TEOLOGIA - PARTE 14

Estudo Sobre a Ética Crista
Parte – I
A ÉTICA NA FORMAÇÃO PASTORAL
A batalha pelo ser humano, nesta era pós cristã, dar-se-á no campo da ética. Não só porque o que está em pauta é a questão das finalidades, mas, também, porque é único campo onde as forças pró ser humano podem travá-la. A globalização já decidiu o rumo da vida humana nos campos econômicos e sociais, a sociedade já está estruturada de modo irreversível, independente das forças que assumam o poder nas nações, pois, o que está em curso é supra-nacional. Resta, portanto, o campo da ética.

Julio Santa Ana, in Tempo e Presença, n# 295 em seu artigo "Ética, cinco anos depois...",nos dá um quadro sobre a questão ética nos relacionamentos internacionais: 1- o crescimento da economia mundial e o desenvolvimento tecnológico já permitiria a diminuição da carga horária para os trabalhadores, permitindo mehor desfrute do progresso, os empresários, entretanto, optaram pela despensa de funcionários e, mais que isso, pela exclusão do mercado de toda uma massa de trabalhadores ; 2- no plano geopolítico, os Estados Unidos da América, dada sua inquestionável superioridade bélica, tornaram-se o xerife do mundo: estão em condições de intervir em qualquer conflito mundial, garantindo, assim, um clima de paz, porém, só o fazem de acordo com os seus interesses particulares; 3- a cultura que está sendo disseminada é a mass media, a cultura da classe dominante mundial - sobreviverá o movimento cultural que se adaptar, que se inserir.

Regis de Morais, in Tempo e Presença, n# 295 no escrito "Retomar a ética à luz de nosso tempo", reitera que a batalha a ser travada é ética: "a proscrita de grande parte do século XX - a ética - voltou agindo discretamente. Discreta, mas eficientemente." diz ele. Insiste que esse é o caminho da esperança: "Nenhuma hora é hora de desistir. Sempre repito que nós podemos ter tentado muitas alternativas, mas, com certeza não tentamos todas." Descreve, em relação ao Brasil, um quadro positivo, que passa pela deposição de um presidente da república, pelo fortalecimento sindical, pela indignação frente ao desmando político, pela reação frente a absurdos como as chacinas e atos estúpidos como o assassinato de Galdino: o índio patachó. Declara que essa batalha tem uma nova e decisiva frente: a questão das drogas. Por quê declara que tudo isso é questão ética? Porque ética - ethos, em grego - designa a morada do homem, não é algo pronto, porém, é a busca de construir um abrigo permanente onde o homem se realize plenamente - ambiente que faça jus ao termo humano. Esta batalha encerra a busca de soluções estruturais e de conversões pessoais.

Luiz Alberto Gómez de Souza, in Tempo e Presença, n# 295 em "O legado de Betinho: a ética na política" chama-nos a atenção para o grande soldado pela ética surgido em solo pátrio, Betinho, mostrando como a opção deste pela sociedade, num projeto suprapartidário despertou a nação para a consciência da possibilidade de construir uma sociedade iqualitária, participativa, livre, diversa e solidária a partir da adoção de uma ética que estabelece o sentido do público como a busca do bem de todos e subordina o direito de alguns aos direitos da maioria. Deixou claro que esse é um caminho longo, que tem de ser percorrido com liberdade, principalmente, em relação às amarras que impõe formas restritas de encaminhamento da coisa pública, como os partidos políticos, numa consciência de que política é um exercício de vida que se baseia na crença de que a sociedade não está presa às garras de nenhum tipo de fatalismo, o que torna possível sonhar com transformações sociais profundas.

Manfredo Araújo de Oliveira, in Tempo e Presença n# 295 no texto "Os dilemas éticos de uma economia de mercado" - afirma que "desemprego estrutural, crise ecológica e nova problemática da relação norte-sul são problemas extremamente sérios que revelam com toda a clareza, a dramaticidade dos dilemas éticos de uma economia de mercado capitalista. Se não formos capazes de entrentar esses dilemas, talvez a sobrevivência do ser humano em nosso planeta se torne impossível." Isto porque desde Hobbes, a economia de mercado passou a ser considerada um sistema neutro de produção de riqueza onde a justa distribuição desta não está em pauta. Essa lógica cruel gerou um nível de desigualdade social insuportável, fragilizou as economias emergentes, como, estarrecidos, estamos assistindo, comprometeu o ecosistema. Estamos frente a um dilema básico: "a relação entre eficiência e justiça: uma batalha ética.

Todas essas contribuições nos remetem para a necessidade da ética na formação pastoral, pois, como agente propagador e construtor do Reino de Deus, o pastor é, eminentemente, um propalador da ética, ou, talvez, devessemos dizer de éticas. O Reino de Deus se propõe a ser a casa do homem onde o humano se concretiza. José Adriano Filho, em seu texto: "Denúncia dos causadores da ruína do povo" (Tempo e Presença n# 295) chama atenção para o fato de que o movimento profético dos séculos VIII e VII A.C. caracterizou-se, marcadamente, por essa pregação ética levada a efeito por meio da denúncia que, evocando o pacto, fazia lembrar a nação que o Deus da Bíblia é o Deus dos e pró pequeninos. Além da denúncia, o pastor deve compreender que o pastorado, mais do que o cuidado pastoral da ovelha, enquanto indivíduo, tem de se caracterizar pela construção de modelos comunitários que exemplifiquem o que deve ser a casa do homem, isto é, que sejam paradigmas éticos. "Não se pode esconder uma cidade edificada sobre o monte" (mt 5.14), disse Jesus. O mesmo que, reiteradas vezes, pronunciou: "eu, porém, vos digo" numa campanha pela compreensão da ética proposta por Deus.

