar qualquer movimento ou idéia que não reflita a atitude e a mente de Cristo. É vigiar como se Jesus estivesse para retornar a qualquer momento (o que, aliás, é verdade), sem facilitar as coisas para o Tentador, aguardando a suprema alegria de louvar o Cristo vitorioso!

Outra importante lição aprendemos nas cartas as igrejas da Ásia (capítulos 2 e 3). Algumas falam de deslealdade, é verdade. Outras, no entanto, mencionam a fraternidade e a comunhão que existiam ou deveriam existir na comunidade de fé que se chama igreja. Você tem vivido isso? Ou quando cantamos:

"Não te irrites mas tolera com amor, com amor.
Tudo sofre, tudo espera pelo amor.
Desavenças e rancores não convém a pecadores,
Não convém a pecadores salvos pelo amor."

Ou, ainda,
Como é precioso, irmão, estar bem junto a ti;
E juntos, lado a lado, andarmos com Jesus,
E expressarmos o amor que um dia Ele nos deu,
Pelo sangue no Calvário Sua vida trouxe a nós.

Aliança no Senhor eu tenho com você:
Não existem mais barreiras em meu ser.
Eu sou livre pra te amar, pra te aceitar
e para te pedir: "Perdoa-me, irmão";
Eu sou um com você no amor do nosso Pai,
Somos um no amor de Jesus!

Isso é verdade, ou apenas uma linda figura de linguagem?

As cartas também exaltam a pessoa de Jesus Cristo, o Qual concede o dom da vida e compartilha a Sua glória, razão porque está no meio dos candelabros como ressaltam os versos 12 e 13 do capítulo 1.

Outras preciosas lições estão nas cartas: o cuidado para não perder "o primeiro amor", ou seja, o doutrinamento, o ardor evangelístico, e a já destacada comunhão. O lugar especial da fidelidade, lealdade e sinceridade é uma questão de honra e de caráter do cristão.

Mais uma lição: receber um novo nome é ter o caráter restaurado. O nome para o povo hebreu era a personalidade e o caráter de alguém, era seu cartão de visita. Receber um novo nome é igual a ter o caráter reajustado à luz da graça de Deus (2.17).

Um evangelho sem compromissos com Jesus Cristo, Cuja mente devemos ter, é insensatez. Cuidado, portanto, com os falsos ensinos (2.20)! Isso significa um compromisso total com Cristo, o que se chama também testemunho, a confissão pública de fé (3.4), o zelo com o amor entre os irmãos na graça de Cristo, significado da palavra Filadélfia (cf. 3.7ss), e o culto em espírito e em verdade, abandonado pela igreja de Laodicéia (cf. 3.15ss).

A segunda visão: "Os sete selos" (6, 7)
À medida que os selos vão sendo abertos, preciosas lições são ensinadas. Com certeza, a primeira delas é sobre o que acontece quando o Cordeiro de Deus governa. Os sete selos apresentam as características e princípios do governo de Cristo.

Uma das características é que o Inimigo não descansa. A representação dos quatro cavaleiros com seus coloridos corcéis é evidência do que estamos dizendo. Satanás não dorme, por isso, não facilita as coisas para o crente. O sofrimento é uma terrível característica, mas não é maior que a consolação, amparo e abrigo que vêm do Senhor. O apóstolo Paulo expressou muito bem esse fato ao dizer, "tenho para mim que as aflições deste tempo presente não se podem comparar com a glória que em nós há de ser revelada" (Rm 8.18), e chamou as aflições de "leve e momentânea tribulação" (leia 2Co 4.17, 18).

A terceira visão: "As sete trombetas" (8-11)
Se a segunda visão é o que acontece quando Cristo reina, a seguinte fala do que acontece quando o Salvador é rejeitado.

A descrição do que sucede após o toque das trombetas é tremenda. O evangelho anunciado com zelo e amor pelas vidas fora de Cristo, por isso, perdidas, deve, como o livrinho deglutido, nos alimentar, sustentar, nutrir, apesar de ter uma palavra de justiça, representada pelo amargo no ventre (leia 10.10b). Esse evangelho comunicado aos perdidos, apesar de ser doce na boca, é amargo no ventre. Quando pregamos o evangelho é uma delícia. Particularmente, sinto muito prazer em pregar. Minha esposa me recomenda, quando saímos de férias, a não levar paletó. Com isso, quer me preservar de pregar nas igrejas visitadas, para só descansar. Mas, há tantas igrejas, atualmente, nas quais o pastor não usa paletó?! Preguei numa igreja pastoreada por um ex-aluno que vai bastante informalmente para o púlpito. Fui de traje completo. Inusitadamente, o pastor estava também de traje completo, e disse que era em homenagem ao ex-professor. Quando entramos no santuário, todo auditório fez, "U-u-u-u-m-m-m..." A igreja não esperava que o seu pastor estivesse formalmente tragado.

O fato é que aprecio pregar, mas a amargura toma conta de mim quando a mensagem é rejeitada, desprezada. Esse é o amargo do evangelho que sente o pregador.
Como trombeta é sinal de aviso, alerta, é voz de comando, mostra a visão a paciência de Deus no chamado ao arrependimento. Importante lição deste livro.

Ainda as visões
A quarta visão: "A luta contra a trindade satânica" (12, 13)
A paródia da Santíssima Trindade é a "trindade satânica", maligna, formada pelo Dragão, a Besta e o Falso Profeta (veja 12.3ss; 13.1ss; 16.13). Por essa razão, o crente em Jesus Cristo reconhece que enfrenta uma guerra espiritual. Em Efésios 6.12, o apóstolo Paulo nos alerta acerca dessa batalha no reino do espírito. O cristão é atacado por todos os lados. Na sua vida emocional, por exemplo.

Tenho visto crente salvo pelo sangue de Jesus arrastando atrás de si uma miséria de vida, ansiedade, medo, depressão. Não entendo... Uma irmã bem idosa numa das igrejas que pastoreei pediu-me: "Pastor, fale sobre a morte: tenho muito de morrer". Preparei o sermão, preguei-o, e na despedida do culto, à porta da igreja, ela disse: "Muito obrigada pela mensagem, mas ainda estou com medo..." Não mais precisamos mais desse tipo de fardo. Isso é guerra, é batalha espiritual, porque dentro de nós há uma grande luta. Nosso espírito se torna um verdadeiro campo de batalha. Emoções, feridas (e Satanás se aproveita disso...) e o consolo de Deus do outro lado. De um lado, O Senhor e Seus exércitos; do outro, o Inimigo e seus batalhões num campo de batalha que é dentro de nós.

Fico muito impressionado quando leio a história da viúva da vila de Naim. Tinha apenas um filho que era seu arrimo. E ele morreu, e como é costume no Oriente Próximo, levaram o seu corpo num esquife aberto. Vinha o féretro saindo da cidade para sepultar o corpo do moço. Não havia nas cidades hebréias cemitérios urbanos, mas sempre na periferia. Herdamos isso: o Campo Santo, nosso primeiro cemitério em Salvador situava-se há 250 anos na periferia. O centro da cidade era o Pelourinho, o Carmo, Santo Antônio, o Terreiro de Jesus. O cemitério estava bem distante do Centro, onde hoje é o bairro da Federação, perto de nosso templo (que é centrão de Salvador).

O corpo do jovem estava sendo levado para fora da cidade. Nesse momento, porém, vinha entrando na cidade Jesus, os discípulos, admiradores e curiosos. Encontram-se as duas multidões. Uma é a morte, outra é a da vida: o exército da Morte e o exército da Suprema Vida. E o moço foi ressuscitado pelo toque do Salvador. Essa mesma batalha em que Jesus restituiu um jovem às lágrimas de sua mãe é dentro de nós, e está nos capítulos 12 e 13 do Apocalipse. É vitória garantida. É sobre isso todo o livro do Apocalipse (leia 12.11).

A quinta visão: "Sete flagelos" (14-16)
No verso 13 do capítulo 14, há uma linda bem-aventurança que diz, "Bem-aventurados os mortos que desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, para que descansem dos seus trabalhos, pois as suas obras os acompanham". Conhecemos em geral bem-aventuranças para a vida. O Sermão da Montanha apresenta algumas delas (Mateus 5.3-12): "Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados" (v.4); "bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia (v.7); "bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus" (v.9). Todas de vida. Porém, bem-aventurança para a morte?!

Pois é; a diferença é Cristo quem faz. Não é simplesmente "bem-aventurados os mortos", e ponto final: é, sim, "... que desde agora morrem no Senhor". Cristo é a medida de todas as coisas. O filósofo grego Protágoras afirmava que "O homem é a medida de todas as coisas". Não é, não. Só Cristo faz a diferença entre o flagelo atingindo o cristão e o amparo e abrigo dos céus. O outro, vive no seu flagelo e na sua dor se não tem Cristo e o Consolador.

A sexta visão: "A destruição do mal" (17-19)
Encontramos na sexta visão outra extraordinária bem-aventurança. Está em 19.9: "Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro". Em outras palavras, e de modo bem contemporâneo, é abençoado quem é chamado para o chá-de-cozinha ou para a recepção do casamento de Jesus e Sua noiva, a Igreja. Sabemos que o "Cordeiro" é Jesus Cristo; "bodas" é festa de casamento. Temos um convite assegurado para a recepção do casamento de Cristo com a Igreja. Em alguns convites de casamento, vem um cartãozinho dizendo que a recepção será no local X, e é exclusiva de quem recebeu o convite individual. A cerimônia de casamento de Jesus e a Igreja, ou seja, Sua Parousia,Segunda Vinda, todos verão. Todos estão convidados. Mas para a recepção, a Ceia, só quem tem nome de Jesus gravado no coração; só quem confessa a Jesus como Salvador e Senhor. E lá estaremos! E os alicerces da fortaleza do Mal serão abalados, derrubados e destruídos. É a queda da Babilônia (representação da malignidade) nos três capítulos citados 17, 18 e 19).

E para terminar: a sétima visão (20-22)
O tema da visão culminante do livro do Apocalipse é "o Juízo e a vitória final". Verificamos que o livro é um crescendo de emoções, de sentimentos, mas, é sobretudo, de conhecimento do Cristo revelado. É como um poema sinfônico, um poema em canção. Começa com música suave, bem leve e vai crescendo cada vez mais e mais, até culminar numa explosão de sons, numa arrebatadora sinfonia! Assim é o Apocalipse: vai crescendo e crescendo, falando de dor, sofrimento e perseguições, para daí a pouco alertar para o julgamento e uma conseqüente prisão, até que, finalmente, chega a esse clima de vitória última! O Apocalipse é um crescendo de emoções, de sentimentos, e, ainda mais, de crescimento na graça e no conhecimento do Cristo que se revelou! Suas promessas desde o capítulo primeiro tiveram cumprimento ao longo de toda a obra.

A glória da Nova Jerusalém, eterna morada de Deus com os Seus faz lembrar o final do Salmo 23: "certamente que a bondade e a misericórdia (cf. Ap 21.4, 5, 7) me seguirão todos os dias da minha vida, e habitarei na casa do Senhor por longos dias (Ap 21.3)". Que abençoada consolação saber que não haverá mais dor, nem morte, nem pranto, nem vestígio de uma lágrima sequer porque estamos com o Senhor em permanente comunhão!

O verso 20 do último capítulo apresenta uma expressão que foi o grito de anseio da Igreja apostólica, como continua a ser a exclamação da Igreja de todos os tempos: "MARANATA!!!" Quando dizemos "Maranata", oramos pedindo a volta de Cristo, pois na língua aramaica, "Vem, Senhor Jesus", significa "Volta, Senhor, para o nosso meio!" A oração está em ordem inversa, pois é precedida por um "Amém!". Esse amém veio antecipado porque representa uma afirmação cheia de fé e de certeza na promessa que Cristo fez: "Certamente cedo venho!" Essa é a graça de Jesus Cristo (leia 22.21), o amor que não merecemos, mas que Ele nos concede e levou-O ao Calvário.

LEITURAS SUGERIDAS
CONYERS, A. J. O Fim do Mundo. SP, Mundo Cristão, 1997. Trad. O. Olivetti.

MCALISTER, R. O Apocalipse - uma interpretação. Rio, Carisma, 1983.

PATE, C. Marvin (Org.). As Interpretações do Apocalipse - 4 pontos de vista. SP, Vida, 2003. Trad. V. Deakins.

SILVA, Mauro Clementino da. Análise Escatológica do Apocalipse de João. Campo Grande, 1994.

Parte III
O APOCALIPSE - Estudo 11
"Eis que vem com as nuvens..."

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@click21.com.br

Um novo padrão de vida
Texto Bíblico: Apocalipse 20.1-10; 21.1-12; 22.1-5

A essa altura, já se tem percebido que as visões vieram num verdadeiro crescendo, e foram dirigidas para a vitória eterna de Jesus Cristo. Tudo o que foi dito no Apocalipse até este ponto vem demonstrar que Cristo tem domínio absoluto deste mundo: Ele é vencedor! O mundo não está à toa. Pelo que vem acontecendo neste mundo, até parece que está ao léu. A Bíblia mostra que Jesus Cristo tem o Seu domínio, e Sua eterna vitória é o tema dos restantes capítulos do livro.

Viemos registrando e anotando os diversos títulos de Jesus Cristo: Ele é "o Alfa e o Ômega", "a Fiel Testemunha", "o Primogênito dos mortos", "o Soberano dos reis da terra", "o que conserva na mão direita as sete estrelas", "o Cordeiro de Deus" e muitos outros que indicativos do Seu poder e senhorio.

O registro agora é o da prisão de Satanás, o Juízo Final e a Nova Jerusalém. É quando o Cristo Vitorioso vai estabelecer para sempre o Seu domínio para sempre e sempre, ou, para fazer uso da linguagem bíblica, "pelos séculos dos séculos".



Aqui se inicia a sétima e última visão do livro. Este capítulo e, sobretudo, o trecho acima destacado, tem sido considerado como objeto de muito debate. No seu verso 3, aparece a palavra central nestas discussões. É milênio, que significa um período de mil anos. A interpretação do que seja o "milênio" tem dado ocasião a que haja muita discussão e muitos artigos e livros sejam escritos por teólogos e pseudoteólogos.

Tem-se falado à larga sobre pré-milenismo, pós-milenismo e amilenismo, palavras técnicas que definem determinadas correntes de pensamento teológico sobre o milênio. O pastor Hercílio Arandas, veterano e experimentado pastor amigo e ex-ovelha, afirmou não discutir se seria pré-milenista, amilenista ou pré-milenista. Disse ele, um tanto jocosa, mas conciliadoramente, que preferia ser "pró-milenista", que dizer, "a favor do milênio". Estes termos não devem ser objeto de preocupação: eles não levam para o céu. Não é ponto de doutrina, pois não há uma doutrina batista sobre a escola milenarista abraçada por alguém. Excelentes e lindas personalidades cristãs, batistas e evangélicos de diversas denominações, santos homens de Deus, devotadas e santas mulheres apóiam as diversas posições. Não é ponto doutrinário, mas teológico.

Em pinceladas muito ligeiras explicamos: o pré-milenista admite que uma vinda de Cristo se dará antes da inauguração do reino que durará mil anos (o milênio), haverá um período de perturbação e finalmente uma terceira vinda de Cristo selará a vitória sobre o mal. Cristo volta, inaugura o milênio. Vamos entender: o pré-milenista acha que quando Cristo voltar antes do milênio (daí pré = antes), inaugura mil anos de paz quando Ele estará na terra reinando. Depois desse prazo, uma grande batalha (a do Armagedon, que se dará no Vale, Har, de Megido Magedon), a vitória de Cristo e o Juízo Final.

O pós-milenista prega que a expansão do evangelho se dará em tal progresso que o milênio se instalará suave e normalmente, após o que Jesus Cristo voltará. O evangelho vai sendo pregado em todo o mundo: na Armênia, na Sibéria, na Oceania, na África, na América Central, etc., e vai tomando conta dos corações fazendo toda a terra entrar no milênio. Só depois dos mil anos, Cristo volta, de onde o nome pós-milênio, "depois dos mil anos".

E o amilenista, prega o quê? Pode parecer que os adeptos da corrente amilenista ensinam que não existe o milênio, o que não é real. O amilenista prega que quando Jesus venceu Satanás na cruz, e mais ainda, na ressurreição, e ascendeu aos céus, o milênio começou. O milênio, convenhamos, é simbólico, porque o reino de Deus já está entre nós. Aliás, o ensino de Jesus é esse mesmo: "O tempo está cumprido, é chegado o reino de Deus. Arrependei-vos e crede no evangelho" (Mc 1.15 VIB). Como pode ser que Cristo já veio, exerceu Seu ministério entre a humanidade, venceu a morte, foi vitorioso sobre Satanás e não instala o reino? Ensinam, então, os amilenistas que o reino de Deus está estabelecido, o milênio, portanto, começou. É, porém, o que teólogos chamam de "já-ainda não", expressão que significa que o reino já chegou, mas ainda não está plenamente estabelecido. Cristo está em nós e nós estamos em Cristo. Já chegou, Cristo está em nosso meio, pois "onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles" (Mt 18.20). E Cristo é o Rei e o reino, o próprio reino de Deus.

Você pergunta, se Cristo está entre nós, o reino já está estabelecido, por que ainda sofremos? Porque se passa fome, e há tanta perseguição? Por causa do ainda não. Estamos numa tensão no ponto em que os dois reinos estão paralelos:

2ª Vinda

Presente século ///////////////////////////

///////////////////////// Reino de Deus >

O "Presente século" (reino do maligno) ainda está em operação, afinal, "o mundo inteiro jaz no Maligno", adverte a 1 Carta de João 5.19b. Um dia, esse reino do mal tem fim: é quando Cristo retornar, permanecendo, eternamente, o reino de Deus. Essa é a pregação amilenista, que entende o "milênio" como um termo simbólico como outros tantos do Apocalipse, para dizer "plenitude, poderio, senhorio, exaltação plena, estabelecimento geral e total sem barreiras, sem reservas".

Entenda-se, portanto: o amilenista compreende que o número 1000 é um número conceitual, visto que 10 é um número de altíssimo valor espiritual, e 1000, com mais propriedade ainda, por ser 10 elevado ao cubo (10³). O milênio culminará no definitivo retorno (a Parusia) para arrebatar a Sua Igreja.

A vitória de Cristo sobre Satanás deu-se em diversos campos: Jesus o venceu na tentação do deserto. Venceu-o, por sinal, três vezes. A primeira tentação foi a da comida fácil e farta.

"Transforma estas pedras em pães..." (Mt 4.3). Bem que Jesus poderia transformado as pedras em brioches, baguetes, pães de seda, pães crioulos, pãezinhos de banquete, ou, mesmo, no simples pão árabe. Mas nada disso fez porque não iria entrar em acordo com Satanás, visto que "nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus" (Dt 8.3; Mt 4.4).

Veio, então, a segunda tentação: Satanás mostra a cidade de Jerusalém do alto do templo de Herodes. A sugestão é que Jesus salte do alto do templo para que os anjos o amparem. Para fundamentar, Satanás usa o Salmo 91.11,12. Com isso, Satanás quer sugerir que Jesus não precisa passar pelo Calvário, pois, com esse espetáculo público, veriam que Ele era o prometido Messias. Jesus também rechaçou Satanás.

É o momento da terceira tentação: do alto do monte, Satanás lhe mostra as cidades que Mateus chamou de "os reinos do mundo". Que cidades Jesus teria visto do monte da tentação? Se o monte foi o hoje denominado "monte da tentação", Ele viu Jericó, que fica bem próximo. Teria visto Jerusalém, Berseba, Betel, Hebrom, Belém. Satanás diz: "eu lhe dou tudo isso, se você me adorar de joelhos" (Mt 4.9). É o supra-sumo do abuso satânico, querer que Jesus o adore?! Jesus o põe no seu lugar ao dizer "Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele servirás" (Mt 4.10).