O pastor precisa aprender que atuação da igreja passa pela proposição de caminho que oriente o ser humano em seu devir pessoal e social. Que soberania divina, eleição, predestinação não têm nada a ver com fatalismo ou determinismo. O ser humano é co-agente da história, por isso será julgado. O homem é responsável. É preciso compreender o papel da graça comum, que torna a vida e o progresso possíveis enquanto se desenrola a história da salvação. Ainda que a perfeição não seja passível de ser alcançada, a melhoria, o aprimoramento social o é. A salvação tem de ser apreendida em seu papel social, pois salvação é sempre para e não apenas por.
A ética tem de ocupar papel preponderante na formação pastoral, além do exposto, por ser categoria teleológica, ou seja, por fazer parte do capítulo que trata das finalidades. Por quê e para o que somos. E esta é a matéria prima da teologia, esta só existe na forma que a conhecemos porque o ser humano perdeu a capacidade de responder essa questão. É claro, portanto, que o ministério pastoral é pró-ética, uma vez que não faria sentido falar de conversão se não houvesse para onde ir, ou melhor para onde voltar. É claro, também, que isso afeta o todo humano: o indivíduo, a sociedade, a política, a economia, a cidade, o campo - todos os componentes do ethos, da casa humana.

O evangelho que ora assistimos é antiético, não constrói casa alguma, na medida que promove o individualismo alienante, a irresponsabilidade social e histórica, nesse sentido atenta contra a solidariedade e, quando age socialmente, opta pelo paternalismo da assistência social que não conscientiza, não desperta companheirismo e comunidade, nem promove libertação. Não se dá conta de que há uma ação perversa de alienação em curso, cujo objetivo é fazer os pequeninos converterem-se não só aos seus opressores como aos meios de opressão; realidade, essa, muito bem retratada por Chico Buarque na letra:

"A novidade que há no brejo da cruz,
são as crianças se alimentarem de luz.
(...)
Mas há milhões desses seres que se disfarçam tão bem.
Ninguém pergunta de onde essa gente vem.
(...)
Já não se lembram que há um brejo da cruz,
que eram crianças, e que comiam luz."

Ou a ética faz parte da educação teológica ou teremos um evangelho antiético, antihistória e escravizador por individualista que será.

Parte II
ÉTICA NA CAPTAÇÃO DE RECURSOS

Autor(a): PR. LUIZ ROBERTO FRANÇA DE MATTOS
Doar dinheiro é uma coisa fácil e está dentro do poder de qualquer ser humano. Mas decidir a quem, quanto, quando e para que propósito doá-lo não está dentro do poder de cada pessoa, nem é uma coisa fácil. (Aristóteles, Ética a Nicômaco)

Resumo

O processo de captação de recursos pode ser a fonte de sérios dilemas morais relacionados à missão da organização que se beneficia dos fundos, ao captador de recursos e até mesmo à relação entre a primeira e este último.

A perspectiva antropológica - básica para a captação de recursos - que vê seres humanos como capazes de realizar bons atos morais e de ter um caráter virtuoso deveria ser considerada como fundamentada na Escritura e na teologia reformada. Conseqüentemente, tanto esta perspectiva quanto a filantropia deveriam ser valorizadas e incentivadas. A captação de recursos requererá uma ênfase no diálogo e no cultivo de virtude por parte daqueles lidando com suas questões morais inerentes. Tal ênfase, entretanto, não significa que se deva descartar um modelo deontológico baseado na lei moral revelada na Escritura, e mais especificamente no Decálogo, como o fundamento das decisões morais. O compromisso - e mesmo a submissão - a tal moralidade deontológica permitiria o desenvolvimento de uma ética de captação de recursos que evitaria a adoção de sistemas éticos alternativos em que decisões morais são tomadas primariamente com base na situação e no thelos a ser alcançado.

PALAVRAS-CHAVE:

antropologia, captação de recursos, deontologia, ética, virtude.

Introdução

A credibilidade do mercado financeiro internacional foi duramente afetada no ano de 2002 com os escândalos envolvendo a Enron, a Andersen, a WorldCom e a Tyco International, entre outras empresas. A Enron, outrora a sétima maior companhia dos Estados Unidos, comprava eletricidade dos produtores e a revendia aos consumidores, utilizando-se, por vezes, de suas parcerias no exterior para mascarar problemas financeiros e continuar recebendo dinheiro e crédito. Na esteira da Enron, a Andersen foi envolvida numa crise de proporções gigantescas. Uma das cinco maiores firmas de auditoria do mundo, a Andersen era responsável por auditar as contas da Enron, uma das empresas preferidas de Wall Street. Porém, paralelamente, a Andersen atuava como consultora da Enron, desenvolvendo uma atividade que envolvia um claro conflito de interesses e um problema moral, se não legal.

Não se deve supor, porém, que as ações censuráveis que ganharam a atenção da mídia constituam-se em paradigmas da realidade do mercado. Em sua obra Beyond Integrity: A Judeo-Christian Approach to Business Ethics, Scott B. Rae and Kenman L Wong demonstram que este é apenas um lado da história. Dois notáveis exemplos de ações moralmente louváveis - a decisão de Aaron Feuerstein de reconstruir sua tecelagem após um incêndio que a reduziu a cinzas, duas semanas antes do Natal de 1995 e a determinação da Companhia Farmacêutica Merck & Co. de destinar US$ 20 milhões de seu orçamento anual para a produção e envio do remédio para a cura de uma doença ribeirinha - demonstram que "há muitas corporações... cujas declarações de missão e ações assemelham-se às dos cidadãos mais louváveis."

A preocupação com o estudo da moralidade no contexto da economia de mercado tem suscitado amplo interesse com a publicação de uma literatura especializada no campo da Ética dos Negócios. Contudo, uma avaliação da bibliografia disponível neste campo revela uma atenção ainda reduzida ao tópico do interesse específico deste artigo, a saber, a Ética na Captação de Recursos. Duas das exceções à regra são as obras de Marilyn Fischer e de Albert Anderson.

Após conceituar alguns termos fundamentais, oferecer indicações da relevância do assunto e identificar áreas de tensão moral existentes na captação de recursos numa primeira seção, analisar-se-ão algumas pressuposições antropológicas relacionadas à prática do levantamento de recursos com fins filantrópicos à luz do ensino da Escritura e de alguns documentos da teologia reformada. Uma breve discussão de alternativas ao modelo proposto por Fischer - Ética como Narrativa - será desenvolvida na terceira seção deste artigo, concluindo que um modelo deontológico, associado à ênfase à virtude, evitaria alguns dos dilemas morais em que a proposta de Fischer parece incorrer.

Captação de Recursos: Resumo

Terminologia, Relevância do Assunto e Áreas de Tensão Moral
A captação de recursos é definida por Custódio Pereira como "uma sofisticada arte que é freqüentemente descrita como a mais sofisticada de todas as formas de relações públicas." Esta atividade, realizada na maioria das vezes de maneira amadora e improvisada no Brasil, constitui o chamado "terceiro setor" da economia que engloba organizações filantrópicas e outras organizações sem fins lucrativos.

Filantropia, entende Fischer, "é provavelmente melhor descrita listando o que ela tem feito do que tentando oferecer uma definição unificada." A autora apela para a obra de O'Connell intitulada Philanthropy in Action [Filantropia em Ação] para identificar as múltiplas áreas promovidas pela filantropia, a saber, a descoberta de novas fronteiras do conhecimento, o apoio e o encorajamento da excelência, a capacitação de pessoas para o exercício de seu potencial, o alívio da miséria humana, a preservação e a otimização do governo e instituições democráticas, a melhoria da vida comunitária, o nutrimento do espírito, a criação de tolerância, entendimento e paz entre as pessoas e, finalmente, a preservação da memória dos mortos. Em suma, filantropia diz respeito a "criar e sustentar comunidades - comunidades de lugar, de escolha, de propósito, de compromisso, de interesse." Ainda que se possam oferecer definições alternativas para filantropia, sua importância pode ser percebida simplesmente atentando para o valor a ela atribuído por Aristóteles. Ao lado da justiça, a filantropia é considerada como a única outra virtude moral fundamental para o bem-estar humano. O objetivo de organizações filantrópicas é, portanto, "a promoção de um propósito público, a melhoria do bem comum."

Estima-se que o terceiro setor movimentou R$ 12 bilhões e gerou 1,7 milhão de empregos no Brasil, em 1999, números que embora expressivos tornam-se insignificantes se comparados à realidade norte-americana. Segundo Pereira, No ano de 2000, os americanos doaram 203,45 bilhões de dólares para instituições sem fins lucrativos, o que representou um aumento de 6,6% em relação ao ano anterior... Esses números mostram a relevância das doações e o interesse que os americanos vêm demonstrando em apoiar a ação social, a arte e a cultura, a saúde e a educação.