Satanás foi vencido também no Getsêmani quando Jesus vendo iminente a cruz, a Sua humanidade falou bem alto. Ele, plenamente humano, tanto quanto nós, chegou a uma situação chamada em linguagem médica de hematidrose, em que a pessoa verte sangue pelos poros. A Bíblia registra este fato de tanta angústia que abrigava em Seu coração, e Satanás podia ter aproveitado aquele momento. Jesus até disse, "Pai, se queres afasta de mim este cálice...", "Passe de mim este cálice", diz outra tradução (Lc 22.42). Mas, passar para quem? A missão de Jesus era precisamente ir para a cruz, morrer por nós para que tenhamos a eterna salvação. E Jesus completou o

pedido, "todavia não se faça a minha vontade, mas a tua", e com isso derrotou o Inimigo! Jesus foi vitorioso sobre Satanás na cruz quando parecia estar derrotado, e tudo parecia absolutamente perdido. O que veio salvar o mundo, morreu estupidamente naquela horrorosa cruz como um criminoso qualquer?!... Na cruz, no entanto, Jesus declarou, "Está consumado" (Jô 19.30), ou seja "Nada deixei por fazer; tudo está plena e perfeitamente realizado".

Mas, especialmente, Ele o venceu quando ressuscitou na manhã do primeiro dia da semana, que por isso, se tornou o "Dia [da ressurreição] do Senhor, o "Dia do Senhor", o Dies Dominica, o Domingo!

Foi naquele momento, que o anjo, que tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente, segurou o diabo. Um ex-professor meu do Seminário Batista do Recife, o grande mestre Harald Schaly, dizia que Satanás era um enorme cachorro. Imagine um imenso fila brasileiro. Está amarrado numa corrente muito grande: seu campo de ação é grande. Se alguém entrar onde o cão pode pegar, está perdido. Se ficar fora, não pega. Dr. Schaly dizia que Satanás é esse cachorro amarrado no abismo. É chamado, até, de "a antiga serpente" e "o dragão". Mas o feio e feroz dragão virou lagartixa nas mãos do anjo que o prendeu no abismo por mil anos. O que vemos no mundo hoje, o "já-ainda não", são os urros de uma fera acorrentada, que não têm comparação com o que pode fazer estando solto, como diz o verso 3, "por um pouco de tempo".

Graças Deus, tudo isso vai acabar. É só olhar o que vem depois de Satanás preso pelos mil anos: ele é vencido para sempre (v. 10), vem o juízo final (vv. 11-15), e dá-se a descida da Nova Jerusalém.



Este capítulo traz uma encantadora e fascinante descrição da comunhão entre Cristo e Seu povo.

Esse é o modo apocalíptico de falar de comunhão, e como o povo de Deus e o Senhor estarão entrosados e unidos. É quando o Apóstolo, continuando a última visão, relata a descida da nova Jerusalém, a cidade santa, descendo da parte de Deus, gloriosamente iluminada, enfeitada, bonita, como uma noiva no dia do casamento.

A propósito, há visão mais bonita que uma noiva no dia do seu casamento? Nos dias de casamento, não olho tanto para a noiva, mas, sim, para o noivo. Seus olhos brilham quando vê a noivinha chegando, a face se ilumina. Imagino Jesus Cristo e Sua noiva, a Igreja.

Até agora viemos falando de noiva, agora, porém, ocorre o casamento. Entre os hebreus antigos e os árabes, os orientais de modo mais amplo, a situação é interessante. Primeiro que a festa não dura só uma noite, mas, no mínimo, sete dias. Era uma semana de cama e mesa de graça. No dia do casamento, havia um cortejo formado pelos amigos do noivo que o acompanhavam, e, por outro lado, as companheiras da noiva, com muita música e danças, e outras expressões festivas (cf. Mt 25.1ss). É o que está retratado aqui: a nova Jerusalém vai chegar "adereçada como uma noiva ataviada para o seu noivo".

Estamos, então, chegando ao ponto culminante da história humana: o Mal vencido e o Bem se estabelecendo de uma vez por todas. Na verdade, a história fez um círculo completo. Com permissão dos professores de história e de filosofia, a história não é tão linear como parece, mas circular, por isso, faz uma volta completa para o tempo inicial de antes do pecado dos primeiros pais. Volta para o tempo quando tudo era pacífico, calmo, sereno, tranqüilo, sem malícia, e Deus visitava os habitantes do jardim primitivo na "viração do dia"; quando ainda não havia chegado a noite, porém não existia mais o calor e a luz do dia. Era quando havia intensa e profunda comunhão.

João ouviu uma voz que proclamava que o tabernáculo (a tenda, a cabana, a casa, a habitação) de Deus estava sendo armado no meio das habitações dos seres humanos (21.3, cf. João 1.14). E essa comunhão perfeita de Deus conosco, baseada na misericórdia e favor divinos para com os homens e mulheres, afastando, como afasta, todo sinal de tristeza, de dor e sofrimento, porque tudo isso faz parte da antiga vida, não da vida em Cristo. Agora, porque estamos em Cristo, "as velhas coisas já passaram, e tudo se fez novo" (2Co 5.17). A palavra do que está no trono é, por sinal, essa mesmo: "Eis que faço novas todas as coisas" (v. 5).

De agora em diante, não há mais cabimento em falar do Mal. O centro da visão é o Cristo exaltado no Seu trono, é Seu senhorio sobre todas as coisas, Sua autoridade e poder nos céus e na terra, Seu consolo e comunhão com Seu povo.

A nova Jerusalém (Ap 21.9-22.5)

O Bem é o Bem, mas o Mal é o travesti do Bem, parece o Bem, mas não o é. A Igreja é a noiva de Cristo; a Grande Prostituta é a noiva do Anticristo. De um lado, está a Nova Jerusalém, a cidade santa; do outro, Babilônia, a cidade da corrupção, pecado e blasfêmias. Outro paralelo é, do lado do mal, os cavalos branco, vermelho, amarelo e preto, seus cavaleiros e todo o catálogo de maldades, flagelos e desgraças; e da parte do Senhor, toda a consolação, as bênçãos e a Sua graça e misericórdia.

Há uma curiosa arquitetura na Nova Jerusalém. Uma alta muralha com 12 portas com os nomes das tribos de Israel, guardada cada uma por um anjo. 12 eram os fundamentos da muralha e sobre eles os nomes dos 12 apóstolos. Isso significa que a Igreja de Cristo está fundada sobre a pregação dos profetas, sobre o povo da Antiga Aliança, sobre os apóstolos e sua pregação, e o povo de Deus da Nova Aliança.

A cidade é quadrangular, sendo que o comprimento, altura e largura são iguais, ou seja, um cubo como o Lugar Santíssimo descrito em 1Reis 6.20. E vem a descrição dos metais e pedras preciosas: de jaspe, a estrutura; de ouro puro, a cidade. Cada fundamento tem uma pedra preciosa; as portas são pérolas; de ouro puro é a praça da cidade. Mas não havia necessidade de construir um santuário, porque o El Shadday (Deus Todo-poderoso) e o Cristo são o próprio santuário desta cidade tão magnificente.

A iluminação não é fornecida pela COELBA, CELPE, ESCELSA, CEMIG ou pela Light mas sim pela própria kavod (glória) e pelo Cordeiro de Deus. O abastecimento de água não é da EMBASA, COMPESA ou companhia de abastecimento, mas pelo rio da água da vida.

Pois é; o círculo está se fechando, porque tudo o que havia no relato inicial da história teológica da humanidade voltou. É realmente encantador o relato do que nos aguarda! Toda essa linguagem simbólica existe porque as palavras humanas são fracas demais para descrever a beleza da santidade de Deus e o novo padrão de vida que nos aguarda! Por essa razão, o livro termina com um convite: "E o Espírito e a noiva dizem: Vem. E quem ouve, diga: Vem. E quem tem sede, venha, e quem quiser, receba de graça a água da vida" (22.17), porque essa descrição encantadora não pode ficar fechada, mas tem que ser divulgada, exposta, aberta, colocada diante à disposição de todos, e a Igreja tinha uma palavra de ordem: Maranata! (v. 20b). Ela quer dizer, "Vem, Senhor; volta, Senhor!" E você pode, igualmente, dizer isso: "Vem, Senhor Jesus, para a minha vida! Toma-me e usa-me!".

Parte IV

O APOCALIPSE - Estudo 10
"Eis que vem com as nuvens..."

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@uol.com.br

A Vitória do Bem
Texto Bíblico: Apocalipse 17.1-7; 18.1-5; 19.1-9

A ênfase do livro do Apocalipse não é outra senão a vitória do Bem! Não esqueçamos que João, o Vidente, tendo registrado a revelação de Jesus Cristo, estava levando o conforto e a esperança de Sua mensagem às sete igrejas da Ásia, as quais representam toda a Igreja Militante e perseguida de todos os tempos e em todos os lugares. É uma mensagem para os cristãos caçados, aprisionados e vitimados pelo Império Romano, e para a chamada Igreja Subterrânea na China comunista, é para a Igreja de Cristo em certos países muçulmanos onde a fé cristã é igualmente hostilizada, e precisa desta mensagem de conforto.

Esta sexta visão, a da mulher montada numa besta, traz uma colorida e real descrição do sistema ímpio que domina o mundo. Isso ocorreu no passado, mas ocorre igualmente nos dias de hoje. Todo o sistema governamental ímpio, maligno, recebe o nome simbólico de Babilônia, nome do antigo império que governou o Oriente Médio. Era o Primeiro Mundo da época, era quem dominava política e financeiramente o mundo antigo. Foi a Babilônia que tornou Israel submisso, destruiu Jerusalém e levou seu povo em cativeiro (587/586 a.C.), onde permaneceu por 70 anos.

Surgiram na Babilônia alguns fatos interessantes e relevantes. O primeiro deles é o enorme senso de dependência de Deus. Já não havia o Beth haMikdash, o Templo; não mais havia sacrifícios, razão porque tiveram os exilados que realizar algo novo. Diante de uma situação inusitada, pode-se tomar uma de duas soluções: ou algo novo é criado ou a pessoa se adapta à situação. Foi o que aconteceu com os judeus na Babilônia. Lá foi criada a sinagoga (Beth haSefer), já que não havia Templo, cuja função era a da realização de sacrifícios. Só isso.

Assim, passaram a estudar básica e sistematicamente a Torah. Só como referência presente, as terras da antiga Babilônia hoje são o Iraque e seu entorno.

Que fique na mente o nome destas duas cidades: Babilônia e Jerusalém: são importantes para o restante do nosso estudo. Babilônia, no código do Apocalipse, é a representação do mal, do pecado, da imoralidade, de tudo o que afasta de Deus; Jerusalém, por outro lado, é o símbolo do bem, da vida pura, de tudo o que traz para mais perto do Criador. Lembrando esse fato, dá para entender porque Babilônia, por si, símbolo de tudo o que não presta, é no capítulo 17, a "Grande Prostituta".

A Grande Prostituta (Ap 17.1-7)

Na abertura do capítulo 12, apareceu uma mulher. Estava gloriosamente vestida de Sol, pisava no tapete que era a Lua, e portava uma coroa de 12 estrelas. Essa mulher é a Igreja de Cristo.

Neste capítulo 17, aparece outra mulher. Está sentada sobre muitas águas. Não esqueçamos que "mar, muitas águas" é símbolo de nações. E essa mulher devassa, aqui chamada de "a grande prostituta", faz das nações o seu tapete, o que, aliás, está dito no verso 15, "Então o anjo me disse: As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, multidões, línguas e nações." Enquanto a Igreja de Jesus Cristo é descrita como em glória, vestida de Sol, pisando a Lua e com uma coroa de 12 estrelas (tudo para dizer que ela é "gloriosa, sem mácula nem ruga nem coisa semelhante", cf. Ef 5. 27), neste capítulo , João fala de devassidão. Ela há de ser julgada por prostituição, falta de caráter.

O anjo transporta em espírito o apóstolo João até um deserto. Nele, é encontrada a referida mulher montada numa besta de cor vermelha. Esse monstro se caracterizava por ter 7 cabeças e 10 chifres, e estava carregado de blasfêmias. A roupa da mulher era de púrpura e escarlata (tecidos tingidos de finíssima qualidade, de grife, diríamos hoje), e estava enfeitada com jóias de ouro, de pérolas e pedras preciosas. Na sua mão, um cálice de ouro que continha toda a corrupção e sujeira próprias da sua vida devassa e desavergonhada.

Havia um nome escrito na sua testa:

"BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA".

Uma observação é que todas as personagens destes últimos contextos têm algo escrito na testa. Todos têm um "crachá", o cartão de visita:

os salvos têm o nome do Cordeiro que lhes trouxe o perdão e salvação;

os ímpios têm o número 666, a marca da besta;

e a prostituta, Babilônia, a mãe de todas as corrupções.

A essa altura, a mulher apresenta-se embriagada com o sangue dos mártires. Tantos irmãos nossos foram mortos na Igreja Apostólica porque foram perseguidos, acuados, violentados, jogados às feras, enfim, martirizados de mil maneiras, e aqui está Babilônia, a grande prostituta completamente bêbada, entorpecida, intoxicada. João a olha com admiração e espanto, ao que o anjo lhe assegura que irá proclamar todo o mistério daquela mulher e do monstro que lhe serve de montaria.

Não é difícil entender que João, fazendo menção da Babilônia, está, na realidade, referindo-se à cidade de Roma. Roma é a capital do império do mesmo nome, e feroz perseguidora dos crentes em Jesus Cristo. Os crentes quando leram, entenderam que o Vidente falava do Império Romano e não da Babilônia política e física. Há evidências que elucidam isso. O verso 9 diz que "as sete cabeças são os sete montes, nos quais a mulher está sentada". Roma está edificada sobre 7 colinas. Precisa dizer mais?

A verdade é que estamos rodeados pela influência e práticas da Babilônia apocalíptica.
Onde há mentira, idolatria, imoralidade, corrupção, deslealdade, traição, aí se manifesta o espírito da chamada "Grande Prostituta". Essa tendência é encontrada nas casas dos pobres e nas casas dos ricos, nas escolas, nas bocas-de-fumo, no ambiente político, no meio financeiro, no morro, no meio dos traficantes, nos chamados "bairros nobres" e nas "invasões", nas grandes avenidas, nas praças e, até, ...nas igrejas. O espírito da ganância, de ganhar por ganhar, de explorar o outro, de aproveitar-se da simplicidade de algumas pessoas é típico desta influência.

A queda da Babilônia é anunciada (Ap 18.1-5)

João afirma que, na visão, um anjo desceu do céu revestido de autoridade, o que fez a terra se iluminar com a decorrente glória. Este anjo exclama com forte voz: "Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios..." (v. 2ss.) E no contexto do alerta sobre a queda da Grande Prostituta, outra voz foi ouvida do céu, ordenando que o povo que se chama pelo Nome do Senhor se retirasse da cidade para que não fosse tido por cúmplice nas coisas erradas, nem sofresse inocentemente com os flagelos (morte, lamentações, fome e incêndios) que cairiam sobre ela, como realmente, mais adiante, Roma caiu fragorosamente, e a Roma de hoje não é sequer um décimo da Roma do passado.

Quem diria que os antigos impérios do Oriente seriam reduzidos a cinzas? Do Egito dos faraós, o que resta são ruínas e lembranças. Quando se vai do Cairo a Giza (Gizé) pela estrada que bordeja os canais do rio Nilo, ao se chegar à região das pirâmides, o que se vê é algo deslumbrante. As três grandes pirâmides (Quéops, Quefrem e Miquerinos) são extraordinariamente magníficas. A Grande Pirâmide tem altura superior a uns 8 de nosso templo. Para quê? Só para abrigar o corpo mumificado de um homem, e as riquezas de que precisaria na vida além, de acordo com sua teologia. Tudo foi roubado e levado para museus da Europa.

Que desprestígio para reis tão poderosos como os faraós cujas múmias foram contrabandeadas e na identificação das caixas estava escrito "BACALHAU". Assim terminou a glória desses impérios. O Egito moderno não representa a potência de Primeiro Mundo que era o Egito antigo. Lembranças e pó.

Da Babilônia dos jardins suspensos (uma das sete maravilhas do mundo antigo), só encontramos igualmente pedras e pó. A Roma Imperial, a Roma dos Césares e das injustiças, caducou, foi esmagada pelas invasões bárbaras. O que sobrou da Roma Antiga é só para turista matar a curiosidade. Tudo, entretanto, já havia sido antecipado nas profecias, como neste capítulo 18 do livro do Apocalipse.

Esta profecia coloca dentro do mesmo processo de julgamento "todas as nações", "os reis da terra" e "os mercadores da terra". Quer dizer, todos os que favoreceram e se favoreceram da Grande Prostituta são culpados e serão submetidos a rigoroso julgamento. Com essas referências, percebemos que haverá um julgamento especial para os que se aproveitaram do poder político e do poder econômico para empobrecer e prejudicar os outros, coisa de que todos os dias os jornais dão notícia, "E, contemplando a fumaça do seu incêndio, clamavam: Que cidade é semelhante a esta grande cidade?" (v. 18). A nossa o é.

O julgamento não se fez esperar, pois "em uma só hora, foi devastada..." (leia os versos 16-19). Com Deus não se brinca, ou como ensina a Santa Palavra, "De Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará" (Gl 6.7).

Alegria no céu! (Ap 19.1-9)

É o tema do capítulo 19. Os cânticos de louvor são dominantes ao longo de todo o relato.
Os grupos corais são formados por "uma numerosa multidão" (vv. 1-3, 6-8) e pelos "vinte e quatro anciãos e os quatro seres viventes" (v. 4). Houve também um solista anônimo (v. 5).
Nessa altura, o anjo profere uma expressão de bem-aventurança dos que são convidados a participar da festa de casamento do Cordeiro (Cristo) e de Sua noiva (a Igreja). João, de tão impressionado e grato pela bênção desse culto de ação de graças, ajoelha-se para adorar o anjo, que recusa a homenagem e aponta para Deus, o único que merece o nosso culto e louvor. "Olha, não faças isso! Sou conservo teu e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus!", diz ele (v. 10).

Quando, finalmente, a Babilônia cair, a Igreja de Cristo vai se alegrar porque não faz parte do seu maléfico, deletério e pecaminoso sistema. A derrota de Satanás é um legítimo motivo de satisfação, alegria e louvor a Deus.

Entendamos que esse é o modo como a comunhão perfeita com Jesus Cristo se dará de fato. E se o cântico em 19.1 não deixa dúvidas sobre a salvação, o poderio, a glória e o senhorio serem de Cristo Jesus, então Deus tem todo o direito de julgar os Seus opositores e blasfemadores. É verdade que os césares (imperadores romanos) haviam exigido dos seus súditos reverência, culto e fidelidade porque a palavra de ordem era "César é o senhor!". No entanto, atendendo a uma visão e chamada eternas, a lealdade, a adoração e o profundo respeito eram prestados pelos cristãos a Jesus Cristo, e elevavam a palavra de ordem, de louvor, e de adoração, "Jesus Cristo é o Senhor!"

Pois é: "Caiu! Caiu a grande Babilônia...!" (18.2b)E dela não se ouve mais, porque "a sua fumaça sobe pelos séculos dos séculos" (19.3b).

Parte V
O APOCALIPSE - Estudo 9
"O significado das sete taças"

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@uol.com.br

Texto Bíblico: Apocalipse 15.5-8; 16.1-19

Uma nova perspectiva será abordada nesta reflexão: são sete taças da ira de Deus, cujos conteúdos são flagelos, pragas. João viu, no céu aberto, o santuário do tabernáculo do Testemunho (15.5), de onde saíram sete anjos portando taças com os mencionados flagelos (v. 6a).

Nesse ponto, um dos quatro seres viventes de Ap 4.7 deu aos anjos taças de ouro que continham a cólera divina. O versículo diz que "O primeiro ser parecia um leão, o segundo parecia um boi, o terceiro tinha rosto como de homem, o quarto parecia uma águia em vôo" (NVI). Um deles deu aos 7 anjos taças de ouro contendo a cólera divina. Encheu-se o santuário de uma espessa cortina de fumaça que provinha da glória de Deus.