Falta de conhecimento do assunto, ausência de literatura, de dados estatísticos e de informações acuradas sobre como captar recursos, bem como de métodos adequados, de estímulo, de incentivos fiscais, e de credibilidade das instituições beneficiadas são alguns dos fatores listados como responsáveis pela diferença significativa entre o volume de recursos captados nos Estados Unidos e no Brasil. Merece destaque, porém, o fato de que em 1999 já existiam no Brasil 250 mil ONG's e 14 mil fundações, a maioria delas criada nos últimos 16 anos. O potencial de recursos para investimento em causas filantrópicas é também significativo. A necessidade da discussão da Ética na Captação de Recursos se evidencia tanto a partir de exemplos contemporâneos quanto do passado. Em 1996, o Conselho Nacional de Igrejas nos Estados Unidos (NCC) lançou uma campanha para captação de recursos visando a reconstrução de igrejas queimadas, a maioria das quais usadas por congregações negras ou miscigenadas. Esta campanha levantou mais de US$ 9 milhões em doações e empréstimos de diversas fontes, desde fundações até indivíduos. A despeito do sucesso na captação de recursos, The Wall Street Journal publicou um artigo de primeira capa, em sua edição de 9 de agosto de 1996, denunciando que o NCC vinha lutando com dificuldades para levantar dinheiro para programas de justiça racial, mas ao conectar os incêndios com a ação "orquestrada de grupos de supremacia branca, levantou mais dinheiro mais rapidamente do que o fez em qualquer causa anterior." O mesmo artigo, acrescenta o articulista do The Christian Century, questionava o uso da contribuições pelo NCC, suspeitando que parte do dinheiro estivesse sendo usado para outros propósitos além da reconstrução das igrejas. A Secretária Geral do NCC respondeu às denúncias afirmando que 85% do montante levantado seria usado na reconstrução e 15% em programas relacionados ao racismo, com base no seguinte argumento: "Devemos assumir uma abordagem holística a menos que desejemos reconstruir igrejas somente para vê-las queimar novamente. Nós queremos que os ataques às igrejas motivados pelo ódio parem." A despeito do arrazoado do NCC, a denúncia feita pelo The Wall Street Journal levanta um questionamento moral legítimo: A utilização (parcial) dos recursos levantados com uma finalidade específica - a reconstrução de igrejas queimadas - em outro fim apenas indiretamente relacionado ao propósito específico alegado para o levantamento é moralmente permissível? Esta questão aponta para uma das áreas em que problemas morais podem ocorrer na captação de recursos, a saber, nas relações entre captadores de recursos e doadores. Outros exemplos contemporâneos poderiam ser facilmente multiplicados. Não obstante, um exemplo clássico de uma captação de recursos bem sucedida é suficiente para demonstrar de modo indiscutível a importância da definição de princípios para que tal captação seja moralmente legítima. No século XVI, John Tetzel destacou-se como um captador de recursos extraordinariamente bem sucedido através da venda de indulgências. O reconhecimento da doação era feito através de um documento da Igreja Católico-Romana garantindo o perdão de pecados para o próprio doador ou para alguém em favor de quem a doação era feita. O moto de Tetzel era; "Tão logo a moeda alcança o fundo do cofre, a alma emerge do purgatório."

Por que a formidável captação de recursos promovida por Tetzel deveria ser considerada moralmente reprovável? Simplesmente porque os recursos levantados feriam a missão fundamental da Igreja, a saber, ser instrumento para a salvação de almas. A missão da organização que capta os recursos é, portanto, uma segunda área de tensão moral.

Não é difícil imaginar situações em que a falta de integridade pessoal do captador de recursos seja responsável por problemas morais quer pela omissão ou distorção de informações quanto à missão da organização, quer pela aceitação de recursos que firam a missão da mesma. Não é o propósito deste artigo aprofundar a discussão de problemas específicos relacionados a cada uma destas áreas de tensão, a saber, na (in)definição da missão da organização, nas relações profissionais entre doador e captador, e na falta de integridade pessoal do captador.

É conveniente, porém, destacar que Fischer observa com propriedade que "dificuldades éticas geralmente envolvem falta de alinhamento entre a missão da organização e as decisões diárias." Olhando para o ensino da Escritura acerca do assunto, constata-se que o Novo Testamento menciona ao menos um exemplo de captação de recursos. Porém, a falta de maiores informações a respeito do evento recomenda cautela em sua utilização, exceto talvez para afirmar a preocupação de Paulo, no sentido de que a idoneidade moral do agente que encaminharia a oferta levantada pelas igrejas da Macedônia para os pobres da Judéia - Tito, recomendado como "o irmão cujo louvor no evangelho está espalhado por todas as igrejas" (2 Coríntios 8:18), garantisse a transparência do processo de captação e envio dos recursos.

Pressuposições Antropológicas Envolvidas na Captação de Recursos Na identificação de algumas pressuposições antropológicas envolvidas na captação de recursos, recorrerei primariamente à obra de Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising. É minha convicção que as características por ela atribuídas ao ser humano expressam um entendimento comum do assunto do ponto de vista da filantropia.

Fischer inicia o primeiro capítulo de seu livro com um parágrafo destinado ao seu público-alvo que revela alguns de suas pressuposições antropológicas. Segundo a autora:

Este livro é escrito para captadores de recursos trabalhando para organizações filantrópicas e para outras organizações que apreciam a filantropia como um modo de criar e de enriquecer a vida comunitária. A maioria dos que se enquadram nesta descrição são pessoas compassivas, honestas e decentes, que já têm considerável perícia em tomar decisões éticas e agir de maneiras que demonstram sensibilidade ética. Eles já se esforçam por serem confiáveis, para agir com integridade e tratar outros com decência e respeito.

O objetivo de Fischer é "entremear tecidos organizacionais de modo que pessoas de decência e coragem usuais possam se sair bem." A mesma idéia é retomada pouco adiante nos seguintes termos:

Meu alvo neste livro é ajudar pessoas de decência e coragem usuais a alcançar seus propósitos, ajudá-las a construir organizações em que santidade não é um requisito para o sucesso, mas onde possuir decência e coragem usuais é suficiente.