A Glória de Deus tanto no Antigo quanto no Novo Testamento apresenta manifestações variadas. A Glória de Deus tem nome. Diz-se em hebraico, Kavod (dbk); em grego é Doxa (doxa). Tanto a Kavod, a Glória Divina, contendo a Shekinah, a Presença Gloriosa de Deus, quanto a Doxa são igualmente essas manifestações da Presença, da Glória, da Majestade e da Soberania de Deus, apresentando em ocasiões diversas modos diferentes de manifestação. A Moisés, a Glória divina apresentou-se num arbusto que pegava fogo, mas não se consumia (cf. Ex 31-5); ao povo de Israel conduzindo-o à noite no deserto, numa coluna de fogo; durante o dia nesse mesmo deserto, numa coluna de nuvens (cf. Ex 13.21); Isaías, no templo, apresentou-se como "a aba de sua veste [que] enchia o templo" (Is 6.1). Não esqueçamos, é uma visão, e a fumaça do incensário fez Isaías percebeê-la como o manto do Senhor no alto e sublime trono. Neste capítulo do Apocalipse, temos o mesmo, porém como uma espessa cortina de fumaça que vem da Glória divina.

Enquanto os sete flagelos não fossem cumpridos, ninguém poderia penetrar no santuário. Isso retrata que já estamos chegando ao Juízo Final. Tenhamos, portanto, na mente, que a ênfase destes capítulos é que o julgamento é uma obra de Deus.

Primeira fase dos flagelos (Ap 16.1-9)

O primeiro flagelo (vv. 1, 2)
"Então ouvi uma forte voz que vinha do santuário e dizia aos sete anjos: 'Vão derramar sobre a terra as sete taças da ira de Deus". O primeiro anjo foi e derramou a sua taça pela terra, e abriram-se feridas malignas e dolorosas naqueles que tinham a marca da besta e adoravam a sua imagem."

A primeira taça é vertida na terra pelo anjo que a portava. O flagelo nela contido atingiu as pessoas marcadas pela besta (cf. 13.16, 17), de modo que foram cobertas por chagas, feridas, machucões terrivelmente dolorosos e úlceras malignas.

Esta praga e as três que a seguem atingem a todos de um modo geral, por serem um ataque ao mundo natural, o mundo dos seres humanos. Jesus está dizendo à Sua Igreja que Deus, Justo Juiz, está fazendo justiça por conta das perseguições que a Igreja sofre.

Recordemos as tremendas perseguições. Havia perseguição de fora, promovida pelo Império Romano, quando os crentes eram perseguidos só pelo fato de colocarem sua fé em Jesus Cristo, e afirmarem o Seu Senhorio. Num ambiente em que não se admitia esse tipo de pronunciamento, dizer que "Jesus é o Senhor" era um crime de lesa-majestade, de lesa-estado, até, porque o imperador, o César Augusto (Cæsar é o título, Augustus porque era considerado "supremo, magnífico, exaltado") era reconhecido como um verdadeiro deus. E assim desejava ser dignificado como "O Senhor", "Kaisar Kyrios!!!" ("César é o Senhor!!!") exclamavam seus súditos e adoradores. Os cristãos, porém, reconhecendo o Senhorio de Cristo, afirmavam, "Iesous Kyrios!!!" Não! "Jesus é o Senhor!!!" sendo impossível dividir a adoração.

Havia, com certeza uma grande caçada aos crentes. Todos temos ouvido e lido sobre os mártires dos primeiros momentos do Cristianismo. A Outra Igreja tem transformado esses mártires em pessoas tão especiais que estão muito acima de quaisquer outras, e criam, deste modo, erros doutrinários e de práxis. São colocadas imagens supostamente buscando figurá-las em nichos e altares, dias são dedicados a esses mártires, que são muito mais irmãos dos cristãos evangélicos na fé pura e inabalável em Cristo que de outros que se dizendo cristãos, acrescentam à crendice e supertição que chamam fé (tão diferente da emunah, a fé, bíblica) outras coisas que a Escritura Sagrada não privilegia.

O que agora estamos vendo é que os sofrimentos destes crentes estão sendo vingados, pois a ira de Deus cai pesadamente sobre os que fazem a Igreja de Jesus Cristo sofrer. Na verdade, o ensino da Escritura Sagrada é que a vingança não é nossa: pertence a Deus (Rm 12.19). Nossa é a esperança nEle. Como diz a Santa Palavra no Salmo 146.5: "Como é feliz aquele cujo auxílio é o Deus de Jacó, cuja esperança está no Senhor, no seu Deus".

O segundo flagelo (v. 3)

"O segundo anjo derramou a sua taça no mar, e este se transformou em sangue como de um morto, e morreu toda criatura que está no mar."

Águas se transformando em sangue: já vimos esse filme. No Egito, pouco antes do êxodo hebreu, as águas se tornaram sangue. Também este flagelo atinge a natureza, e, por extensão, as pessoas e suas circunstâncias. Imagine não poder abrir uma torneira porque a água sai em forma de sangue, nem tirar água de um poço, nem ir a um rio, riacho, lago, colher um pouco de água fresca na fonte por causa do sangue, não tomar um gostoso banho em nossas lindas praias porque está tudo poluído e impuro... O segundo anjo derrama sua taça no mar, que se tornou sangue e morreram peixes, moluscos e animais que o habitam. O simbolismo das águas que se tornam sangue é altamente sugestivo para aquelas igrejas da Ásia Menor (Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia, Laodicéia). Os seus perseguidores derramavam o sangue dos fiéis: agora, estão experimentando o mesmo. Está bem esclarecido isso no versículo 6, que menciona o próximo e semelhante flagelo: "pois eles derramaram o sangue dos teus santos e dos teus profetas, e tu lhes destes sangue para beber, como eles merecem".

O terceiro flagelo (vv. 4-7)

"O terceiro anjo derramou a sua taça nos rios e nas fontes, e eles se transformaram em sangue. Então ouvi o anjo que tem autoridade sobre as águas dizer: 'Tu és justo, tu, o Santo, que és e que eras, porque julgaste estas coisas; pois eles derramaram o sangue dos teus santos e dos teus profetas, e tu lhes deste sangue para beber, como eles merecem'. E ouvi o altar responder: 'Sim, Senhor Deus todo-poderoso, verdadeiros e justos são os teus juízos".

Derramada a terceira taça nos rios e mananciais, tornaram-se eles em sangue. É uma extensão da segunda taça, examinada acima. E o anjo proclama a justiça divina que não deixa impune a injustiça humana. Mais uma vez, a natureza é atacada pelo flagelo.

O quarto flagelo (vv. 8, 9)

"O quarto anjo derramou a sua taça no sol, e foi dado poder ao sol para queimar os homens com fogo. Estes foram queimados pelo forte calor e amaldiçoaram o nome de Deus, que tem domínio sobre estas pragas; contudo, recusaram arrepender-se e glorificá-lo".

Nunca vi tanto calor quanto neste janeiro passado. E para o ano vai ser pior. Parece que o Sol verão a verão fica mais quente?! Na sociedade urbana em que vivemos, cada ano mais ruas são asfaltadas e prédios são levantados. A absorção de calor pelo asfalto e pelo concreto é algo incrível, e essa quentura é jogado em cima de todos.

Imagine, então, essa taça da ira de Deus jogada no Sol. Deus na Sua infinita sabedoria, colocou cada planeta no seu lugar, cada estrela na sua posição. O Sol não pode ficar mais distante porque morreríamos de frio, nem mais perto, ou seríamos esturricados.

Mas imagine Deus colocando o Seu dedo, ou melhor, Sua taça de ira em nossa estrela, o que fez aumentar seu poder de gerar calor: combustível em cima do Sol. Os seres humanos atingidos blasfemaram contra o Criador, em lugar de suplicar piedade, misericórdia, permanecendo, deste modo, impenitentes!

Um modo de martírio muito freqüente na época da Igreja primitiva era a fogueira. Quantos crentes, irmãos nossos foram para a fogueira unicamente pelo privilégio e a bênção de se considerarem pessoas salvas no sangue e no Nome de nosso Senhor Jesus Cristo. E agora temos o Sol como uma verdadeira fogueira em cima dos seus carrascos. Com o aumento da intensidade do calor do Sol, os opressores dos cristãos receberiam em si mesmos idêntico suplício.

Segunda fase dos flagelos (Ap 16.10-21)

O quinto flagelo (vv. 10, 11)

"O quinto anjo derramou a sua taça sobre o trono da besta, cujo reino ficou em trevas. De tanta agonia, os homens mordiam a própria língua, e blasfemavam contra o Deus dos céus, por causa das suas dores e das suas feridas; contudo, recusaram arrepender-se das obras que haviam praticado".

As pragas a partir de agora mudam de alvo. Como é possível alguém passar por tudo isso e não se arrepender?! Passar por tudo o que acima foi experimentado e não glorificar o nome do Senhor, e pedir misericórdia e piedade do Senhor? Com certeza, as pragas têm outro alvo. Em vez do mundo natural, é o mundo político que as recebe.

Este primeiro flagelo da segunda fase foi derramado sobre o trono da besta, sendo que seu reino ficou tomado por trevas. Os homens foram atingidos por úlceras e, por causa da intensa dor, até mordiam a própria língua. Quando se morde a língua involuntariamente já é doloroso, imagine mordê-la porque a ira divina está sobre alguém... Essa língua mordida que podia proclamar o Nome do Senhor e dar glórias a Deus, louvar ao Senhor, passou a pronunciar palavrões, blasfêmias, clamando e reclamando contra o Criador.

O sexto flagelo (vv. 12-16)

"O sexto anjo derramou a sua taça sobre o grande rio Eufrates, e secaram-se as suas águas para que fosse preparado o caminho para os reis que vêm do Oriente. Então vi saírem da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs.

São espíritos de demônios que realizam sinais miraculosos; eles vão aos reis de todo o mundo, a fim de reuni-los para a batalha do grande dia do Deus todo-poderoso. 'Eis que venho como ladrão! Feliz aquele que permanece vigilante e conserva consigo as suas vestes, para que não ande nu e não seja vista a sua vergonha.' Então os três espíritos os reuniram no lugar que, em hebraico, é chamado Armagedon".

O alvo da sexta taça foi o rio Eufrates (o que passa em Bagdá, no Iraque e é despejado no Golfo Pérsico). Quando jogada a taça naquele grande rio, ele secou. Isso de seca, já conhecemos igualmente. Muitos rios, no nosso sertão, ficam completamente secos na época de estiagem. Mas quando vêm as primeiras chuvas, eles enchem, e o impressionante é que há vida nesses rios, pois em pouco tempo já estão pululando com peixinhos, camarões, e reverdecem as suas margens. A caatinga, então, parece um mar com a sua folhagem verde...

No Oriente Próximo isso de rio seco é história já contada. O rio seco recebe o nome árabe de uadi (wadi), e ocorre neles o mesmo fenômeno conhecido no sertão: às primeiras chuvas, enchem-se de água. Jesus contou uma história onde falava de um desses uadis, a parábola dos dois alicerces (cf. Mt 7.24-27). O Vidente João fala do rio Eufrates, um grande rio que se tornou um uadi, para que desse o preparo para os reis que vêm do Nascente (v. 12).

João presenciou uma coisa horrorosa: saíram das bocas do Dragão, da Besta e do Falso Profeta espíritos imundos que se pareciam com rãs. E como na falsa religião, como vimos anteriormente, tudo é uma paródia do evangelho de Jesus Cristo, há uma maligna e horrorosa trindade. Falamos em Pai, Filho e Espírito Santo com vistas às relações essenciais da Santíssima Trindade, mas agora temos a infernal e Maligníssima Trindade formada pelo Dragão, a Besta e o Falso Profeta.

Nesta nova praga política, quando a besta se vê acuada, envia representantes seus para reunirem os que por ela foram seduzidos e estão desorientados. Deste modo, a Trindade Maligna vai agir diretamente sobre os que têm poder sobre as nações, os chefes de governo dando-lhes autoridade e poder para a realização de suas más obras.

O sétimo flagelo (Ap 16.17-21)

"O sétimo anjo derramou a sua taça no ar, e do santuário saiu uma forte voz que vinha do trono, dizendo: 'Está feito!' Houve, então, relâmpagos, vozes, trovões e um forte terremoto.

Nunca havia ocorrido um terremoto tão forte como esse desde que o homem existe sobre a terra. A grande cidade foi dividida em três partes, e as cidades das nações se desmoronaram. Deus lembrou-se da grande Babilônia e lhe deu o cálice do vinho do furor da sua ira. Todas as ilhas fugiram, e as montanhas desapareceram. Caíram sobre os homens, vindas do céu, enormes pedras de granizo, de cerca de trinta e cinco quilos cada; eles blasfemaram contra Deus por causa do granizo, pois a praga foi terrível".

Como os últimos flagelos, também este ataca o mundo político, mas é espalhado pelo ar. Surgem fenômenos atmosféricos como relâmpagos, trovões e pedras de gelo, e, ainda, um tremendíssimo terremoto, que fez a grande cidade se dividir em três partes. Babilônia era o país, mas era, também, o nome da metrópole que se dividiu, o que aumentar o horror da cena. Por conta disso, as ilhas fugiram e os montes não mais foram encontrados. Já imaginou o leitor se, de repente, a Ilha de Itaparica, a Ilha da Maré, a da Madre de Deus e as outras desaparecessem de nossa Baía de Todos os Santos? Foi o que aconteceu. Os montes, as colinas, os outeiros sumiram do mapa, tal foi o horror momento.

Em algumas traduções do Apocalipse está dito que cada pedra de gelo pesava um talento. São 35kg. Tem havido chuva de granizo em alguns lugares. São pedras até pequenas, mas fazem grande destruição: ferem pessoas, fazem mossas em automóveis. São diminutas, mas a força da queda é tão grande que elas causam desastres. Imagine uma pedra de 35kg caindo sobre alguém...

Chama a nossa atenção a expressão "está feito" encontrada no versículo 17. Esse "está feito!" pode ser colocada em paralelo com o "Está consumado!" de João 19.30, quando Jesus recebeu o gole de vinagre. "Acabou! Chegou ao fim! A obra está realizada!", é o que está sendo dito.

Essa é a grande mensagem do Apocalipse. Essa lição não pode sair de nossa mente, e quando ligamos a questão da obra consumada, do que tem acontecido, do que vai acontecer, do que Deus nos alerta, sem dúvida, é o momento de uma reflexão séria e profunda sobre nós mesmos e nossa circunstância de vida.

Parte VI
O APOCALIPSE - Estudo 8
"Eis que vem com as nuvens..."

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@click21.com.br

Contra as forças do mal
Texto Bíblico: Apocalipse 12.1-8; 13.1-18

O centro de tudo continua a ser a Igreja de Jesus Cristo, suas lutas tanto internas quanto externas, as perseguições que sofre, e a segurança de uma vitória que é certa. O livro nos fala sobre luta e vitória. Derrota nunca, mas vitória assegurada! Nesta próxima visão, o conflito entre o Bem e o Mal não cessou e nem vai cessar. Ele continua, mas será retratado com novos símbolos. Surgem o dragão e duas bestas: a que vem do mar e a que vem da terra. Por essa razão, precisamos entender os códigos envolvidos.

A mulher e o dragão (Ap 12.1-8)

Aqui está uma mulher vestida de glória. Como faltassem ao autor palavras humanas adequadas para descrever o magnífico momento que testemunhava, ou que pudessem retratar a belíssima visão que estava presenciava, teve de fazê-lo deste colorido modo: uma mulher "vestida de glória"; seu vestido é o Sol, o tapete é a Lua, e sua coroa, 12 estrelas. Que visão magnífica... Tanto era o brilho que ele disse "ela estava vestida de sol". Que extraordinária, linda, magnífica visão diante do Vidente João.

Mas ela se encontra em crise, porque em processo de dar à luz a uma criança, e sofre. Conhecemos senhoras que deram à luz um bebê de modo absolutamente natural, e sem qualquer sofrimento. Mas temos ouvido de processos dolorosos e críticos. Esta mulher da visão apocalíptica é a Igreja de Jesus Cristo, que no ensino da Bíblia Sagrada é uma só, seja na Antiga Aliança ou na Nova Aliança: e a Igreja dos salvos na fé. Para uns, no Cristo que viria; para outros, no Cristo que já veio. Afinal, Abraão, pai dos israelitas, é chamado na Escritura de "pai dos que crêem" (Rm 4.11). A rigor, só existe um povo escolhido por Deus, uma raça eleita e um sacerdócio real. O Israel da Antiga Aliança prefigura o Israel da Nova Aliança, que é a Igreja de Cristo, Sua noiva aguardando o retorno do noivo conforme o ensino dos apóstolos (cf. 2Co 11.2; Ef 5.25-27; Ap 21.2)

Este povo, chamado de Israel de Deus, o remanescente fiel (veja Rm 9.27; 11.5), a Igreja de Cristo, tem sido alvo de desprezo, de escárnio, de perseguição como tem acontecido ao longo destes séculos. Mas isso só quando vislumbrado com os olhos humanos. Visto, porém , com o sentimento de Jesus Cristo, é a Sua Igreja, Sua noiva, tão cheia de glória que merece ser descrita como "mulher vestida de sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça" (Ap 12.1)

O menino que há de nascer mencionado no verso 5 é, segundo muitos especialistas no Apocalipse, o Cristo. Não se preocupe com o pensamento lógico ou fora da lógica da literatura apocalíptica. Pois, se acima está dito que a Igreja é a esposa de Cristo, agora ensina o Apocalipse que a criança prestes a nascer é Ele próprio. Mas não deveria ser o contrário? A linguagem oriental, e mais ainda, a linguagem simbólica, emblemática deste tipo especial de literatura nem sempre segue as regras, normas e padrões do pensamento ocidental, grego, a que estamos acostumados. A lógica da Revelação é toda outra. O próprio Senhor Jesus Cristo o demonstrou quando ao longo do Seu ensino declarou que quem sempre quer ganhar, termina por perder (Mt 19.29). Quem não se importa de tudo abandonar pelo amor de Jesus, recebe o reino e o restante. Alguém quer ganhar, ganhar, ser o exclusivo, resulta por ser o último, porque a palavra profética de Jesus Cristo diz que "muitos dos primeiros serão últimos, e muitos dos últimos, primeiros" (Mt 19.30). Porém, se alguém se colocar numa posição de submissão, de humildade, há de ser elevado, porque a lógica do evangelho é extremamente diferente da filosófica. No Apocalipse, também. É o Cristo que há de nascer pela pregação da Igreja no coração de tanta gente. O fato é que esta criança "há de reger todas as nações com cetro de ferro", expressão que aparece no Salmo 2.9.

E o dragão? (Ap 12.4, 5)

É descrito como gigantesco, vermelho, com 7 cabeças que portam diademas, 10 chifres, e cuja poderosa cauda, golpeando, arrastava um terço das estrelas, que eram jogadas à terra. Estava postado em frente da mulher, apenas aguardando que a criança nascesse para devorá-la. Ao ser dado à luz o menino, foi este imediatamente arrebatado para o trono de Deus, sendo que a mulher, fugindo para o deserto, encontrou um lugar preparado por Deus onde ficaria num período de espera.

Um pouco abaixo, no versículo 9, está identificado o dragão. É "a antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo". Já é velho conhecido, portanto... O texto vai adiante: "foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos". Quer dizer, o que fizera com as estrelas jogando-as para a terra, aconteceu-lhe. O grande dragão, a velha serpente, virou lagartixa nas mãos das tropas celestiais liderandas por Miguel, que tem a patente de arcanjo, e cujo nome, só ele, já fala de vitória (Miguel em hebraico significa "Quem pode ser comparado a Deus? Quem é como Deus").

A figura apresentada tem muita força. Diz o versículo 3 que era "grande, vermelho, com sete cabeças, dez chifres e, nas cabeças, sete diademas". 7 cabeças coroadas significam o poderio universal de Satanás (leia Ef 2.2; 6.12; Ap 17.9); 10 é número de plenitude, chifre é autoridade (cf. Ap 17.12; Zc 1.18, 19), diadema (ou coroa) é, igualmente, símbolo de autoridade.

Dá para entender a tremenda influência satânica atuando nos governos, nos palácios, nas administrações, nos Senados, nas Câmaras, na política, enfim, na obra deletéria, perversa, malvada, maligna de destruir os fundamentos e a beleza da obra de Deus, e, sobretudo, de derrubar e derrotar o Seu povo.

Mas não vence, não. Ele próprio é derrubado, derrotado e ouve a proclamação dos céus: "Agora, veio a salvação, o poder, o reino do nosso Deus e a autoridade do seu Cristo... festejai, ó céus... " (cf. Ap 12.10-12). Perceberam porque Satanás faz um ataque tão violento ao povo de Deus?

A besta que vem do mar (Ap 13.1-10)

Todo o capítulo 13 é sobre esta besta. De onde vem esta palavra? Vem da língua latina (bestia) e significa "fera". Em nossa linguagem coloquial, tem tríplice significado: 1.

inteligente ("ele é fera (sabido) na matematica"); 2. convencido, orgulhoso ("nunca vi uma pessoa tão besta (pedante) como Fulano"); 3. atoleimado ("larga de ser besta (bobo, tolo), Sicrano").

O significado básico deste vocábulo é o de "animal feroz" (há uma modelo de veículo cujo nome é Besta, ou seja, Fera). Este animal feroz agora descrito procede das águas do mar. Não mais o cenário da terra, nem o dos céus. Não mais o cenário da mulher vestida gloriosamente de sol, pisando o tapete da lua. Agora é a fera que vem do mar. A descrição da fera, que mistura onça, urso, leão e dragão mitológico num só ser, apresenta, mais uma vez, seu poder devorador, sua personalidade e força recheadas de malignidade. Por isso, o design da besta representa, na reunião de vários animais, a extrema ferocidade..

A descrição é semelhante à anterior: 10 chifres, 7 cabeças, 10 diademas sobre os chifres e uma faixa, como se fosse uma "Miss", com palavrões e blasfêmias, que é coisa própria de Satanás. Blasfêmia, palavrões e impropérios, palavras torpes e obscenas, piadas de mau gosto é a pedagogia Satanás, é só o que ele sabe ensinar.

Mas não era um dragão, e, sim, um leopardo monstruoso, uma monstruosa onça, pois além de 7 cabeças, tinha pés de urso e boca como a de um leão.

O final do versículo 2 diz qual a sua pretensão, visto que o dragão lhe concedera "o seu poder, o seu trono e grande autoridade". Que deseja ela? Domínio e autoridade.

Observe que a situação é extremamente séria, pois se trata de governo, e de governo mundial. Mar representa na linguagem apocalíptica as nações do mundo. O animal retratado, aliás, já fora encontrado no livro de Daniel 7 No verso 2, encontramos o mar (chamado "mar Grande", o Mediterrâneo). Nos versos 3 a 7, quatro animais: um leão, um urso, um leopardo, e outro não descrito fisicamente, mas apenas com adjetivos como "terrível, espantoso e forte, com dez chifres". Daniel fala do mesmo animal.

Estamos falando de governo mundial. No relato da tentação de Jesus Cristo, que pode ser lido em Lucas 4.1-13, está registrado que o Inimigo ofereceu a Jesus "todos os reinos do mundo" dizendo, "Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser" (Lc 4.6). O Mestre recusou. Jesus Cristo tem Sua glória própria, não precisa da que é dada por Satanás. Mais adiante, Jesus declarou que Seu reino não era nem poderia ser deste mundo (leia Jo 18.36), o que faz absoluto sentido porque os reinos do mundo estão sob o controle deste Inimigo-de-nossas-almas.

A besta que vem do mar também não será vitoriosa, como veremos adiante.

A besta que vem da terra (Ap 13.11-18)

Se a primeira besta representa o poder dos governos com tudo a que têm direito nas manobras políticas, sedução de vidas e engodos diplomáticos, a segunda besta, "a que vem da terra", é significativa do poder da falsa religião.

A descrição do culto satânico no verso 4 é de arrepiar! Observe: "Adoraram o dragão, que tinha dado autoridade à besta, e também adoraram a besta, dizendo: Quem é como a besta? Quem pode guerrear contar ela?"

Que terrível a exaltação feita à besta: "Quem é semelhante à besta? Quem pode guerrear contra ela?" Todo culto falso é uma paródia, o contrário do que ensina a Sagrada Escritura. E não precisamos ir muito longe: o Candomblé resulta num falso culto porque parodia o Culto da Antiga Aliança. Num sacrifício, o animal dedicado deveria ser absolutamente sem mancha, todo branco. No Candomblé, o animal oferecido e todo preto. O óleo da unção feito com azeite extra-virgem é substituído pelo azeite de dendê. Os bolos oferecidos como oferta de paz são substituídos por outras comidas, inclusive pipocas. Pombinhas são substituídas por um galo. Paródia.

Voltemos a atenção para Apocalipse 12.7, onde fala de Miguel. Lembra-se do significado deste nome? "Mi-cha-El?" é a expressão na língua de Jesus que pergunta já com a segurança da resposta implícita: "Quem é semelhante a Deus? "Quem pode pelejar contra Ele?"Aqui, no entanto, a pergunta se torna "Quem é semelhante à besta?"O contrário do Culto divino. Em vez de perguntar, "Quem, Senhor, é igual a Ti? Quem pode ser como Tu és?" Eles perguntavam, "Quem pode ser semelhante a este dragão? Quem pode ser semelhante a esta fera tão maravilhosa e plena de sinais que vem do mar?" O poder da falsa religião, portanto. Isso significa que o culto da besta é uma paródia muito mal feita da adoração a Deus Todo-poderoso.

Observe os detalhes da aparência desta diabólica fera: é como um manso e terno cordeirinho. A figura do cordeiro é bíblica. O cordeiro dos sacrifícios da Antiga Aliança prefigura Cristo, chamado por João de "cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo" (veja Jo 1.29; Ap 5.6; 1Pe 1.19; 2.24).

O balido do cordeirinho é suave, e delicado. No entanto, este é diferente: fala como dragão (v. 11). Percebeu onde está a mentira? Falsa religião! Sim; porque esse crime tem nome: falsidade ideológica. E Satanás e nada mais nada menos que um portador de falsidade ideológica, e a falsa religião pode até assemelhar-se à adoração, prática, linguagem e liturgia da Igreja de Jesus Cristo. A diferença, no entanto, está na sua essência: na palavra, porque fala como dragão, e não como o Cordeiro de Deus. Essa é a má notícia: engana os desavisados, os incautos, os iludidos e os que ficam encantados com qualquer coisa bonita e ruidosa que lhes pareça a verdadeira religião. E vão atrás, pois qualquer ajuntamento, evento, novidade, modismo, qualquer coisa que apareça que se assemelhe à verdadeira religião e falando até em nome da religião há quem vá atrás. E mesmo gente de igreja (para não dizer da nossa igreja...)

A boa notícia é que nós não somos enganados porque Jesus Cristo o garantiu. Ele deixou bem claro: "Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem a mim" e também, "As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem" (Jo 10.14, 27).

A religião mentirosa, falsa, não parece querer prejudicar, mas prejudica; não parece ser má, mas o é. É somente ver as suas obras:

exerce toda a autoridade da besta que vem do mar (submete-se ao poder governamental, anda "assim" com o governo, o que ele diz, ela faz, não interessa quem está no governo, pois ela sempre está junto, v. 12a);

leva as pessoas a adorarem a primeira besta (v. 12b);

opera grandes sinais, seduzindo, deste modo, e enganando as pessoas crédulas e confiantes (vv. 13, 14);

repassa à imagem da besta seu fôlego para que esta fica animada e fale e ordene que sejam mortos os que não a adorarem (De

us criou o ser humano e deu-lhe o Seu fôlego, pois Satanás fez o mesmo com a besta, v. 15);
coloca uma marca, tatuagem, sinal ou implante na mão direita ou na testa, a fim de exercer controle sobre a indústria e o comércio (vv. 16, 17).

O versículo final ensina a calcular o número dessa besta: é 666. Minha filha me chamou a atenção para um comercial de tintura de cabelos que está passando na TV, uma modelo está falando e por trás dela aparece uma caixa com a marca e o número da cor que ela está usando [666]. No final do comercial, a modelo declara, mostrando o cabelo bem vermelho, "O que estou usando é o 666..." Pai Eterno!... Não é outro senão o sinal da besta!

Diz a Escritura que este é o número do Anticristo, o número de um homem. Há quem imagine que o Anticristo deva ser um líder religioso altamente magnético, capaz de profundamente influenciar as massas populares. Há quem imagine que seja uma organização religiosa ou o seu cabeça e pastor. O texto não identifica quem seja o Anticristo, mas diz que o número 666 é número de homem.

Está lembrado de que falamos que o número 7 representa algo completo, obra plenamente realizada, plenitude? Se 7 é o completo, o realizado, 6 é o incompleto, o irrealizado. 6 é o número que, por mais que se repita, por mais que se esforce nunca chegará a ser 7. Daí a sequência 6, 6, 6, 6, 6, até o infinito, mas vai ficar nisso: por mais que tente, não conseguirá ser 7, ou seja, o número salvação, da obra consumada na cruz e na ressurreição.

O Anticristo assume muitas formas, mas uma característica básica permanece: não fala como Jesus, não nos olha como Jesus Cristo, não nos ama como o Salvador, não cuida de nós como o Bom Pastor. É falso. Mas glória a Deus que temos um Pastor que cuida de nós, que olha por nós, e até deu Seu sangue para nossa salvação!

Parte VII
O APOCALIPSE - Estudo 7
"Eis que vem com as nuvens..."

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@uol.com.br

O livro doce e as duas testemunhas
Texto Bíblico: Apocalipse 10.8-10; 11.3-12

Entre a sexta e a sétima trombetas, há uma pausa. O mesmo já havia acontecido entre o sexto e o sétimo selos (veja o capítulo 7). Temos um padrão: entre a sexta e a sétima trombetas, uma interrupção. O objetivo desta pausa é apresentar a próxima trombeta como sendo de importância especial, é fazer um suspense dentro do livro do Apocalipse.

Trovões e livrinho (Ap 10.8-10)

O centro de atenção desta pausa é um livro que está mencionado no verso 2, "Ele [o anjo] segurava um livrinho, que estava aberto em sua mão". Este livro tem algo escrito. Que vamos encontrar?

A mensagem deste pequeno capítulo (apenas onze versículos) é que, apesar de toda essa violência, destruição e recusa de receber a graça de Deus, a situação não pode nem vai continuar deste modo. Nosso Deus não pode permitir, não vai permitir, e assegura-nos aqui que este estado de coisas não pode continuar desta maneira. Por isso, o anjo que, envolvido pela nuvem, havia descido do céu trazendo um livrinho, com o arco-íris sobre a cabeça, a face resplandecente como o Sol e as pernas como colunas ardendo, de fogo, põe o pé direito sobre o mar e o esquerdo, sobre a terra, e brada com uma forte voz. Imaginem um gigantesco anjo vindo a nossa cidade, e colocando o pé direito na Baía de Todos os Santos e o esquerdo sobre a terra, na região do Comércio, começa a bradar com uma voz muito forte como se fora um trovão.

Tendo isso acontecido, sete trovões falaram, ou seja, a idéia de algo grandioso, majestoso e completo. Uma voz vinda do céu disse ao espantado João, no exato momento quando ia registrar o que havia presenciado, que mantivesse em segredo o que havia ouvido. Fala o anjo e profetiza que não haverá demora para que as últimas coisas aconteçam.

Não parou nessa palavra o que o anjo tinha a dizer, e, então, recomenda o Vidente a tomar o livrinho que está na sua mão e o comesse. Esse livro tem a qualidade de ser doce na boca, porém amargo no estômago. Há comprimidos que são docinhos na boca, mas saindo a agradável camada doce são horrivelmente amargos. É um paralelo com o que aconteceu a João. A exortação que vem a João é que ele profetize a respeito do que há de acontecer a povos, nações e governantes.

Por que o livro apresentava esse contraste: ser doce na boca e amargo no ventre? Sem dúvida, dá para compreender que o lado doce e suave do livrinho é a salvação e seus suavizantes, salutares e curativos efeitos. Realmente, a salvação e algo de mais saboroso que pode acontecer a uma pessoa. Quando alguém reconhece Jesus Cristo como Salvador pessoal, há uma transformação que o leva a sentir o mundo de um modo suave, absolutamente doce. O lado amargo do evangelho, o lado amargo desse mesmo livro, representa a promessa de julgamento nos termos de João 3.36, que ensina, "Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus". Não é terrível? O lado doce é a pregação, por essa razão, eu não me canso de pregar, de anunciar que Jesus Cristo é o meu Salvador, que Ele tem salvação suficiente e eficiente para todo aquele que crê. Mas a minha lamentação é por aquele que não crê. É o meu lado amargo: sinto uma enorme amargura na boca, no estomago quando verifico que a mensagem do evangelho é tratada levianamente por quem a ouve. Uma mensagem de renovação, de eternidade, até. Mas quando recusada, traz ao pregador uma amargura sem dimensão.

Algumas reflexões

É um capítulo tão pequeno, e, no entanto, apresenta fatos relevantes, como a chamada de João e a ordem que ele recebe de pregar o evangelho. Sua vocação está nos versos 8 a 10, quando ele é encorajado a comer o livrinho.

Esta figura ("comer a palavra") já havia aparecido na Escritura Sagrada como ocorre em Jeremias 15.16 ("Quando as tuas palavras foram encontradas, eu as comi; elas são a minha alegria e o meu júbilo, pois pertenço a ti, Senhor Deus dos Exércitos"). O profeta Jeremias já havia experimentado esse mesmo livrinho. Em Ezequiel 3.1-3, está dito: "E ele me disse: 'Filho do homem, coma este rolo; depois vá falar à nação de Israel'. Eu abri a boca, e ele me deu o rolo para eu comer. E acrescentou: 'Filho do homem, coma este rolo que estou lhe dando e encha o seu estômago com ele.' Então eu o comi, e em minha boca era doce como mel". Ezequiel, portanto, menciona que havia compartilhado deste mesmo livro, que, sem dúvida, todos nós já temos comido, e tem sido doce na nossa boca, a salvação, e amargo no nosso ventre, a recusa dessa mesma bênção.

O significado é claríssimo: o pregador da mensagem deve experimentar o doce e o amargo da pregação que salva, o lado prazeroso e o sofrimento de pregar o juízo de Deus. Como conheceremos a felicidade e a doçura de ter os pecados perdoados e da comunhão eterna com Cristo, se não absorvermos a Santa Palavra? Como saberemos do destino final do ímpio, de sua eterna separação de Deus, se não experimentarmos o fel e o gosto de absinto, o amargor dos resultados da mensagem de salvação rechaçada?

A outra reflexão tem a ver com a conseqüência de sua chamada. Estamos falando da missão que lhe foi confiada: "É necessário que ainda profetizes a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis" (v.11). Jeremias e Ezequiel também ouviram comissões como essa (cf. Jr 15.16-18 e Ez 2.9-3.9).

Todos, em todos os lugares, de todas as línguas, do governante da nação ao mais simples, ao povo comum, todos têm o direito de ouvir a mensagem que salva. Todos, em todos os países, de todos os dialetos e sotaques, do palácio do governo à pessoa mais simples que passa na rua ou se deita nas calçadas têm a grave responsabilidade de ter a ocasião de dizer "sim" ou dizer "não" ao Deus misericordioso que chama, clama, bate à porta e convida, num gesto de ternura, carinho e graça, que não é outra coisa senão o amor que não merecemos, mas que Ele nos dá.

As duas testemunhas (Ap 11.3-12)

Vem agora a segunda parte do intervalo entre a sexta e a sétima trombetas. Não podemos, porém, esquecer que a ênfase é a urgência da proclamação. O evangelho que pregamos tem regime de urgência urgentíssima, não pode ser retardado, demorado. É a necessidade de arrependimento, de conversão, porque Cristo em breve vem. E o verso 6 do capítulo 10 declara, "Já não haverá demora".

Os versículos 3 a 6 deste capítulo dão um retrato da Igreja de Cristo na figura de duas testemunhas, que representam também a totalidade da Igreja, a do Antigo Testamento e a do Novo Testamento. Como são descritas essas duas testemunhas?

¨ "Vestidas de pano de saco", símbolo de humildade e arrependimento (v. 3b);

¨ expelindo fogo pela boca se alguém pretender causar-lhes dano; é figura do poder do evangelho (v. 5a);

¨ tendo autoridade sobre o céu para impedir as chuvas durante a sua pregação, como agente do Todo-Poderoso (v. 6a);

¨ tendo autoridade sobre as águas para convertê-las em sangue, confirmando sua condição de agência do reino de Deus (v. 6b).

Discute-se muito sobre quem seriam as duas testemunhas. Há quem afirme que são Moisés e Elias, até porque ambos exerceram a autoridade de realizar sinais: descer fogo do céu, transformar água em sangue, ou impedir que chovesse.

A verdade é que não é fácil ser testemunha do evangelho de Cristo, razão porque os versos 7 a 9 mencionam que são mortas e expostas à curiosidade do povo. A oposição ao evangelho sempre haverá, pois, "a besta que surge do abismo pelejará contra elas, e as vencerá, e matará" (v.7). Porém, diz a Escritura Sagrada que Deus não permitirá que nossa alma veja a corrupção, e, deste modo, a gloriosa ressurreição vai acontecer, e o arrebatamento nos levará ao Senhor, como declaram os versos 11 em diante: "... um espírito de vida, vindo da parte de Deus, neles penetrou, e eles se ergueram sobre os pés, ... e as duas testemunhas ouviram...: Subi para aqui. E subiram ao céu numa nuvem..."

Não podemos deixar de dizer agora: Glória a Deus! A vitória é dEle que não deixará que nossos corpos vejam a corrupção, e seremos arrebatados como as duas testemunhas o foram. Passou o segundo "ai!"

Parte IX
O APOCALIPSE - Estudo 6
"As Trombetas"

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@uol.com.br

Apocalipse 8.6-13; 9.1-21; 11.15-19

"Então os sete anjos que tinham as sete trombetas preparam-se para tocar" (Ap 8.6)

Estes capítulos do livro do Apocalipse tratam de orações e proclamações. O incenso utilizado no santuário subindo com as orações dos santos e se unindo às trombetas dos 7 anjos.

Por que foram apresentadas estas 7 trombetas? O simbolismo é de fácil identificação: trombetas dão comandos, sinais de alerta, chamam a atenção para algo importante a ser comunicado. Quando a tropa ouve a corneta, sabe se deve se colocar em posição de sentido ou de descansar. Compreende se deve marchar, debandar ou ir para o rancho.

Há um caso famosíssimo na história da Bahia que é o episódio envolvendo o soldado chamado Corneta Lopes. Por ocasião da batalha de Pirajá, Lopes fez algo inusitado. Recebera ordem de tocar "retirada"; no entanto, tocou "avançar e degolar!". A tropa baiana avançou, e a portuguesa debandou. Já estava esta ganhando a batalha, mas houve um tremendo susto, e com isso os brasileiros venceram a batalha, expulsaram os lusitanos, e deu-se a independência da única porção de solo pátrio ainda em mãos européias. Com isso, surgiu o 2 de julho, data da independência da Bahia. A rua entre o nosso templo e o Teatro Castro Alves chama-se Travessa Corneta Lopes em sua homenagem, o herói que utilizou sua trombeta para elevar o moral das tropas nacionais.

Em Josué 6.5, Deus anunciou com trombetas o julgamento da ímpia cidade de Jericó. O contexto de Números 10.1 e 2 apresenta trombetas convocando o povo para a adoração. As trombetas do Apocalipse vão anunciar alguma coisa, e não é coisa boa, a não ser uma delas. São até de assustar. Elas exortavam "Pare! Deixe de fazer o que está praticando! Arrependa-se!" Podemos dizer que são instrumentos proféticos.

Pragas e trombetas (Ap 8.6-13)

Neste livro, as trombetas trazem mensagens breves e anunciam pragas. E como explica o verso 7, essas pragas destinam-se à natureza. Corresponde à primeira trombeta: "saraiva e fogo misturado com sangue". Pedras caindo do céu, fogo e sangue... Tétrico! Como resultado, um terço da terra foi queimado, incluindo árvores e gramados.

Ou, ainda, no caso do alerta da segunda trombeta, uma grande montanha em chamas foi jogada ao mar. Imaginemos que estando aqui em Salvador com esse enorme mar à frente, de repente, cai uma montanha de fogo na Baía de Todos os Santos matando um terço do que estava no mar: navios petroleiros, barcos de pesca, os ferry boats, os lindos navios de cruzeiros que chegam quase diariamente ao nosso porto. Dizem os versos 8 e 9 que um terço da fauna marinha foi dizimada, sendo que navios e barcos foram igualmente destruídos (vv. 8, 9). É conveniente recordar que no episódio da primeira praga sobre o Egito, as águas tornaram-se sangue.