Logo, Fischer crê que seres humanos são capazes de agir com honestidade, decência e coragem, inclusive criando modelos sócio-economicos alternativos- como o das Ilhas Trobriand (vide nota de rodapé 12) - onde um sistema serial de presentes oferecidos ao próximo convive com a economia de mercado e estimula o bem-estar comunitário sem um propósito egocêntrico.

Mais do que meros seres biológicos vinculados a um meio-ambiente físico, seres humanos usam as artes, a cultura e símbolos religiosos e culturais como parte do processo de descoberta de sua própria identidade, e são capazes do exercício de virtudes como altruísmo, generosidade, caridade, compaixão, gratidão, mutualidade e integridade. Fischer se refere a virtudes no sentido Aristotélico do termo, como "características permanentes e estáveis da personalidade."

De modo a evitar um alongamento inconveniente deste ensaio, apenas duas das virtudes mencionadas serão objeto de atenção, a saber, altruísmo e integridade. Por que seres humanos agem com altruísmo em determinadas situações? Por que circunstancialmente se dispõem até a sacrificar suas próprias vidas por outros seres humanos? Fischer lança mão de uma obra de Kristen Renwick Moroe (The Heart of Altruism: Perceptions of a Common Humanity [O Coração do Altruísmo: Percepções de uma Humanidade Comum] para responder estas questões. Segundo ela, o fundamento de uma postura altruísta é simplesmente a consciência de que todo indivíduo co-participa de uma "humanidade comum." Isto, contudo, não responde à questão por quê determinadas pessoas - talvez a maioria - não reage com altruísmo seja ante o drama dos judeus na guerra, seja diante de necessidades básicas de seus semelhantes. Falta-lhes percepção racional ou intuição acerca de sua humanidade comum? Independentemente da resposta a esta questão, o fato permanece que uma parcela de seres humanos reage com altruísmo ante determinadas necessidades.

Seres humanos em geral - e captadores de recursos em particular - devem cultivar integridade pessoal, acrescenta Fischer. Integridade é definida tanto como harmonia da alma e fidelidade a ideais, quanto como o exercício de uma responsabilidade confiável e flexibilidade.

Em sua discussão de integridade como virtude a ser desenvolvida, Fischer apresenta duas faces intrinsecamente conflitantes. Primeiro, integridade é definida em termos individuais. Em suas palavras, integridade "é o mais próximo que [alguém] se aproxima de identificar a qualidade moral de si mesmo, de seu próprio companheiro absoluto... Você é aquele perante quem você é em última análise responsável." Complementarmente, integridade também é definida em termos sociais. Fischer parece endossar a tese proposta por Jane Addams de que devemos "afastar nosso foco de nossa inteireza [ou integridade] individual, concentrando-o em nossas atividades em conexão com outras pessoas." Assim, conclui Fischer:

Nós necessitamos de um modo de entender integridade que nos faça sentido quanto às nossas vidas como seres sociais com múltiplas identidades, vivendo em múltiplas comunidades e com múltiplos compromissos com outras pessoas.

O exemplo para o qual Fischer apela é elucidativo, ainda que perturbador. Ela cita a filósofa Maria Lugones, a quem ela descreve como lésbica e hispânica, como um paradigma de integridade. Sua comunidade étnica, argumenta Fischer, é preconceituosa acerca de sua opção sexual. A despeito da tensão envolvida, Maria Lugones não deseja abrir mão nem de sua opção pelo lesbianismo nem de suas raízes latinas. De acordo com a visão de integridade de Fischer, Maria Lugones deve mover-se entre ambas as comunidades [de lésbicas e hispânicos] exercitando flexibilidade e sendo forte, evidenciando que membros das duas comunidades podem contar com seu amor e participação. Segundo Fischer, Lugones pode ser uma pessoa de integridade "sem necessitar alcançar uma harmonia interna."

Parece evidente que este conceito de integridade suscita sérias questões morais do ponto de vista da captação de recursos. Seria admissível que um captador de recursos pertencente a diferentes comunidades com interesses conflitantes pudesse desenvolver sua atividade de modo moralmente permissível, independente dos conflitos internos existentes, simplesmente apelando para a conclusão lassa proposta por Fischer?

Ainda mais, integridade é definida em termos teleológicos , pois Fischer a conecta com uma perspectiva de crescimento pessoal, propondo que decisões morais devem levar em consideração a seguinte questão: "De que maneira esta alternativa ajuda ou não você a desenvolver-se na pessoa que você quer se tornar?" Não parece difícil imaginar que sobre este fundamento teleológico, decisões morais não permissíveis sob uma perspectiva deontológica pudessem eventualmente ser consideradas como legítimas.

Anderson, seguindo uma linha semelhante à de Fischer, entende que os praticantes da filantropia têm bons instintos morais. Tais instintos, crê Anderson, são intuídos pelos agentes morais envolvidos na filantropia - sejam doadores, sejam captadores de recursos. A consciência é a fonte destes instintos morais, acrescenta Anderson sem definir se, em seu entendimento, ela deveria ser compreendida como uma realidade inata implantada por Deus ou como uma resposta condicionada aprendida em nosso convívio social.

Portanto, do ponto de vista da captação de recursos, seres humanos devem ser considerados capazes do exercício de virtudes como altruísmo e integridade entre outras mencionadas. No entender de Fischer, a captação de recursos deve ser desenvolvida a partir destes pressupostos antropológicos, aplicáveis tanto ao potencial doador quanto ao captador. Em última análise, seres humanos devem ser considerados capazes de almejar e praticar o bem.