Ao tocar a terceira trombeta, caiu uma estrela de fogo. E essa estrela tem nome. Aliás, costumam dar nome às estrelas e às constelações: Cruzeiro do Sul, Cão Maior, Centauro, Mosca, Triângulo Austral, Orion. A estrela cadente do Apocalipse é chamada de Absinto, palavra que significa "amargor". Ela caiu sobre os rios tornando suas águas venenosas, impossíveis de serem consumidas e levando pessoas à morte (vv. 10, 11).

Ao toque da quarta trombeta, estrelas e planetas foram feridos, deixando de haver luz e brilho. Passa, então, uma águia voando. A águia é uma ave que tem um belíssimo vôo, altaneiro; nas alturas, reina absoluta, tem uma agudeza incrível de visão: pode ver do alto do seu sereno vôo, ver um ratinho no solo, e, então, desce como uma flecha e pega a sua presa. A águia tem um vôo muito lindo. Mas esta do Apocalipse passou tão triste, e seu grito dolorosamente ecoou como "Ai! Ai! Ai dos que moram na terra!", por causa das trombetas que faltam soar.

Essas imagens de desolação e terror visam a chamar a atenção para o fato de que Deus tem o controle de todas as coisas. Isso não é para nos assustar, mas para nos deixar satisfeitos e felizes. Nosso Deus é grandioso bastante para ter controle de toda situação. Seja das águas dos rios ou dos oceanos, seja das estrelas, planetas no espaço sideral. Deus é justo, e vai exercer sobre o mundo Seu juízo para cumprimento do Seu plano com o respectivo e definitivo julgamento sobre os maus, e a anunciada e aguardada bem-aventurança, galardão de todos os que crêem.

Os Ais (Ap 9.1-21)

Ressoa a quinta trombeta, que é, como vimos acima, o primeiro dos "ais!"Vêm as lamentações. Se as pragas das quatro primeiras trombetas foram horrorosas, as três últimas serão piores.

Quando a trombeta foi tocada, uma estrela portando a chave do abismo caiu do céu à terra e liberou forças satânicas terríveis, tremendas, perigosíssimas, simbolizadas pelos gafanhotos envoltos em fumaça tal que houve um eclipse do sol. No entanto, essas forças malignas não têm poder de matar: só de atormentar, e, mesmo assim, aos que não têm a marca divina (vv. 4, 5). Ai de quem é vítima dessa estrela caída, dos escorpiões, das forças satânicas. Não é esse o quadro de vida do filho ou da filha de Deus, o qual ou a qual tem o selo de qualidade da parte do Deus Eterno, tem Sua guarda, Sua proteção, Seu amor infinito, e está salvo ou salva pelo poder do que emana do Calvário.

É nesse ponto que toca a sexta trombeta (vv. 13 a 21). O rio Eufrates (cf. v. 14), aquele que passa em Bagdá, capital do Iraque, é a última barreira entre o povo de Deus e o sistema perverso deste mundo. Lembrem-se que "Babilônia" no Apocalipse é símbolo de tudo o que é iníquo, de tudo o que não presta. O rio é uma barreira entre a Terra Santa e o sistema maligno do mundo. Na Bíblia, mar, rio, oceano são sempre sinais de separação, distância entre um povo e Deus, ou uma pessoa e o Criador.

No entanto, a força maligna está representada por um poderosíssimo exército de cavalarianos, conforme o simbolismo do verso 16: 200 milhões cavalarianos. Os próprios cavalos são de uma descrição amedrontadora: cabeças de leão expelindo fogo, fumaça e enxofre pelas bocas, caudas como serpentes, sendo que essa fumaceira, esse fogo e o enxofre vieram a matar 33% das pessoas.

Mas Deus chama ao arrependimento. Ai de quem o ignora! Os versos 20 e 21 deixam claro que a convocação divina é constante e que ignorá-la é um terrível perigo!

A sétima trombeta (Ap 11.15-19)

É o último "ai!" É anunciado, no entanto, em termos gloriosos porque trombetas e um grande coro proclamam que "O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos".

Há, por acaso, notícia mais feliz? Quer dizer o seguinte: se para o mundo impenitente, o que não se arrepende, perdido, ímpio, os primeiros "ais!" amedrontam, para a Igreja de Cristo, o último "ai!" é anúncio de glória! Destruição para o mundo, vida eterna, porém, para os filhos de Deus! A justiça de Deus está feita.

Como tudo ficou diferente a partir deste evento: o santuário celeste foi aberto, a arca da Aliança vista no seu lugar; relâmpagos, trovões, movimento de terra e chuva de saraiva são sinais da grandeza de um Deus que é Todo-Poderoso, o El Shadday, o Deus a Quem servimos!

Parte X
O APOCALIPSE - Estudo 5
"Os Mártires "

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@uol.com.br

Apocalipse 7

"E ouvi o número dos que foram selados, e eram 144.000, de todas as tribos dos filhos de Israel" (Ap 7.4)

Há muito debate sobre este texto. Grupos há que fantasiam, até, em torno do número dos selados de Israel, os 144.000 aqui mencionados. No entanto, como todos os outros números expostos neste admirável livro, este também guarda um profundo simbolismo. Seu valor não é o da ciência exata da matemática, onde 1 + 1 = 2, e 5 + 5 = 10. O real valor deste e de outros números no Apocalipse é espiritual e moral. Neste tipo de literatura, números são conceitos, são idéias e são pensamentos, não o seu valor de face.

Como introdução (vv. 1 - 3)

O capítulo 7 do livro do Apocalipse explica que enquanto a Igreja de Cristo estiver no mundo, o juízo final será adiado. Estes versos introdutórios são interessantes: Em cada ponto cardeal, há um anjo. Há um no Norte, outro no Sul, e mais dois no Leste e no Oeste. O vento se encontra completamente parado porque os anjos os seguram. Vamos imaginar uma tarde de mormaço. Não há uma qualquer folha se movendo; os coqueiros estão parados, as plantas do jardim não se movem, como se o vento estivesse encaixotado com o tremendo calor. É o que temos aqui. Os anjos freiam os ventos e a conseqüência é que as nuvens estão estacionadas, estão lá em cima, mas paradas, não há ondas no mar e folha alguma da vegetação está se movendo. Sequer há brisa. Parece um filme de ficção científica.

Surge um anjo do lado oriental trazendo o selo do Deus Vivo. Ele fala aos outros anjos, o do Norte, o do Sul, o do Leste e o do Oeste, e alerta a que não danifiquem a natureza até que todos os salvos estejam selados.

Nesse ponto da visão, João ouve o número dos que serão selados: 144.000.

Quem são os 144.000? (vv. 4 - 8)

É uma pergunta que tem preocupado muitos cristãos. Reflitamos pelo lado negativo. O que os 144.000 não representam?

¨ Não são pessoas individuais. Uma seita nascida, por sinal, no ambiente evangélico ensina que são as pessoas que habitarão o céu, enquanto os outros milhões permanecerão na terra renovada.

Essa leitura literal não tem cabimento porque, a ser verdade, de acordo com o capítulo 14.3,4, só iriam para o céu, homens (o texto não fala em mulheres?!), e estes homens nem podem ser casados?! São todos meninotes, rapazes e homens virgens. Que tremenda incoerência!!! Homens casados ou não mais virgens, nem mulheres não irão para o céu...

É preciso entender a ciência da Exegese e da Hermenêutica que esclarecem o ensinamento da Bíblia Sagrada. Quando utilizamos essas ciências, descobrimos que a leitura não pode ser linear, direta, literal. A leitura é diferente porque este é um estilo diferente de literatura. Chegamos à conclusão que ler linearmente é um despropósito. O ensino geral da Palavra de Deus, no entanto, é que essa quantidade representa uma multidão incalculável para a mente e o coração humanos.

¨ Não são as tribos de Israel. Apesar dos versos 4 a 8, numa leitura apressada, darem essa idéia, um exame mais detalhado desfará o engano. São 12.000 de cada tribo. No entanto, não há menção às tribos de Efraim e de Dã. No entanto, a tribo de Levi, que não tinha herança entre as outras tribos, está mencionada. João também faz referência à tribo de José, que não existia, e, como relata a Escritura Sagrada, foi representada pelos seus filhos, Manassés e Efraim.

Finalmente, quem são os 144.000?

Não esqueçamos algo básico que é o valor conceitual, moral e espiritual dos números para a interpretação bíblica. Portanto, é necessário dissecar este número. 144.000 é o resultado da operação 12 X 12 X 1000. Nesse pequeno e sugestivo cálculo matemático, temos uma preciosa lição. Estes números são a chave para abrir a porta para um belíssimo conceito, o do precioso ideal da gloriosa esperança, da habitação eterna e perene com Deus.

12 são as tribos de Israel; 12 é o número dos apóstolos. Significa que as tribos de Israel representam aqui todos os salvos e fiéis do Antigo Testamento; os apóstolos simbolizam todos os fiéis e salvos do Novo Testamento. 12 X 12 (144) são todos os fiéis da Antiga Aliança e todos os remidos da Nova Aliança, TODOS OS SALVOS, portanto! Todos os que foram comprados pelo sacrifício de Jesus Cristo, resgatados do poder do mal, e que formam a Igreja Vitoriosa e Militante! E os 1000? É 103 (dez elevado ao cubo), o resultado da operação 10 X 10 X 10. Na linguagem bíblica, 10 é número de altíssimo valor e significado porque reúne nele o 3 (número de Deus) e o 7 (número da obra completa, da plenitude).

Esse ilustre número (o 10) está multiplicado por ele mesmo duas vezes, quer dizer, 10 X 10 X 10, como já foi mencionado. É o número de altíssima perfeição (10) multiplicado pelo número de Deus (3). O resultado só pode ser o máximo de bem-aventurança: ter a fronte selada (símbolo de propriedade) por ordem do próprio Deus! (cf. v.3).

Multiplicando o resultado de 12 X 12 (144) pelos 1000 do parágrafo acima temos como resultado 144.000,número ideal, representando o conceito de todos os salvos, em todos os tempos, de todos os lugares, de todos os quadrantes, de todas as raças, de todas as condições sociais.

A visão dos glorificados (9 - 17)

O trecho final do capítulo 7 do livro do Apocalipse apresenta os remidos de Jesus Cristo que, apesar de passarem pela Grande Tribulação, sairão imaculados e ilesos.

O texto diz que a multidão era tão grande que não podia ser contada. Diz que, mesmo sendo de nações, tribos, povos e línguas diversas, exclamavam a uma só voz louvando a Deus e a Jesus Cristo, o Cordeiro que foi morto, mas vive.

À pergunta de um dos anciãos sobre quem são estes de roupas brancas, o próprio João responde que são os que passaram pelos sofrimentos dos últimos dias e lavaram suas vestes e suas vidas no sangue purificador de Jesus Cristo, e, agora, já não mais experimentarão dor, lágrimas, fome, angústia ou penúria. Estão com Cristo por toda a eternidade!

Parte XI
O APOCALIPSE - Estudo 4
"Sete Selos e Suas Surpresas"

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@uol.com.br

Apocalipse 5.1-14; 6.1-7; 8.1-5

"Vi... um anjo forte, bradando com grande voz: Quem é digno de abrir o livro, e lhe romper os selos?" (Ap 5.2)

João viu a porta aberta no céu e as coisas impressionantes que ouviu: uma voz como de trombeta que lhe dizia: "Sobe e eu te mostrarei as coisas que depois destas devem acontecer". O que esteve antes destas coisas foram as Cartas às igrejas da Ásia. Ele viu um trono no céu, e nele Alguém assentado. A linguagem bíblica O descreve como semelhante a uma pedra de jaspe, de sardônio (v. 3). Ao redor do trono um arco-íris que se parecia a uma esmeralda.

Tudo aqui é descrito de modo a chamar a atenção para algo majestoso, grandioso. Não é um simples trono, mas um trono onde Quem está assentado tem a aparência bem diversa dos que se sentam em tronos humanos.

24 tronos estão ao seu redor. Neles estão 24 anciãos, ou seja, 12 representam as tribos de Israel no Antigo Testamento, 12 representam os apóstolos, o Israel da Nova Aliança, vestidos de branco, sinal de pureza espiritual, suas cabeças portam coroas de ouro, afinal, "sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida" é a promessa de uma das cartas. No entanto, essas coroas não estão ali para reverenciar, homenagear, magnificar, exaltar esses anciãos no trono. Eles tomam as coroas e depositam diante do majestoso trono de Deus.

Diante desse trono ardiam 7 lâmpadas de fogo que são os 7 espíritos de Deus. Lembrem-se que sempre que a Palavra "fogo" aparece na Escritura, está associada a uma manifestação divina: no portão do paraíso, uma espada de fogo (Gn 3.24); a manifestação da presença de Deus a shekinah) na sarça ardente (Ex 3.2); colunas de fogo no deserto à noite (Nm 14.14); no Pentecoste, as línguas como de fogo (At 2.3); no inferno, um lago de fogo significando a justiça de Deus sobre os ímpios, injustos e pecadores (Ap 20.10), e não o "reinozinho" de Satanás, como muitos pensam, pois é a sua prisão.

Aparecem também 4 seres viventes com olhos por diante e por trás. São monstros? Não; é apenas o símbolo de vigilância perene diante de Deus. Jesus ensinou sobre a vigilância: "vigiai e orai..." (Mt 26.41). Aqui é diferente; é "vigiai e louvai", porque tudo o que fazem, só o que fazem é louvar a Deus (Ap 4.8).

Uma profunda marca da Igreja de Jesus Cristo em todas as épocas é a esperança, a grande virtude cristã em todos os tempos. Outro modo do cristão dizer este sentimento é usar a expressão "Segunda Vinda de Cristo". Falar de esperança e da Parusia, o Retorno de Cristo, é falar da mesma realidade. Quando celebramos a Ceia do Senhor, celebramos a esperança. A instrução que temos é "até que ele venha" (1Co 11.26). Os escritores do Novo Testamento falaram sobre essa abençoada futura realidade como o apóstolo Paulo que disse, "Damos sempre graças a Deus... por vós, desde que ouvimos da vossa fé em Cristo Jesus... por causa da esperança que vos está preservada nos céus..." (Cl 1.3-5). E, ainda, "A graça de Deus se manifestou salvadora... educando-nos para que... vivamos... aguardando a bendita esperança e manifestação da glória do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus" (Tt 2.11-13). Quer dizer, a esperança associada à Segunda Vinda. E, fazendo uma união entre a Segunda Vinda e as pressões espirituais e, mesmo, físicas, exorta o apóstolo Paulo, "regozijai-vos na esperança, sede pacientes na tribulação..."
(Rm 12.12).

A tribulação vem, e precede a Segunda Vinda de Cristo, razão porque Paulo exorta a que sejamos pacientes aguardando a gloriosa Parousia, que nos vai libertar de tudo o mais! Há, portanto, uma íntima ligação entre sofrimento e o retorno de Cristo Jesus. Percebe-se com absoluta clareza o carinho de Deus ao conceder à nascente e sofredora Igreja do primeiro século o livro cheio de encorajamento e de visão da vitória final que é o Apocalipse. Compreende-se o porquê de tantos símbolos, expressões cifradas, figuras medonhas, até, retratando a tremenda luta espiritual entre o Bem e a Malignidade.

É nesse ponto que surge um livro fechado; um livro selado. São sete selos, ou seja, bem fechado, completamente fechado. Esse livro guarda um segredo. A propósito, para quem gosta de filigranas lingüísticas, a palavra "selo" vem da língua-mãe latina sigilus, que significa precisamente isso: "segredo, sigilo".

A visão do livro selado (5.1-14)

O livro visto pelo apóstolo João estava escrito por dentro e por fora, mas fechado com sete selos. Um mensageiro de Deus fazia uma proclamação que é ao mesmo tempo um desafio, levando o vidente a se lamentar porque ninguém tinha dignidade bastante para abri-lo e nem sequer para olhá-lo. Logo foi tranqüilizado por um dos anciãos do capítulo 4 que lhe assegurou que o Cristo Vivo, o Cristo Vitorioso, o Messias Exaltado era absoluta e perfeitamente digno de romper os selos e abrir o livro. Só Jesus Cristo pode abrir o livro que guarda o segredo.

Nesse ponto da narrativa, João vê no meio da cena (lembremos a cena: o majestoso trono, os 24 tronos, os 24 anciãos, as 4 criaturas com faces de leão, touro, homem e águia, um Cordeiro com aspecto de morto que porta 7 chifres, 7 olhos, e, no entanto, estava vivo!... Tem aspecto de morto mas está bem vivo! O Cordeiro tomou o livro do que estava no trono, e todos na cena como um grande coro se prostraram em grande reverência e cantavam a dignidade dAquele que comprou para Deus com Seu sangue um povo formado de salvos de todas as tribos, línguas e nações para fazê-los sacerdotes do Deus Vivo! Que cena extraordinariamente maravilhosa! E, assim, cantavam:

"Digno és de tomar o livro,
e de abrir os seus selos, porque foste morto,
e com o teu sangue compraste para Deus
homens de toda tribo, e língua, e povo e nação.
Para nosso Deus os fizeste reino e sacerdotes
E eles reinarão sobre a terra" (vv. 9, 10).

Se a visão tivesse terminado no acima exposto, já seria o bastante. Mas não foi o que aconteceu, porque bilhões de anjos rodeando o trono celestial cantavam a mesma dignidade e honra do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo:

"Digno é o Cordeiro que foi morto,
de receber poder, e riqueza, e sabedoria, e força,
e honra, e glória, e louvor" (v. 12)

E ainda mais: toda criatura no céu, na terra, debaixo da terra e sobre o mar, tudo louvava o Cristo de Deus com exclamações de "Amém!" (v. 14).

Que significam os selos? Os quatro primeiros (6.1-8)

Este trecho fala de um cenário de guerra. Há um convite feito para que João presencie a abertura de cada um. Ao se abrir o primeiro selo (vv. 1, 2), surge um cavalo branco,portando o seu cavaleiro uma arma: um arco. Recebeu uma coroa e saiu para buscar a vitória a qualquer preço.

O segundo selo (vv. 3, 4) faz aparecer um cavalo vermelho, a cujo cavaleiro foi dada uma espada e a missão de tirar a paz da terra.

O terceiro selo (vv. 5, 6) traz à cena um cavalo preto. Seu cavaleiro tem uma balança na mão.

O último selo (vv. 7, 8) apresenta um cavalo amarelo, Morte é o nome de quem o monta, e está acompanhado pelo Inferno.

A cena é pesada e apresenta um palco de guerra. O primeiro cavaleiro vem num cavalo branco, o que pode até dar idéia de ser o Cristo que vence. Não pode ser o Cristo vencedor, porque está no contexto de três outros cavaleiros que só trazem destruição e miséria. O mínimo que podemos imaginar é que seja um disfarce para parecer o Cristo de Deus. Parece mais ser o ambiente de negociações, de compra e venda de votos, de toma-lá-dá-cá dos acordos diplomáticos (arco é em linguagem bíblica o símbolo de aliança, de pacto, de contato, de convênio, haja vista, o "arco da aliança", o arco-íris (cf. Gn 9.8-17). A Segunda Guerra contra o Iraque é isso: os americanos entraram "vencendo e para vencer". Mas não venceram, porque diariamente morre, no mínimo, um militar americano. E até gente nossa que foi para lá em nome da paz, perdeu a vida.

Quando se fala tanto de paz e o cenário só se conforma com a guerra, é evidência da obra e missão deste cavaleiro. Isso casa com Jeremias 6.14 que adverte, "Curam superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz". O cavaleiro deste cavalo branco é o Negociador nos conflitos e guerras, mas que nenhuma vantagem ou negociação traz.

Nessa cena bélica, o cavalo vermelho traz o conflito, o ódio, a violência tanto paga quanto gratuita, o clamor do inocente violentado em seus direitos, o derramamento de sangue. Somos todos testemunhas dessa violência gratuita que ocorre em nosso país.

O cavalo seguinte, o preto, traz a inflação e a conseqüente fome, que são o resultado de revoluções, guerras civis e conflitos militares. Seu refrão representativo dessa inflação não pode ser outro: "Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho" (v. 6). Isso é um clamor pelo altíssimo preço obtido por uma medida de trigo. Isso significa cerca de 13 litros de trigo pelo salário de um dia do trabalhador, ou 39 litros de cevada pelo mesmo valor. Como poderiam as famílias fazer o pão de cada dia com preços tão absurdamente inflacionados?

O último cavalo, o amarelo, é o fim de tudo. O que se perde de vidas e recursos humanos numa guerra é estarrecedor. São vítimas inocentes, crianças, até, sacrificadas no altar do deus Marte, o deus da guerra dos romanos. O jornal noticiou que o número de baixas do lado da coalizão atingiu um ponto crítico: é maior na paz que quando estavam em guerra?!

Outros dois selos (vv. 9-17)

Chegamos ao quinto selo (vv. 9-11). A cena apresenta debaixo do altar as almas dos martirizados. Aqueles irmãos e irmãs da Igreja apostólica que foram jogados às feras; cobertos com breu, e seus corpos incendiados para iluminar avenidas inteiras; senhoras, moças e adolescentes que foram violentadas, estupradas e depois mortas pelo Nome de Jesus. Tinham eles nos lábios uma exclamação que é, ao mesmo tempo, uma pergunta. Observem que eles estão absolutamente conscientes (há grupos que pregam que com a morte, o espírito fica dormindo na sepultura. No entanto, eles estão absolutamente conscientes do que lhes aconteceu. Cada um recebeu um manto branco e a recomendação de que tivessem paciência (vv. 10,11).

Os mártires pedem vingança. Mas a vingança não pertence a nós, e, sim, ao Senhor, ensina a Santa Palavra (Dt 32.35). Que eles tivessem paciência, a paciência e a perseverança próprias dos cristãos.

O selo seguinte (vv. 12-17), ao ser rompido, trouxe um grande terremoto. Houve um eclipse solar, quando a Lua se apresentou rubra como sangue. Despencaram as estrelas, e o próprio firmamento foi enrolado como um cobertor.

Jesus já havia falado sobre isso em Mateus 24, ao mencionar o princípio das dores. Montes e ilhas, continua João, saíram dos seus lugares, e o medo tomou conta de todos os poderosos (que só o são quando podem controlar os outros), de modo que se esconderam nas cavernas, tocas, buracos feitos nas montanhas pedindo que as rochas os escondessem Daquele que está sentado no trono, por haver chegado o Dia do Retorno de nosso Senhor!

O sétimo selo (8.1-5)

Na abertura do último selo, algo diferente aconteceu. Em lugar dos louvores, hinos, cânticos, exclamações de júbilo, fez-se silêncio. Silêncio por cerca de meia hora. Perceberam o contraste? Alguém maldosamente já disse que esse vai ser o único momento de tristeza para as mulheres no céu porque vão ficar caladas durante meia hora...

Sete anjos receberam trombetas e, à chegada de um oitavo anjo, foi-lhe dado muito incenso que, juntamente com as orações dos salvos, subiu ao trono divino.

O incenso era o modo gráfico, concreto como o hebreu dizia que a sua oração subia aos céus. Na mente do hebreu tudo tinha que ser bem concreto. Se falava em sacrifício, não era como o nosso pensamento que apenas diz, "temos que fazer um sacrifício..." Ele matava um animal, e, dependendo de sua situação econômica, esse animal era um boi, cordeiro ou casal de pombos. Quanto às orações, tomava um pedacinho de incenso e punha no incensário. Enquanto orava, a fumaça perfumada ia subindo. Dizia ele, então, "a minha oração está subindo ali no incenso..." Não é a nossa mentalidade que é helênica, grega, abstrata. No chamado Dia do Perdão (Yom Kippur), o sumo-sacerdote tomava dois bodes. Um era sacrificado no arraial; quanto ao outro, ele descarregava os pecados do povo na cabeça do animal e alguém o levava para o deserto, onde ele morria de queda no despenhadeiro ou de fome. Tudo muito físico e gráfico, portanto.

O anjo toma, então, fogo do altar e o joga à terra, resultando em problemas cósmicos: terremotos, trovões e relâmpagos. Os anjos então se preparam para tocar as trombetas.

Silêncio no céu... Sinal de admiração? De maravilha? Cessa a adoração vocal. O silêncio, porém, também é adoração. A adoração é multiforme: quando estamos em cântico é louvor, adoração; ao entregarmos o dízimo, é louvor; na celebração da Ceia Memorial, é louvor; em oração silenciosa, é adoração. Em silêncio, também.

Essa é a música celestial, razão porque em sua peregrinação terrena, a Igreja de Jesus Cristo é instruída e encorajada a cantar em harmonia e no mesmo ritmo. Coesa, unida, firme, constante, abundante e perseverante, ela há de prosseguir até a Parusia, a Segunda Vinda de Cristo, o Juízo Final e a Bem-aventurança eterna!

Parte XII

Trono Celestial"

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@click21.com.br

Apocalipse 4
"Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, pois tu criaste todas as coisas, e por tua vontade existem e foram criadas" (Ap 4.11)

A partir deste ponto, o apóstolo João passa a relatar as coisas que se sucederão de acordo com o que fora prometido no capítulo 1.19 ("Escreve, pois, as coisas as coisas que tens visto, e as que são, e as que depois destas hão de acontecer") e esclarecido em 4.1: "Depois destas coisas, olhei, e vi que estava uma porta aberta no céu, e a primeira voz que ouvi, como de som de trombeta falando comigo, disse: Sobe para aqui, e te mostrarei as coisas que depois destas devem acontecer."

A soberania de Jesus Cristo é retratada, como no capítulo primeiro, de modo muito dinâmico e extremamente colorido, encerrando-se o relato com um hino de profunda reverência, adequadíssima introdução a todo o drama que vem a seguir.

A majestade de Jesus Cristo (4.1, 3)
No hino 16 do hinário O Cantor Cristão, o poeta colocou a seguinte expressão:
"Oh! vinde adorar o excelso e bom Deus,
eterno Senhor, da terra e dos céus,
que reina supremo, envolto na luz,
e que se revela em Cristo Jesus!
Essa é a afirmação de todo o capítulo 4 do Apocalipse, que assegura uma verdade da qual a Palavra Divina não abre mão. A grandeza de Cristo é descrita com as reveladoras palavras: "...um trono estava posto no céu, e alguém assentado sobre o trono. E o que estava assentado era, na aparência, semelhante a uma pedra de jaspe e de sardônio, e ao redor do trono havia um arco-íris semelhante, na aparência, à esmeralda".

E prossegue o registro colocando em evidência quão magnífica é a visão da própria glória (kavod) de Deus manifestada na presença (shekinah) no trono da graça divina.

É importante que tenhamos sempre na mente os terríveis tempos em que este livro foi escrito. Não esqueçamos que o Apocalipse foi escrito numa época de perseguição. O imperador romano era tido como um deus. Ele, somente ele podia ser exaltado. Era soberano, e exigia dos súditos todo o louvor. A pompa dos seus palácios não encontrava rival; o trono em que se sentava, magnífico e esplendoroso. O César (título dado ao imperador de Roma) não podia dividir sua pompa e circunstância com qualquer outro deus. Menos ainda com um mestre israelita a Quem algumas pessoas chamavam de Filho de Deus... Ora, diziam, não tinha cabimento algum... Decorre de tudo isso um imenso perigo para os cristãos que não dividiam a sua lealdade a Jesus Cristo.

Observe que nos dias de hoje também há "deuses" buscando a adoração exclusiva. O deus da fama é um deles. Quantas meninas têm feito sacrifícios inimagináveis para ter o que chamam de "corpo de modelo", algumas beirando doenças como a anorexia nervosa e a bulimia para ficarem macérrimas como pede o sacrifício do altar da fama. Algumas, de origem evangélica, entregando-sem ao Moloque deverador que é o mundo das celebridades. Pois é; a fama é um deus exigente e que exige sacrifícios de suas vítimas, ou melhor, adoradores...

O orgulho não é um deus impiedoso? Aliás, vamos e venhamos, o orgulho anda tomando conta das igrejas. Alguém me relatou que num determinado programa de TV chamado evangélico, Cristo ficou por trás e o pastor ficou na frente fazendo sombra a Cristo. Não se diz mais como Paulo: "Longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo..." (Gl 6.14). Há ministros ("Apóstolos"?! "Bispos"?!) que deixaram de se esconder atrás da cruz de Cristo, pois Cristo é escondido e obscurecido por eles e a fama que adquiriram?! O que desejam é o status! E o poder não é um tremendo deus? E o dinheiro?

No entanto, é de se observar que o livro do Apocalipse é sobre vitórias: a de Jesus Cristo sobre o Mal e a nossa vitória em Cristo, razão porque este trono celestial é apresentado tão cheio de efeitos, de ruídos, de vozes, de tochas, e de seres tão estranhos quanto plenos de lições. Magnífico, portanto!

Reverentes perante o Senhor (4.4-8)

"Ao redor do trono também havia 24 tronos, e vi assentados sobre os tronos 24 anciãos, vestidos de branco, que tinham nas suas cabeças coroas de ouro. Do trono saíam relâmpagos, vozes e trovões. Diante do trono ardiam 7 lâmpadas de fogo, as quais são os 7 espíritos de Deus. Também havia diante do trono como que um mar de vidro, semelhante ao cristal, e ao redor do trono, um ao meio de cada lado, quatro seres viventes cheios de olhos por diante e por detrás. O primeiro era semelhante a um leão, o segundo semelhante a um touro, o terceiro tinha o rosto como de homem, e o quarto era semelhante a uma águia voando. Os 4 seres viventes tinham, cada um, seis asas, e ao redor, e por dentro, estavam cheios de olhos. Não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, aquele que era, e que é, e que há de vir"

(Obs.: quantidades em algarismos para destaque dos detalhes).

Diante de uma visão tão cheia de brilho, de luz e de esplendor, é imperativo que se tenha uma atitude de adoração e reverência. É o que nos revela os versículos 4 a 8 quando decodificamos suas figuras: 24 tronos ao redor do magnífico trono divino, 24 anciãos vestidos de branco, coroas de ouro, relâmpagos, vozes, trovões, 7 tochas representando a plenitude do Espírito Santo (lembremos que 7 é o número de algo completo) Há um mar de vidro como de cristal e 4 misteriosas criaturas descritas como tendo muitos olhos na frente e atrás. Coisa estranha... Vejamos, porém, depois de decodificados.

Vamos esclarecer um pouco mais: os 24 anciãos são a soma das 12 tribos de Israel e dos 12 apóstolos, ou seja, todos os salvos da Antiga e da Nova Alianças: a totalidade do povo fiel a Deus. Essa poderosa visão requer "efeitos especiais" (trovões, relâmpagos). Vivemos numa época de efeitos especiais: um filme, uma novela, programas de TV, peças teatrais, e, mesmo, dramatizações na igreja apresentam certos efeitos especiais (gelo seco, luzes estroboscópicas) Também os temos aqui, pois trovões, relâmpagos, raios sempre estiveram associados à presença, grandeza e majestade de Deus, como exemplifica o livro do Êxodo 19.16 a 18 e Deuteronômio 4.11 ("Ao amanhecer do terceiro dia houve trovões e relâmpagos e uma espessa nuvem sobre o monte, e um sonido de buzina muito forte").

O verso 6 menciona um "mar de vidro, semelhante ao cristal". Mar é símbolo de algo que não pode ser transposto. Dificuldade é mar. Haja vista o Mar Vermelho: foi uma dificuldade para o povo israelita. Deus, então, fez uma intervenção e as águas se abrem. O mesmo ocorreu, 40 anos depois, com o rio Jordão, que igualmente se abriu.

Mar é sinal de separação. Isso ocorre porque Deus é santo e o mundo é pecador. O mar separa o santo do pecaminoso. São realidades que não se combinam. Enquanto houver pecado, não há possibilidade de acordo. No entanto, o fim do versículo primeiro de Apocalipse 21 diz que na descida da Nova Jerusalém, a habitação de Deus com os homens, "o mar já não existe", já não há distância, paredes, barreiras, separação. Somos nós em Deus e Deus em nós, a plenitude divina em tudo e em todos.

E as 4 estranhas criaturas? Qual o papel delas diante do trono? Estamos falando de reverência, louvor, adoração, precisamente a tarefa dessas quatro criaturas. Elas aqui estão não para atemorizar: o Apocalipse não tem esse propósito. Estes seres "cheios de olhos", portanto, vigiam! A expressão não descreve monstros; é, sim, um modo de dizer que a tarefa deles é a vigilância diante do trono. Jesus ensinou, "Vigiai e orai [para que não entreis em tentação]".

Aqui é "Vigiai e louvai..." Em nossa dimensão terrena, "vigiar e orar"; na dimensão celeste e eterna, "vigiar e louvar".

Um dos seres era semelhante a um leão, outro a um boi, o terceiro tem face de ser humano e o último parece uma águia. Quatro seres tão diferentes , tão distintos um do outro: um leão selvagem, um boi domesticado, um ser humano e suas possibilidades, potencialidades e expectativas, e uma águia que altaneira e livremente voa. São semelhantes aos querubins de Ezequiel 1.10, que relata o seguinte: "A semelhança dos seus rostos era como o rosto de homem, e à mão direita os quatro tinham rosto de leão, e à esquerda tinham rosto de boi; também os quatro tinham rosto de águia".

Há intérpretes do Apocalipse que vêem nessas figuras a união de louvor de toda obra criada por Deus.

Existe outra interpretação, porém. Alguns especialistas vêem o que há de mais nobre (o leão), de mais forte (o touro), o mais sábio (o ser humano) e o mais ágil (a águia) submissos ao Senhor, a nobreza, a fortaleza, a sabedoria e a agilidade, tudo e todos reverentes e ajoelhados diante daquele que é o Senhor, o Soberano, o que detém o Senhorio, Aquele que tem nas Suas mãos o domínio de todo o cosmos, de todas as coisas desde o Seu trono nos céus!

Estes seres são incansáveis no seu louvor, pois, "Não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-poderoso, aquele que era, e que é, e que há de vir", expressão que retrata o próprio Nome de Deus, Javé, "Eu Sou o que Sou", "Eu Serei o que Sempre Tenho Sido", ou seja, "o Eterno", "Aquele que Era, Que É, e Sempre Há de Ser".

Ao tempo que esse louvor está acontecendo, os 24 anciãos prostram-se diante do trono de Deus, e O adoram entregando-Lhe as coroas que têm na cabeça, enquanto cantam esta doxologia:

"Digno és, Senhor nosso e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, Pois tu criaste todas as coisas; e por tua vontade existem e foram criadas" (v. 11)

Parte XIV
O APOCALIPSE - Estudo 2
(Parte 2) Cartas às Igrejas da Ásia - (Ap 2 e 3)

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@click21.com.br

"Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Ap 2.7b)

Continuemos a examinar as igrejas da Ásia. São lições de relevância hoje quanto o foram há dois mil anos:

Tiatira, Penitente Sacrificada (2.18-29)

Não era cidade tão importante quanto outras sete. Mas seu nome é muito sugestivo: "Sacrifício de Arrependimento".

Nela funcionava uma cooperativa que fazia o comércio de ouro. Havia muitos joalheiros, ourives e comerciantes de ouro. A dita cooperativa era tão exclusiva que só os seus membros podiam comerciá-lo. Há uma boa e uma má notícia: a boa é que quem era sócio podia vender ouro à vontade (com certeza, outros faziam contrabando); a má notícia é que a cooperativa realizava festas em homenagem a uma divindade, considerada a padroeira dos comerciantes de ouro e joalheiros. Os crentes viviam numa grande tensão: ou renegavam a fé, e, assim, poderiam realizar transações comerciais ou passavam penúria.

Esse problema é encontrado ainda hoje, quando crentes precisam orar muito para não cair na tentação de ceder aos ídolos modernos, à imoralidade, ao compromisso com o Maligno.

Havia, porém, um seriíssimo entrave na igreja de Tiatira: uma falsa profetisa. O apóstolo João a identifica com Jezabel (a perversa rainha pagã que casou-se com o rei Acabe de Israel (1Rs 16.29ss.). Não tem sido difícil encontrar falsos profetas no meio chamado evangélico. Cuidado, muito cuidado com os falsos apóstolos, profetas e profetisas, bispos e "bispas" (a palavra correta é episcopisa), e pastores que aparecem ensinando novidades com se fosse a última palavra de Deus. Ora, se é novo não está na Bíblia, e se está na Bíblia não pode ser novo. Portanto, fuja deles! (cf. 2Jo 10)

A exortação é bem pesada e direta como demonstram os versículos 20 a 23. Mas a promessa de Cristo é extraordinária: "Ao que vencer [e nossa vitória está em Cristo, não esqueçamos!], eu lhe darei autoridade sobre as nações", o que significa compartilhar com o Rei dos reis da glória para todo o sempre!

Sardes, uma Alegre Canção (3.1-6)

Sardes significa "Cântico de Alegria". Jesus começa Se identificando como Aquele que tem os 7 espíritos e as 7 estrelas. Já sabemos que 7 é o número da plenitude, o número da obra completa. Então, "7 espíritos" tem referência com a plenitude do Espírito, a totalidade da Sua poderosa e maravilhosa obra no ser humano salvo, individualmente falando, e na Igreja de Cristo como Seu Corpo.

Mas a condenação que Jesus faz a Sardes é muito grave: "...tens nome de que vives e estás morto" (v. 1b). Sabe aquela história do "morreu e não sabia"? É o caso da igreja de Sardes: havia morrido e esquecera de deitar, tinha "um-pé-na-igreja-e-outro-no-mundo". Igreja hipócrita, imoral e apática, na qual não se praticava um relacionamento íntimo e sadio com Jesus Cristo e Seu Espírito.

Mas [louvado seja Deus!] nem tudo estava perdido, porque havia algumas pessoas que se mantinham puras. A figura usada é "vestiduras brancas" (v. 4), modo de falar de pureza de intenções e de alma.

Filadélfia, Irmãos que Se Amam (3.7-13)

É a cidade do "Amor Fraternal", significado do seu nome. Esta igreja não recebeu repreensão de Jesus. Que maravilha! É verdade que, como as outras, Filadélfia tinha seus deuses, seus templos pagãos, suas práticas religiosas. Observe como Jesus Se revelou a esses irmãos: "o santo, o verdadeiro..." O melhor conceito para a palavra santo é "diferente". Ser santo é ser completamente diferente. Um bom conceito para santo é "ser separado". Mas, o povo não acostumado com a linguagem da teologia bíblica não entende o que é ser separado para significar santo.

Muitas vezes, nem gente da igreja entende... Mas entendem quando se fala "ser crente é ser diferente". Isso porque nós não vamos praticar o que o mundo pratica, nem falar como lá fora se fala, nem andar como lá fora andam, nem pensar como lá fora pensam. Nossas mãos, pés, toque, palavras, ouvidos, olhos serão puros porque somos diferentes. E esse é o nosso Salvador, o Santo, o Diferente. Cristo é Santo porque nem de longe se iguala ou sequer parece com os deuses do paganismo.

Havia uma preocupação quanto ao relacionamento dos judeus com a igreja, e da igreja como missionária aos judeus. Por isso, Cristo também Se apresenta como o que "tem a chave de Davi". Cristo é o que abre a porta (cf. v. 8) para acesso à misericórdia de Deus a todos que sentirem o toque do Seu Espírito. Até mesmo os que pelas suas obras malignas faziam parte do que é chamado "sinagoga de Satanás" (v. 9).

As promessas para o vencedor são notáveis, lindas e abençoadoras, como mostra o versículo 12, "A quem vencer, eu o farei coluna no templo do meu Deus, de onde jamais sairá.

Escreverei sobre ele o nome do meu Deus, e o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém, que desce do céu, da parte do meu Deus, e também o meu novo nome". Na entrada do templo de Jerusalém havia duas colunas: Boaz e Jaquim, Beleza e Força, Majestade e Poder. O Senhor está dizendo que nos coloca como uma das já existentes, ou mais uma ao lado de Boaz e Jaquim, que será "aquele que vencer".

Laodicéia em Julgamento (3.14-22)

O nome Laodicéia quer dizer, "Povo do Julgamento". A última das cartas às igrejas da Ásia começa com Jesus Cristo Se revelando "o Amém". Essa é uma palavrinha muito boa porque, vindo do hebraico, significa "ter estabilidade", não se dobra, não cai, é firme, não pode mudar.