Seriam estas pressuposições antropológicas compatíveis com os princípios bíblicos e com a teologia reformada? A próxima seção deste ensaio oferecerá uma resposta a esta questão avaliando passagens da Escritura e textos de documentos reformados que lançam luz sobre a mesma.

Fundamentos Teológicos: Quem Pode Fazer o Bem?

Diversos textos da Escritura são enfáticos em afirmar a incapacidade do ser humano em fazer o bem. Escrevendo à Igreja em Roma, o apóstolo Paulo retoma o tema dos Salmos 14 e 53 e descreve o estado de pecado do ser humano nos seguintes termos: "Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer" (Romanos 3:10b-12, minha ênfase). O diagnóstico da condição espiritual de todo ser humano é claro: ele é por natureza injusto, sua capacidade cognitiva está afetada especialmente no que diz respeito à sua compreensão da vontade e caráter de Deus, todos os seus esforços são inúteis no que tange a cumprir as exigências do seu Criador. Em suma, nenhuma de suas ações pode ser considerada intrinsecamente boa, uma vez que o padrão santo de Deus seja estabelecido como critério.

O diagnóstico de Romanos 3 é perfeitamente compatível com diversas outras afirmações da Escritura que apontam para o estado de corrupção do ser humano após a queda. Como um exemplo, temos Gênesis 8:21 onde lemos: "E o Senhor... disse consigo mesmo: Não tornarei a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque é mau o desígnio íntimo do homem desde a sua mocidade [ou infância, segundo o texto original]..." Ainda que o texto de Gênesis 8:21 vincule esta condição à infância - uma tradução alternativa do vocábulo hebraico naur - o ensino geral da Bíblia deixa claro que esta é uma condição constitutiva de todo ser humano desde sua concepção. Conforme o salmista Davi, todo ser humano nasce em iniqüidade e é concebido em pecado (Salmo 51:5). O Catecismo de Heidelberg ratifica esta afirmação em sua resposta à questão 7, onde se lê que a queda e desobediência dos progenitores da raça humana "envenenou, ou corrompeu nossa natureza de tal forma que nascemos pecadores - corruptos desde nossa concepção." Este estado de corrupção, acrescenta o mesmo Catecismo, torna o ser humano incapaz de fazer qualquer bem e inclinado a todo mal, "a menos que sejamos nascidos de novo pelo Espírito de Deus."

A despeito deste trágico diagnóstico, outras passagens da Escritura referem-se a seres humanos regenerados pela ação graciosa de Deus como capazes de fazer o bem. Na parábola dos talentos, Jesus ensina que alguns servos receberam a aprovação do seu senhor, sendo individualmente chamados de "servo bom e fiel." (Mateus 25:21, 23). O próprio apóstolo Paulo, escrevendo aos cristãos de Corinto, manifesta sua confiança de que a graça de Deus seria capaz de fazê-los abundar "em toda boa obra." (2 Coríntios 9:8, minha ênfase). Semelhantemente, o apóstolo Pedro em sua primeira epístola exorta os cristãos a viverem exemplarmente, de modo que suas boas obras motivassem os incrédulos a glorificar a Deus no dia da visitação - provavelmente numa referência a ação misericordiosa de Deus visitando estes mesmos incrédulos para salvá-los.

O ensino de que seres humanos regenerados são capazes de fazer o bem é ratificado pela Confissão Belga em seu artigo 24, onde lemos que é a fé que "leva o homem a fazer as obras que Deus ordenou em sua Palavra." Estas obras, "procedentes da boa raiz da fé são boas e aceitáveis a Deus, desde que elas são todas santificadas pela sua graça."

Todavia, passagens da Escritura como essas acima, bem como as de alguns documentos reformados, não nos ajudam a lançar luz sobre a questão em pauta uma vez que eles afirmam que apenas pessoas regeneradas e salvas pela ação graciosa de Deus são capazes de obras boas, uma realidade que não necessariamente se aplica àqueles que praticam a filantropia.

Os Cânones de Dort (1618-19), ao tratarem da total incapacidade decorrente da corrupção da natureza humana, introduzem uma qualificação muito importante ao afirmar: "[T]odas as pessoas são concebidas em pecado e nascem como filhas da ira, inadequadas para qualquer bem salvífico, inclinados para o mal, mortos em seus pecados, e escravos do pecado..." O mesmo documento, porém, reconhece que, a despeito de sua condição decaída, permanece "com certeza uma certa luz de natureza no homem [ser humano] após a queda, em virtude da qual ele retém algumas noções sobre Deus, sobre as coisas naturais e acerca da diferença entre o que é moral e imoral, e demonstra um certo anelo pela virtude e por um bom comportamento exterior." Os mesmos Cânones se apressam em acrescentar que esta luz da natureza não só é insuficiente para conduzir o ser humano a um conhecimento salvífico de Deus, mas também que freqüentemente ela não é usada de modo apropriado até mesmo em assuntos relacionados à natureza e à sociedade.

Não há diferença conceitual entre os documentos reformados acima apresentados. O que se pode entender é que enquanto que a Confissão Belga discute os resultados da queda e regeneração a partir de categorias essencialmente soteriológicas, os Cânones de Dort, conquanto mantendo-se fiel ao ensino bíblico acerca da queda e regeneração, introduzem uma categoria que permite uma avaliação mais precisa da ação moral do ser humano não regenerado.

É possível, então, à luz do ensino da Escritura e dos documentos reformados acima citados, fazer distinção entre três tipos de bem: salvífico, regenerado e moral. O primeiro é aquele feito com vistas a satisfazer a justiça e santidade de Deus. Nenhum ser humano per se - independente dos méritos de Cristo - é capaz de fazer tal bem. O segundo é o bem realizado por aqueles que foram alcançados pela obra regeneradora de Deus. Estes são capazes de boas obras, pois estas decorrem da verdadeira fé, conformam-se com a lei de Deus e são feitas para Sua glória. O terceiro bem é aquele que se conforma às exigências exteriores da lei de Deus e é praticado independentemente de fé em Jesus Cristo ou do desejo de glorificar a Deus. A despeito de não satisfazer os quesitos para se qualificar como um bem satisfatório para a salvação, nem mesmo como um bem reconhecido por Deus como louvável, ele deve ser reconhecido como um bem real do ponto de vista da moralidade.

Dentre os reformadores, João Calvino reconhece a capacidade dos seres humanos não regenerados para boas obras nos campos cultural, científico e moral ao distinguir entre o que ele chama de coisas celestiais e terrenas. "A descoberta ou transmissão sistemática das artes," afirma ele, " é conferida indiscriminadamente sobre piedosos e ímpios, e é corretamente contada entre os dons naturais." Diante disto, Calvino exorta seus leitores a reconhecer a admirável luz da verdade brilhando nos escritores seculares, e aprender com eles, caracterizando o "Espírito da Verdade como o único fundamento da verdade," e afirmando que desprezar a verdade onde quer que ela apareça implicaria em desonrar o próprio Espírito de Deus. Conseqüentemente, Calvino reconhece que a verdade brilhou por detrás dos antigos juristas e filósofos, e que não é possível aproximar-se de seus escritos sem grande admiração e reconhecimento de que tudo louvável e nobre por eles produzido procedeu de Deus. Assim, aqueles homens que a Escritura denomina como "homens naturais" devem ser considerados "brilhantes e penetrantes" em sua investigação das "coisas terrenas ou inferiores.

Ainda segundo Calvino, a capacidade do homem não regenerado não se limita à investigação das ciências, mas ao estabelecimento da ordem cívica e da disciplina com grande equidade, incluindo, portanto, elementos morais. Retomando esta perspectiva de Calvino, Stackhouse reconhece que a graça de Deus, e não a capacidade da vontade humana profundamente afetada pelo pecado, é o fundamento por detrás das realizações do homem natural, seja num "casamento maravilhoso, numa grande escola, numa lei justa, numa ordem política pacífica..." Ainda que Fischer fundamente sua proposta filantrópica de uma economia da doação em alguns pressupostos teológicos e morais discutíveis, diversas de suas pressuposições antropológicas são, em certo sentido, consistentes com o ensino da Escritura e com a teologia reformada. Resta, finalmente, considerar a possibilidade de um modelo ético alternativo à proposta de Fischer que evite seus problemas inerentes e possa ser empregado no processo de captação de recursos.

Modelos Éticos Alternativos

Fischer reconhece com propriedade que a ação filantrópica é desenvolvida em meio a dilemas morais que se manifestam em meio às histórias pessoais e de organizações. Ao invés de apelar para modelos deontológicos o que, segundo ela, implicaria em conceituar o pensamento ético e tentar aplicar regras mecanicamente, sua proposta é que decidamos "que regras aplicar numa determinada situação e se é um caso em que deveríamos seguir as regras diretamente ou abrir uma exceção." O modelo ético mais adequado para a tomada de decisões, propõe ainda Fischer, deve lançar mão de "padrões de narração de histórias... imaginando diferentes resultados potenciais e perguntando o que cada um significaria para a organização, a comunidade, e os indivíduos afetados." Ética, portanto, deve ser pensada no contexto de uma narrativa de modo a inserir as regras éticas dentro de um contexto apropriado. Fischer se esforça por evitar qualquer acusação de relativismo enfatizando que embora certas escolhas morais se situem no que se poderia denominar de área nebulosa, "algumas escolhas morais são "claramente certas ou erradas, e chamar a ética de nebulosa nestes casos é um modo de se esconder da responsabilidade e verdades éticas."

Então, quando quer que um real dilema ético surja, "pensar em ética como uma narração de histórias pode ser útil." No processo de contar nossa história para nós mesmos e para outras pessoas imaginativamente, "características proeminentes emergirão, enquanto detalhes menos importantes esmaecerão." Diálogo exercitado no contexto de uma cuidadosa investigação é evidentemente uma atividade central na reflexão ética. Conclui-se que o modelo proposto por Fischer possui pelo menos três características básicas: a importância da situação em um julgamento moral, a relevância do diálogo e da narração como ferramentas investigativas da decisão moral, e a avaliação dos resultados da decisão moral, podendo ser denominado um modelo situacional-narrativo-teleológico.