Se fôssemos traduzir, seria "eu admito" ou "eu permaneço em tudo o que foi dito ou pedido na oração". Quando oramos e dizemos "em nome de Jesus. Amém", estamos declarando "peço em nome do Salvador, e não abro mão da minha fé". Cristo, então, é "o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus", o inabalável.

Sua reclamação à igreja de Laodicéia é que ela é morna. Não é fria nem é quente. Isso quer dizer que sendo frio ou sendo quente, temos certeza absoluta de resultados é o que o Espírito Santo está dizendo na palavra de Jesus. Nós sabemos onde caminhamos, se em terreno firme ou instável. A igreja de Laodicéia não era assim: era indecisa. Por esse motivo, é chamada de "morna". Temos, pelo contrário, que saber se o "sim" é "sim" e o "não" é "não". Sendo... morno, é a falta de compromisso, mais uma vez mencionada.

A igreja dos laodicenses era muito cheia de orgulho. Eram auto-suficientes, mas espiritualmente miseráveis. Até diziam, "Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta..." Não parece o homem que derrubou os celeiros, construiu outros maiores e disse para si mesmo: "Agora tenho bens para muitos anos: vai, minha alma, come, alegra-te, diverte-te, folga"? À noite, foi-lhe indagado: "Louco, esta noite pedirão a tua alma, e o que tens preparado para quem será?" Pois. o mesmo aconteceu em Laodicéia: "Rico sou!..."Jesus diz: "...não sabes que és um coitado, e miserável, e pobre, e cego, e nu" (3.17). Aqui está a igreja de Laodicéia despida. "...Estou enriquecido, e de nada tenho falta". Jesus diz: "Tu és infeliz, Tu és miserável, Tu és pobre, cego e nu. E convida ao arrependimento e conversão, que é voltar para Ele. Jesus sempre convida com carinho, Ele não força: "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo Isso quer dizer comunhão. Estar com o Senhor é comunhão: Ele está conosco, e nós estaremos com Ele. Por esse motivo, o vencedor senta com Cristo com trono.

Esse é o alerta que o Apocalipse traz para nós, Igreja de Cristo no século 21 porque os problemas são os mesmos. A s igrejas do Apocalipse são tipos das igrejas modernas. Temos deixado vezes tantas o primeiro amor de nossa vida, por isso necessitamos de arrependimento. Somos perseguidos, caluniados e precisamos lembrar que Cristo deu o Seu sangue por nós, e se necessidade houver de darmos nosso sangue, a própria vida, a coroa eterna já está garantida.

Somos alvos de heresias que surgem praticamente todos os dias. É a tentação de querer fazer acordos com o Inimigo-de-nossas-almas, é a tentação do sucesso e das novidades.

Quantas vezes somos hipócritas, apáticos, impuros.

Sim, somos Éfeso deixando o primeiro amor; somos Esmirna alvo de calúnias da sociedade incrédula que nos persegue; somos Pérgamo com segmentos desviados da boa doutrina; somos Tiatira e seus falsos profetas, apóstolos mercenários e vaidosos bispos; Sardes que já havia morrido e não o sabia, bem como Filadélfia com seu problema de relacionamento com os judeus; somos também Laodicéia com a sua indefinição espiritual e orgulho.

Que aprendamos com estas sete igrejas que o melhor é mesmo ouvir a voz de Deus e receber a vitória assegurada por Cristo desde a Sua ressurreição.

Parte XV

O APOCALIPSE - Estudo 2
(Parte 1) Cartas às Igrejas da Ásia

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@click21.com.br

(Ap 2 e 3) - "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Ap 2.7b)

Sete cartas foram escritas a partir da visão inicial. A ordem dada ao apóstolo João foi explícita: "O que vês, escreve-o num livro, e envia-o às sete igrejas que estão na Ásia" (1.11), que são as seguintes: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes, Filadélfia e Laodicéia. A ordem, repetida em 1.19, desfaz no verso seguinte o primeiro mistério: as sete estrelas na mão direita do Cristo glorificado são os pastores destas igrejas (chamados de "anjos" na linguagem do Apocalipse) e os sete candelabros de ouro são as próprias igrejas. É fácil entender porque.

"Anjo" é palavra transliterada e vem da língua grega, como outras tantas. Nesta, angelos significa "mensageiro". Quem traz a mensagem de Deus para a igreja? O pastor. Quando alguém ora pedindo as bênçãos da igreja sobre o "anjo da igreja", ou seja o "mensageiro da igreja", está se referindo ao pastor. Na língua grega moderna, "carteiro" é angelos.

Os candelabros de ouro, são aqueles de sete braços (menorah, sing., menoroth, pl.).

Éfeso, a Cidade Desejável (2.1-7)

Apesar de serem as cartas destinadas a igrejas localizadas em cidades bem conhecidas, a quantidade de igrejas é significativa. Na linguagem bíblica, e, ainda mais, na linguagem em código do Apocalipse, 7 (sete) não é apenas um número entre outros, não tem apenas valor aritmético ou de quantidade. Para o mundo bíblico, os números têm valor moral e espiritual.

Isso significa que 7 significa "completo" ou "plenitude". A semana foi feita em seis dias, com o descanso do sétimo dia, temos a obra completa da parte de Deus. "Sete igrejas" é a soma conceitual das comunidades cristãs no mundo, inclusive a igreja local onde o leitor congrega; "sete anjos" é expressão que representa a plenitude dos pastores que há no mundo. São as igrejas e seus pastores com o que têm de forte e de fraco, com suas virtudes e defeitos, com o seu lado bom e o seu defeituoso, o que, por sinal, é destacado e definido em cada carta. Cada carta apresenta o lado correto e o lado problemático da igreja.

A estrutura das cartas é a mesma para todas: o remetente se identifica, demonstra conhecimento do ambiente externo e interno da igreja, faz exortações e promessas.

Éfeso, nome que significa "Desejável", era uma cidade com dois importantes destaques: era porto, tendo como conseqüência ser uma conceituada cidade comercial, e era, igualmente, centro de uma terrível idolatria, que era o culto à deusa Diana, também chamada Ártemis, onde um templo lhe fora dedicado. Este templo é considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo. A deusa Diana, por sua vez, era chamada "a Mãe dos Céus", e seu culto era caracterizado pela orgia e licenciosidade, visto que era um culto de fertilidade. A estátua que a representava era a de uma mulher belíssima, mas horrorosa num aspecto: seu tórax e ventre eram cobertos de seios, para simbolizar a fertilidade.

À igreja cristã da cidade de Éfeso, Cristo glorificado se identifica como "aquele que tem na mão direita as sete estrelas, que anda no meio dos sete candeeiros de ouro" (v. 1). É o Senhor que detém o poder e está presente na vida e nas ações da igreja, pois, diz Ele, "Conheço as tuas obras. E o teu trabalho, e a tua perseverança". Sabe das excelentes qualidades daquela igreja que fora pastoreada pelo próprio apóstolo João (cf. vv. 2, 3).

Cristo passa a fazer exortações: "... deixaste o primeiro amor. Lembra-te de onde caíste! Arrepende-te..." (vv. 4, 5). A igreja tendo perdido o seu primeiro amor, passou a amar o comodismo, ao tempo que deixou de ser altruísta, vivendo para si e para o seu egocentrismo.

Tornou-se mundana, prejudicada pela facilidade de viver uma vida sem maiores compromissos com Cristo Jesus. É o que acontece quando uma igreja deixa de ter compromisso com o seu Senhor.

No entanto, no evangelho, há sempre oportunidade para quebrantamento e mudança de direção. Como são importantes no verso 5 estas exortações: "Lembra-te...", "Arrepende-te..." e "Pratica..." E não pode haver tolerância com as heresias, como a mencionada no verso 6: a dos nicolaítas. Tudo isso vale para a igreja de hoje.

Quem eram os nicolaítas? Tudo o que foi dito para aquele tempo vale para hoje. Eram eles os que dentro da igreja defendiam a absoluta sujeição dos leigos em relação aos bispos ou pastores das igrejas, a organização de um regime dentro da igreja que como os outros governos, estabelece leis, regras, normas, práticas para o povo. É agir pela mente e egoísmo humanos; é usar o recurso do governo humano em vez das ordenanças da Palavra de Deus e da sensibilidade para ouvir o Espírito de Cristo. É a mentalidade política posta a serviço do mando, comando e desmando, prática que está entrando em algumas ditas igrejas e comunidades evangélicas, quando até o namoro de um casalzinho da igreja ou comunidade só acontece se o pastor permitir.

Como termina esta carta: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. Ao que vencer..." [Se apesar de tudo, você passar incólume, que vai acontecer?] "... dar-lhe-ei a comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus". É só o que queremos: vida sobre vida, graça sobre graça, e bênção sobre bênção!

Esmirna, um Perfume Suave (2.8-11)

Cristo Se apresentou a essa igreja de modo diferente. Ele é "o primeiro e o último, o que foi morto e reviveu" (cf. 1.8, 17b, 18). Ele identifica esta igreja como atribulada, pobre (apesar de rica) e marcada pela blasfêmia interna. Esmirna era, como Éfeso, uma cidade rica, e centro religioso. Seu nome quer dizer "Perfume Suave". No entanto, sua religião, não era o culto a Diana ou a qualquer deus da mitologia grega ou romana. Cultuado era o próprio imperador, o que significava que deixar de cultuá-lo era crime contra o próprio Estado romano, crime chamado de lesa-estado ou lesa-majestade, passível de ser punido com a morte.

A igreja de Esmirna não estava fria como a de Éfeso que havia deixado o primeiro amor.

Seu problema eram as perseguições e calúnias que viriam, razão porque precisava de forças, de poder espiritual para suportá-las (cf. v.10). E realmente isso aconteceu anos depois: Diocleciano, o imperador de Roma, moveu uma perseguição que se iniciou em 303 e durou até 313, dez anos chamados de "dez dias" em 2.10, quando o cristianismo passou a ser reconhecido com religião do Império Romano por Constantino.

É nesse contexto que vem uma das mais citadas frases da Bíblia Sagrada: "Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida" (v.10b), que realmente quer dizer "sê leal e perseverante até o ponto de dar a tua vida, e receberás como recompensa a glória da abençoada ressurreição ao lado do Senhor".

Pérgamo, a Elevada (2.12-17)

A importância de Pérgamo, nome cujo significado é "Altura, Elevação", era mais política e religiosa que econômica. A ênfase religiosa estava no culto ao imperador. Haja vista o grande número de templos que lhe eram destinados. Era uma arriscada aventura ser cristão na cidade de Pérgamo por esse motivo. Era ali que estava o trono de Satanás e o lugar de sua habitação (cf. v. 13). Além do imperador ser cultuado, havia outros quatro cultos: a Zeus, a Atenas, a Dionísio (o Baco dos romanos), e o Culto de Esculápio (Asclépio), o deus da Medicina. Era uma cidade altamente mística.

Não sabemos exatamente o que era o "trono de Satanás" do verso 13. Mas o leitor pode escolher a mais razoável das idéias que serão apresentadas, porque nem os especialistas afirmam com segurança sobre isso:



Há quem diga que foi um altar levantado ao imperador César Augusto, refere -se ao culto do imperador;


Uma colina na cidade com muitos altares aos deuses pagãos;


O altar dedicado a Zeus cuja base tinha 240m de altura, um verdadeiro edifício com o altar em cima;


Poderia ter sido a adoração do deus da Medicina, Esculápio, cujo símbolo era uma serpente, uma cobra. Perguntem aos médicos porque o símbolo da arte médica são duas cobras a verdadeira interpretação. Contaram-me que é porque se o paciente viver, o médico cobra; se morrer, o médico cobra...


Talvez toda a cidade fosse o "trono de Satanás".

O fato é que interessa-nos a igreja, e nela havia heresias. Estavam presentes naquela comunidade os que seguiam a doutrina de Balaão (v. 14) e os nicolaítas (v. 15), os mesmos de Éfeso.

Os seguidores da doutrina de Balaão são os aproveitadores que querem tirar vantagem da igreja! São os mercenários, os enganadores do povo crédulo, que, como o falso profeta Balaão, queriam exercer o ofício profético, apostólico e pastoral a troco de vantagens pecuniárias. Havia prostituição, idolatria e coisas assemelhadas na igreja de Pérgamo. Já que Satanás não pôde destruir a igreja, procurou corrompê-la, pois não pode existir arma mais eficaz a favor dos planos do Inimigo-de-nossas-almas que uma igreja sem testemunho, corrupta, cheia de pessoas não-convertidas, como o mundo atual tem visto com intensa freqüência.

A exortação feita pelo Senhor é muito direta e dura. Ele diz: "Arrepende-te, pois! Se não em breve virei a ti..." (v. 16). Essa exortação é para nós também, sem dúvida.

(Continua)

Parte XVI
O APOCALIPSE - Estudo I
(Parte 2) O Livro da Vitória

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@click21.com.br

João foi um dos homens escolhidos por Jesus para Seu discipulado. A história de sua chamada encontra-se no Evangelho de Mateus 4.21. É chamado de apóstolo, palavra não traduzida, mas transliterada porque veio diretamente da língua grega e significa "comissionado" ou "enviado".

Essa é uma qualidade pertinente à Igreja de Jesus Cristo, que por ser enviada ao mundo tem a reconhecida qualidade de ser apostólica. Não é um título especial para pessoas supostamente especiais que se auto-intitulam "Apóstolo Fulano de Tal". João e os outros discípulos foram comissionados por Jesus Cristo, e por esse motivo assim foram denominados. Os doze discípulos que andaram com Jesus foram tão apóstolos quanto qualquer um dos hodiernos crentes em Jesus Cristo é apóstolo, um comissionado, um enviado do Senhor Jesus onde estiver, seja na fila do ônibus, na do banco, na feira, na escola, em casa, na loja ou na caserna.

O Apóstolo Vidente (1.9,10)

João é também denominado "O Vidente de Patmos". Patmos é a ilha da Ásia Menor (hoje Turquia) onde ele teve essa visão. Vidente é quem teve ou tem uma visão. A Bíblia ensina que os profetas eram antigamente chamados de "videntes" (cf. 1Sm 9.9). Isso significa que o livro do Apocalipse é um livro profético, é O livro marcadamente profético do Novo Testamento.

João estava exilado naquela ilha, por causa do evangelho. Ele o diz no verso 9, quando explica aos seus leitores que é participante das mesmas perseguições pelas quais os primeiros leitores do Apocalipse estavam passando. Naquela ilha, teve uma inesquecível visão num dia de domingo, que é o sentido da expressão "dia do Senhor" (em latim, diz-se dies dominica, que evoluiu ao longo da história da língua portuguesa para nossa forma "domingo").

Essa identificação é necessária para que seus leitores compreendam que também ele experimentou e continua experimentando em Patmos o ódio dos perseguidores do evangelho. Tanto quanto os demais crentes, João é "irmão vosso e companheiro nas aflições". Só alguém que tivesse passado pelo que eles estavam passando poderia falar de modo tão direto ao sofrimento e ao coração, e exortá-los a serem firmes na paciência e no aguardo das soluções a serem trazidas pela mão do Senhor. A leitura do livro dos Atos dos Apóstolos nos faz entender o alcance da ira dos ímpios do Império Romano contra Jesus e Seu evangelho. Por sua vez, todo o capítulo 4 da Segunda Carta aos Coríntios mostra como o apóstolo Paulo descreveu as perseguições que enfrentou.

Não se pode negar que o Império Romano era tolerante para com as religiões, quaisquer que fossem. Porém, isso acontecia se o cultuante também reconhecesse a divindade e senhorio do imperador. Esse não era o caso dos cristãos que não aceitavam repartir a lealdade entre Deus e Seu Filho e César e o Império Romano. Nunca passaria pela cabeça de um cristão do primeiro século ter a sua fidelidade dividida. Por esse motivo, João estava em Patmos, afastado do convívio dos seus queridos irmãos de fé.

Quem Se Revela

Jesus Cristo Se apresenta ao apóstolo João com "uma grande voz, como de trombeta" (v. 10). Isso destaca o poder e autoridade de quem está falando. E quando Jesus fala, dá ao apóstolo uma missão: "O que vês, escreve-o num livro" (v.11a). Esse livro (o da Revelação, o Apocalipse) seria repassado a sete igrejas localizadas na atual Turquia (a região naquela época era parte do Império Romano, falava a língua grega e era conhecida como Ásia Menor, como mencionado acima).

João se volta para ver quem fala (v. 12), e viu uma linda e forte visão: sete candelabros de ouro, e no meio deles um homem com roupas sacerdotais com uma aparência tão impressionante quanto assustadora: cabeça e cabelos brancos, olhos como chamas, pés brilhantes, voz poderosa, portando sete estrelas na mão direita, e, saindo de sua boca, uma espada de dois gumes.

Apesar de parecer o contrário, a visão não é para amedrontar: mas, sim, para encorajar, pois só um Cristo poderoso, majestoso, impressionante, guerreiro e de palavra direta e segura despertaria o ânimo, a fé e a coragem daqueles sofridos cristãos do primeiro século.

Jesus não fora chamado no verso 5 de "príncipe dos reis da terra"? Dele não fora exclamado no verso seguinte "a ele seja glória e poder para todo o sempre"? Como não ser descrito nesta visão com imagens tão fortes e impressionantes? Isso faz lembrar o profundo hino 96 do Cantor Cristão que demonstra a admiração do seu poeta quando diz "Se nos cega o sol ardente, quando visto em seu fulgor, quem contemplará Aquele que do sol é criador?"

Que Aconteceu ao Apóstolo João?

Nos versículos 17 a 20, o escritor relata o que lhe aconteceu quando teve a visão: ficou como morto aos pés do Senhor Que Se revelava de maneira tão ofuscante. João caiu; é verdade. Mas o propósito de Jesus Cristo é sempre erguer a pessoa humana. Jesus não derruba. Há igrejas ensinando que no poder do Espírito (que espírito?), muita gente anda sendo derrubada?! O Jesus sobre Quem leio no Novo Testamento nos respeita! Ele dá sempre salvação, dignidade, paz e objetivo para a vida. Jesus Cristo não deixa no chão e sempre faz serenar o espírito abalado.

Assim, registra João, "ele pôs sobre mim a sua mão direita, dizendo: Não temas." Essa é a suprema mensagem do evangelho: Não tenhas medo! Quando a jovem Maria recebeu a visita do anjo: "Maria, não temas..." (Lc 1.30). Quando caminhava sobre o mar, disse Jesus ao temerosos discípulos no barquinho, "... sou eu, não temais" (Mt 14.27). A um homem chamado Jairo cuja filha estava enferma, Jesus deu uma palavra de tranqüilidade, "Não temas, crê somente" (Mc 5.36). Na manhã da ressurreição, as mulheres ouviram do mensageiro divino: "Não tenhais medo..." (Mt 28.5). Precisa dizer mais?

Pois é; o Cristo glorificado, poderoso e vitorioso o encoraja e dá, outra vez, as credenciais: "Eu sou o primeiro e o último. Eu sou o que vivo; fui morto, mas estou vivo para todo o

sempre! E tenho as chaves da morte e do inferno". Esse não é outro senão o mesmo que disse, "Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá, e todo aquele que vive e crê em mim, nunca morrerá. Crês isto?" (Jo 11.25,26). E você, crê? (Continua)

Parte VII
O APOCALIPSE - Estudo I
(Parte 1) O Livro da Vitória

Autor(a): PR. WALTER SANTOS BAPTISTA

Pastor da Igreja Batista Sião em Salvador, BA - E-Mail: wsbaptista@click21.com.br

Estaremos penetrando na fascinante aventura de caminhar nas páginas do livro do Apocalipse, considerado por muitas pessoas como de difícil entendimento. É um livro fascinante pelo colorido, pelo grafismo, tendo o Espírito de Deus colocado na pena do apóstolo João a revelação de Jesus Cristo de tal modo que cores, figuras, números, tudo fala de um modo muito particular, porém preciso, por meio do simbolismo envolvido. Quase que sentimos os odores das batalhas, do mar, do fogo, dos incêndios, da fumaça, dos embates que se sucedem. Para algumas pessoas o Livro do Apocalipse tem sido misterioso, de árdua compreensão. Não o é, garantimos aos leitores.