O diálogo como instrumento, coerente com a metodologia platônica, não implica, porém, necessariamente na adoção de um modelo ético fundamentado na situação e na narrativa, e no conseqüente afastamento de um modelo deontológico. Em algumas de suas obras, Platão evidencia que se pode lançar mão do diálogo como um recurso epistemológico para a identificação de um princípio moral, sem necessariamente afastar-se de um modelo deontológico. Ainda mais, a adoção de um modelo deontológico é compatível com o cultivo das virtudes, como a proposta aristotélica evidencia. Anderson dá suporte à legitimidade desta conclusão ao afirmar: Sem dúvida, Aristóteles está familiarizado com o conceito [de traçar linhas estabelecendo os limites da moralidade] e assumiu em seu pensamento sobre a Ética a convicção metafísica de que existem linhas inscritas na natureza das coisas às quais nossas próprias decisões e ações deveriam se conformar.

Em resumo, o reconhecimento da dificuldade inerente à tomada de algumas decisões morais, da importância do diálogo para a identificação da opção moral correta - ou pelo menos a que aparenta ser - e de uma ênfase ao cultivo das virtudes não são necessariamente incompatíveis com a adoção de um modelo ético deontológico fundamentado na lei moral revelada no Decálogo que, me parece, melhor expressa a tradição cristã em geral e a reformada em particular.

A análise de um caso hipotético pode ser útil na avaliação da aplicabilidade dos modelos acima descritos no contexto da captação de recursos. Por exemplo, um doador potencial deseja fazer uma doação significativa para uma escola com princípios evangélicos, digamos R$ 1 milhão. A única restrição imposta é que 50% do dinheiro seja destinado a bolsas de estudo para uma minoria gay. Que respostas os modelos éticos alternativos apresentados no artigo, a saber, o chamado situacional-narrativo-teleológico e o deontológico ofereceriam ao doador em questão?

O primeiro modelo requereria uma avaliação do contexto específico do doador e dos potenciais beneficiados por tal doação. A aplicabilidade ou não de regras a priori - supondo que elas existissem - deveria ser objeto de discussão, lançando-se mão da imaginação e considerando os diferentes resultados potenciais para as vidas dos envolvidos no processo de decisão. Em outras palavras, ainda que um conjunto de regras não recomendasse a aceitação da doação, fossem seus resultados concebidos como satisfatórios para um número significativo de pessoas beneficiadas - os membros da minoria gay que recebessem a bolsa - a legitimidade moral da decisão estaria assegurada.

No modelo deontológico, em contrapartida, a moralidade da decisão seria avaliada em termos independentes da situação. No caso do modelo deontológico proposto neste artigo, a aceitação da doação deveria ser avaliada com base na Lei Moral revelada no Decálogo, assumindo que a escola em questão explicitamente defina em sua declaração de missão seu compromisso com esta Lei Moral. À luz do Decálogo, seria moralmente não-permissível a aceitação da doação condicionada nos termos mencionados, porque, independentemente dos eventuais benefícios gerados, preceitos morais pré-estabelecidos estariam sendo quebrados. Na eventualidade, porém, da missão da escola não possuir um compromisso formal com os valores da Lei Moral expressa no Decálogo, mas conceber sua responsabilidade simplesmente em termos do desenvolvimento do ser humano, caberia ao órgão responsável pela direção da escola optar por uma dentre as seguintes alternativas: aceitar a oferta ou rever a declaração de missão.

Conclusão

Aristóteles estava correto. Decidir a quem, quanto, quando e para que propósito doar recursos financeiros - além de nosso tempo e talentos - não é uma coisa fácil. Dilemas morais surgirão neste processo que envolve a captação de recursos seja do ponto de vista da missão da organização destinatária, seja do ponto de vista do captador, ou das relações envolvendo doador e captador.

A atividade filantrópica baseada numa perspectiva antropológica que entende o ser humano como capaz de atos morais e de um caráter virtuoso encontra respaldo na Escritura e na teologia reformada e, conseqüentemente, deve ser valorizada e incentivada.

O tratamento das questões morais que inevitavelmente surgirão no processo de captação de recursos deverá levar em consideração o diálogo e enfatizar o cultivo das virtudes - altruísmo e integridade entre outras. Isto, porém, não significará necessariamente abrir mão de um modelo ético deontológico, baseado na lei moral revelada na Escritura, e mais especificamente no Decálogo. O apego - e porque não dizer, submissão - a esta lei moral nos permitirá acolher e nos relacionar com compaixão e boa vontade com doadores e/ou captadores como Maria Lugones, sem necessariamente definir integridade em termos teleológicos sujeitos a uma perspectiva individual e subjetiva.

ENGLISH ABSTRACT

The process of fundraising may be the source of some serious moral dilemmas concerning the mission of the organization which profits from the funds, the fundraiser, and even the relationship between the former and the latter.

The anthropological perspective - foundational to fundraising -, which sees human beings as capable of performing good moral acts and having a virtuous character, should be considered as grounded upon Scripture and Reformed theology as well. Consequently, both this perspective and philanthropy should be appraised and furthered.

Fundraising will require an emphasis on dialog and the cultivation of virtues from those dealing with its inherent moral issues. Such an emphasis, however, does not mean that one should dismiss a deontological model based on the moral law revealed in Scripture, and more specifically on the Decalog, as the foundation of moral decisions. The commitment - and