Para os seus primeiros leitores, o Apocalipse era mensagem de fácil e cristalina compreensão. E pode ser o mesmo para nós. Só temos que saber como decodificá-lo. Assim fazendo, sua leitura se torna adequada, trazendo lições práticas para quem vive no século 21, apesar da distância que nos separa de João, a Igreja apostólica e suas circunstâncias. Mas é preciso entender, inicialmente, o que significa a "literatura apocalíptica".

A Literatura Apocalíptica Para os Crentes da Antiga Aliança

Antes do livro do Apocalipse ter sido escrito por João, já existiam outros livros que, no entanto, não foram canonizados, ou seja, não foram considerados sagrados e úteis para serem colocados no cânon ou rol dos livros da Bíblia. Apesar disso, há trechos nos livros proféticos que apresentam claramente as características desse tipo de literatura. É o caso do livro de Ezequiel, capítulos 1 e 2. Bastam esses dois capítulos para se ter uma idéia do que queremos explicar. Daniel, igualmente, é um profeta com características profundamente apocalípticas, como pode ser visto nos capítulos 2 a 4, o mesmo acontecendo com Zacarias, o penúltimo livro do Antigo Testamento. A partir do capítulo 1, há uma série de visões: oito ao todo até o capítulo 6.

Mas que características são estas da chamada literatura apocalíptica? Entendamos: um livro apocalíptico não é para ficar fechado e sem compreensão. Pelo contrário, o próprio nome da literatura já diz o seu objetivo. Apocalipse é uma palavra grega que se traduz como "revelação", como pode ser conferido em Apocalipse 1.1, a abertura do livro que explica de quem vem a revelação: "de Jesus Cristo"!

As principais características são o uso constante de números, cores, animais (alguns extrema e curiosamente estranhos e amedrontadores), cidades, pessoas, tudo muito simbólico, mas plenamente adequado. Veremos esta questão de números quando falarmos das igrejas que são 7, dos 144.000, dos 1000 anos. Cada cor tem um sentido. Alguns animais são efetivamente muito estranhos: nunca vimos um dragão, menos ainda com 7 cabeças e 10 chifres. Tudo é simbólico, e repassa uma lição dentro das funções para as quais o livro foi escrito.

Para o antigo Israel, o centro de atenção era a própria nação e a defesa de sua fé, de sua Lei, de sua existência como povo escolhido por Deus. No Novo Testamento (que é a aliança renovada no sangue de Jesus Cristo), o centro de interesse é a Sua Igreja, sua fortaleza e vitória, apesar de tudo: das perseguições, das heresias, dos martírios, do sangue derramado. O livro quer enfatizar que, apesar dos pesares, somos vencedores, com a vitória garantida por Jesus Cristo, Rei dos reis e Senhor dos senhores!

A Literatura Apocalíptica Para a Igreja do Período Apostólico

Para nossos irmãos da Igreja dos primeiros dias, no período apostólico, portanto, o livro do Apocalipse era uma maravilhosa mensagem de esperança. No fim do primeiro século da era cristã, viviam eles sob perseguição. Quem era cristão podia perder literalmente a cabeça, razão porque necessitavam desta mensagem de profunda esperança.

No fim do primeiro século viviam sob perseguição. Domiciano, o imperador romano, foi um terrível perseguidor da nascente Igreja Cristã. Famílias eram perseguidas, filhos separados de seus pais, adultos e crianças, mortos por causa da fidelidade ao Salvador.

Numa situação como essa, o encorajamento vinha em forma de exortação, de mensagens em código, em que o Maligno e tudo o que lhe era peculiar eram retratados com nomes ou figuras de fácil compreensão para os perseguidos. Códigos e símbolos também eram usados para Jesus Cristo, o Bem e tudo o que pertencia ao reino de Deus. Dá perfeitamente para entender o drama porque passavam e a palavra de esperança no meio da perturbação de que precisavam. O Apocalipse é sobre o tema da perseguição e vitória.

É preciso esclarecer que a perturbação não vinha só do governo imperial. Havia problemas dentro da própria comunidade cristã. Eram as heresias, que, aliás, são mencionadas no Apocalipse.

Temos, então, a destacar uma boa e uma má notícia. A má notícia é que tudo isso ainda hoje acontece. Temos perseguição velada, a mídia, jornais, TV perseguem terrivelmente os evangélicos, caricaturam-nos, inventam mentiras, os evangélicos históricos são colocados na mesmo balaio de grupos arrivistas e exploradores da fé popular.

A boa notícia é que temos uma fonte de fortalecimento no livro do Apocalipse, que, a despeito dos seus dois mil anos, tem mensagem de extrema atualidade, pois as perseguições (de outra forma, é verdade) e as heresias (com outras roupas) estão aí. Tudo está bem destacado nesse que é o livro dos símbolos divinos.

O Livro da Revelação

O que está relatado nos versos 1 a 8 do capítulo primeiro não é coisa pequena. Pelo contrário, são lições de altíssima importância, e as principais são que

O Salvador é Quem traz a mensagem de revelação e,
Ele mesmo, Jesus, é o centro de toda a mensagem deste livro tão cheio do brilho da glória divina.

Observe o modo como Aquele que faz a revelação, Jesus Cristo, é descrito. Note as expressões que João usou para descrever o Revelador. É "a fiel testemunha, o primogênito dos mortos e o príncipe dos reis da terra". E mais ainda: "Aquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados". Estas expressões se encontram no verso 5.

O verso seguinte introduz outros belos conceitos como "e nos fez reino e sacerdotes para o Seu Deus e Pai". Jesus Cristo, por Sua vez, diz no verso 8, "Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, ... aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-poderoso". Alfa é a primeira letra do alfabeto grego, Ômega é a sua última letra. É como disséssemos "Eu sou o A e o Z". Por isso, Jesus repetiu o conceito para ficar bem explícito: "(eu sou) o princípio e o fim". Realmente, nossa fé está em Jesus como esclarece a Carta aos Hebreus, "Olhando firmemente para Jesus, autor e consumador da nossa fé" (12.1). Tudo começa e tudo termina com Jesus Cristo!

Que sugestivas descrições do nosso Mestre... Não nos cansamos de cantar a fidelidade de Deus e de Jesus Cristo; não podemos parar de falar de Sua ressurreição dentre os mortos, e exaltamos Seu senhorio sobre todas as coisas. Seu amor é eterno, Sua salvação, perfeita nada deixando por fazer, e, por fim, nos escolheu nEle mesmo para sermos intercessores.

Sim; este é o nosso Salvador, Mestre e Senhor de nossas vidas! É o Autor e Consumador de nossa fé, a Quem esperamos na Sua majestosa e gloriosa Parusia, Sua Segunda Vinda!

Falando de Visões (Ap 1.9-20)

l Este é um trecho do primeiro capítulo do Apocalipse pleno de cores e rico de ensinamentos. Descreve a perturbação que dominou o apóstolo João ao ver o Cristo glorificado, e apresenta-nos a Pessoa de Jesus numa glória tão extraordinária que palavras humanas são pequenas demais para qualificá-la. Por esse motivo, João utilizou expressões como "voz como de trombeta", "olhos como chama de fogo", "voz como a de muitas águas", "rosto como o sol", etc., porque não tinha como descrever a grandeza e a majestade do que via.

Esse fato, levou o escritor a se utilizar de figuras estranhas e diferentes por lhe faltar conceitos mais lógicos, mais claros e, até, mais humanos. Não se esqueça, porém, que estamos num ambiente de códigos, sinais e criptografia (linguagem cifrada) que a Igreja daqueles dias podia entender com clareza.

Essa questão de linguagem cifrada é interessante. Na Segunda Guerra, o exército norte-americano estava tendo seus códigos decifrados pelos alemães. Ficaram os aliados muito prejudicados porque mensagens, ordens, movimento de tropas estavam sendo decodificados pelos adversários. Resolveram o problema utilizando soldados que eram nativos americanos, índios, portanto, que transmitiam as mensagens em sua língua tribal para um receptor que estava em outra área de combate, que retraduzia para o inglês e a entregava ao comandante. Não havia como os alemães entenderem o que era transmitido.

A criptografia é uma verdadeira ciência em nossos dias. Os bancos utilizam linguagem criptográfica, transações envolvendo milhões de dólares fazem uso da criptografia.

(Continua)


parte VIII

SINAIS DOS TEMPOS FINDOS

Autor(a): PR. AIRTON EVANGELISTA DA COSTA

E-Mail: aicosta@secrel.com.br - www.palavradaverdade.com

As dores de parto estão se amiudando, ficando mais intensas, mais fortes, mais preocupantes. A violência explode em todo o mundo. Violência no trânsito; violência sexual; violência contra a vida; contra a mulher; contra crianças. Para completar o quadro, a violência dos abortos provocados: 238.874 curetagens pós-parto foram realizadas no Brasil, em 1997, 22% em jovens de 10 a 19 anos. Milhões de homens, mulheres e crianças obrigados a um exílio forçado pelas circunstâncias, em várias partes do mundo. Tribos em guerra fratricida. Milhares fugindo de ditaduras, de perseguições. Fugindo dos próprios compatriotas, da terra natal, de suas origens. Fugindo sem destino certo, sem rumo. Nas maiores cidades do Brasil as autoridades se declaram incompetentes diante das atrocidades de gangues.

"Porquanto se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, e pestes, e terremotos, em vários lugares. Mas todas essas coisas SÃO O PRINCÏPIO DAS DORES... muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se aborrecerão. E por se multiplicar a iniquidade o amor a muitos esfriará... olhai, não vos assustei, porque é mister que isso tudo aconteça, mas ainda não é o fim" (Mateus 24.1-14). Terremotos e furacões se sucedem, cada vez mais fortes. Água potável, indispensável à vida humana, escasseia em várias partes do mundo, como é exemplo o nordeste brasileiro. A UNESCO declarou que a "próxima guerra mundial será deflagrada pela disputa de água potável".

As estatísticas da fome mundial é assustadora. Trezentos milhões de miseráveis na Índia. A malária nunca foi erradicada do planeta e continua matando milhões. Câncer e AIDS, outro tanto. O sexo entre não casados tornou-se uma prática normal em nossa sociedade depravada, não apenas no Brasil. É o aumento da iniquidade, da depravação e do desrespeito à Palavra de Deus. O produto disso são divórcios que geram famílias desestruturadas e filhos sem esperança. O adultério, a traição entre cônjuges, são uma rotina em nosso meio. "Nenhum fornicador, ou impuro... tem herança no Reino de Cristo e de Deus"(Efésios 5.5). "Não adulterarás"(Êxodo 20.14).

As drogas estão ceifando vidas jovens, alcançam adolescentes e penetram nas escolas: em 45% das escolas públicas do Brasil há tráfico de drogas. Pesquisa realizada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas do Rio (Nepad) concluiu que 27 mil estudantes de escolas públicas do Rio usam drogas com freqüência. "Não sabeis que os injustos não hão de herdar o reino de Deus? Não erreis: nem impuros... nem bêbados herdarão o reino de Deus" (1 Coríntios 6.9-10).

Satélites da Nasa detectaram que o buraco na camada de ozônio sobre a Antártica se estende agora por 27 milhões de quilômetros quadrados, cinco por cento maior que o tamanho máximo alcançado em 1996. "A temperatura global poderá aumentar cerca de 3,5 graus centígrados até o ano 2.100, a maior mudança climática em dez mil anos", concluiu a Quarta Reunião da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança Climática. A verdade é que em muitas partes do mundo o calor está aumentando. Enormes blocos de gelo se deslocam das regiões polares. Reflitamos:

"E os homens foram abrasados com grandes calores... e não se arrependeram" (Apocalipse 16.9; Malaquias 4.1).

Não é por menos que as queimadas em várias partes da Terra estão devorando as matas. Dez por cento da floresta amazônica - o pulmão do mundo - foram devastados nos últimos 50 anos, em decorrência da ação predatória do homem. É bom que façamos uma reflexão para o que o Apóstolo Paulo disse:

"Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com DORES DE PARTO até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo"(Romanos 8.22-23).

Os homens estão cada vez mais ansiosos e deprimidos, ora porque não conseguem superar as dificuldades economico-financeiras, ora porque não conseguem acompanhar o ritmo do progresso, ora porque se sentem excluídos da sociedade organizada e elitizada. O século XXI será das doenças do cérebro, como resultado do esforço do homem para acompanhar a rápida evolução social. Esta a declaração do diretor de Saúde mental da Organização Mundial da Saúde (OMS), Dr. Jorge Alberto Costa e Silva. Vinte e cinco por cento da população mundial sofrem de ansiedade. Reflitamos:

"Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes, as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus, pela oração e súplicas, com ação de graças. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos sentimentos em Cristo Jesus"(Filipenses 4.6).

A ansiedade e oconseqüente medo do povo brasileiro, por exemplo, produzem uma corrida alucinada aos jogos de azar. Ali, no jogo, depositam suas esperanças jovens, velhos e até crianças. E o Brasil que até há pouco tempo colocava barreiras à instalação de cassinos, tornou-se num grande cassino ao permitir toda sorte de jogatina. "Os que querem ficar ricos caem em tentação e em laço, em muitas concupiscências loucas e nocivas, as quais submergem os homens na ruína e perdição" (1 Timóteo 6.9).

A par de todos esses desvios, em que os valores éticos, morais e cristãos são desprezados, a prática do espiritismo e do satanismo cresce a olhos vistos. Os búzios, os tarôs, os baralhos ciganos; numerologia, mapa astral, cristalomancia, e outras práticas esotéricas de adivinhação e feitiçaria são procuradas por milhões de desesperançados brasileiros - ovelhas sem pastor - como náufragos à procura de uma tábua de salvação. Confiam mais na palavra do pai-de-santo, do Dr. Fritz; mais na palavra dos demônios (orixás, caboclos, espíritos guias) do que na Palavra de Deus. Para reflexão:

"Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios (1 Timóteo 4.1).
"Quando vos disserem: consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram entre dentes; não recorrerá um povo ao seu Deus? A FAVOR DOS VIVOS INTERROGAR-SE-ÃO OS MORTOS?" (Isaías 8.19)
"Não vos voltareis para MÉDIUNS, nem para FEITICEIROS, a fim de vos contaminardes com eles. Eu sou o Senhor vosso Deus"(Levíticos 19.31).
"Não haja no teu meio quem faça passar pelo fogo o filho ou a filha, nem ADIVINHADOR, nem prognosticador, nem agoureiro, nem FEITICEIRO, nem encantador, nem NECROMANTE ,nem mágico, nem QUEM CONSULTE OS MORTOS. O Senhor abomina todo aquele que faz essas coisas" (Deuteronômio 18.9-12).
"Mas quanto aos feiticeiros...a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, que é a segunda morte" (Apocalipse 21.8).
Desnecessário continuarmos expondo as feridas da humanidade. Muitos reconhecem que a situação não é nada boa. O sistema mundial, quer seja gerido ou conduzido pelo Comunismo ou pelo Capitalismo, por governos democráticos ou ditatoriais, faliu. O fosso entre ricos e pobres aumenta. Os dois bilhões de miseráveis deste planeta são o retrato falado da incompetência, da prepotência, do desamor e da depravação do homem. Porém, Deus não está de braços cruzados. Assim como nos tempos de Noé e de Ló, Ele sabe o dia e a hora e até os segundos em que o seu grande dia - o Dia do Senhor - terá início. Nos dias de Noé, Deus vendo que "a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente", e que "a terra estava cheia de violência", exterminou todos os seres viventes através do dilúvio. Pela mesma razão as cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas com seus habitantes, por se multiplicarem a violência, a imoralidade e a injustiça.

Em nossos dias, a promiscuidade sexual e a maldade dos homens alcançaram níveis insuportáveis. O sistema mundial está falido, e não podia ser de outra maneira porque "o mundo jaz no maligno"(1 João 5.19). Satanás é o deus deste mundo, e na sua ação devastadora ele deseja "matar, roubar e destruir". Satanás é o maior inimigo do homem porque o homem é a obra-prima de Deus. Quando os homens se rebelam contra Deus, ficam automaticamente sob o domínio do Maligno e, nessa condição, os desejos carnais predominam: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, iras, pelejas, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias (Gálatas 5.19-21).

Os que amam as coisas deste mundo, ou seja, os que fazem parte do processo mundano; os que estão se sentindo muito bem na prática do adultério, das drogas, da mentira, da idolatria, da consulta aos mortos, esses não estão vendo nada de anormal à sua volta. A razão é porque estão cegos: "Se ainda o nosso evangelho está encoberto, para os que se perdem está encoberto. Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos para que não lhes resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus" (2 Coríntios 4.4) . Quem está morto não sente o peso do pecado, porque defunto não sente dor. Quem nasce e vive em trevas não sente muita necessidade de luz. Quem está atolado em excremento até o pescoço não sente a fedentina ao seu redor. Mas quem está fora do processo, como gotinhas reluzentes de óleo pairando sobre águas turvas, enxerga, sente e geme diante da situação caótica do mundo. Os gemidos dos filhos de Deus são no sentido de apressar a vinda do Senhor Jesus, pela pregação do Evangelho. "E ESTE EVANGELHO DO REINO SERÁ PREGADO EM TODO O MUNDO, EM TESTEMUNHO A TODAS AS GENTES, E ENTÃO VIRÁ O FIM" (Mateus 24.14).

A Bíblia nos diz que Cristo voltará, mas ninguém sabe em que dia e hora Ele voltará. O próprio Jesus declarou que o fim viria somente depois que todos os povos tomassem conhecimento da Verdade evangélica. A meu ver, isso não elide a possibilidade de estarmos no "princípio das dores".

Parte XIX


666 - Você tem medo do diabo?

Autor(a): PR. AIRTON EVANGELISTA DA COSTA

E-Mail: aicosta@secrel.com.br - www.palavradaverdade.com


Esta data, 6/6/2006, está mexendo com a cabeça de muita gente. Já lançaram até um louvor violento para combater as forças do mal. Há um alvoroço no ar. Os espirituais estão em alerta máximo. Algo fantástico poderá acontecer neste dia em que o número da besta – “666” - está bem definido. Forças malignas poderão fechar igrejas, matar crentes, derrubar ministros.

O título desta matéria poderia ser “você tem medo de gato preto?”. Tem medo de sexta-feira, dia 13?

Deixamos para trás as superstições do Egito, adentramos no reino da Luz e temos autoridade sobre o diabo e seus anjos. É ele, o diabo, que tem de fugir de nós. É ele que se treme espavorido ao ouvir o poderoso e insuperável nome do Senhor Jesus: “Sujeitai-vos, pois a Deus, resisti ao diabo, e ele fugirá de vós” (Tg 4.7). Não invertamos os valores. Não coloquemos os carros na frente dos bois. Se o diabo tivesse poder para acabar com a raça de crentes, já teria feito de há muito. Já teria acabado com a Igreja. Os satanistas não trabalham apenas em dias determinados. Todos os dias, dia e noite, estão tramando um meio de impedir o avanço da Igreja. Deixemos que façam suas macumbas e tramóias, seus feitiços e despachos. Nada, nada mesmo poderá atingir os nascidos de Deus, que não vivem no pecado (1 Jo 5.18).

Pelo que tenho lido, parece que muita gente está com medo de um ataque infernal neste dia seis de junho. O que aconteceu de fantástico no mundo espiritual no dia seis de junho de 66, ou no ano 666 antes e depois de Cristo? Nada. O diabo e seus demônios já estão derrotados. Há um inferno novinho preparado para eles (Mt 25.41). Sabemos que o Maligno age de formas sutil e ardilosa, mas estamos gastando muita munição e fazendo muito alarido com pouca coisa.

Conta-se que certo homem de Deus foi informado que uma pessoa estava na sala de sua casa e queria falar-lhe. Ao chegar à sala, verificou que era o diabo. Então lhe disse: - Ah, é você? Pensei que fosse outra pessoa. Depois, retornou tranqüilamente aos seus aposentos, e foi dormir.

É vergonhoso o temor de alguns diante de uma simples conjectura em torno de uma data. É vergonhoso ver a Igreja gloriosa tremendo diante de um supersticioso seis de junho, como se o Senhor da Glória estivesse de braços cruzados, impassível, assistindo aos desmandos das hostes malignas. Vivemos em permanente batalha espiritual, não apenas nos dias, meses e anos terminados em seis. Você está com a armadura de Deus? Se você estiver com sua vida no altar, firme na Rocha, não tema. Você é mais do que vitorioso.

Sem nadas mais graça e Paz da Parte de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo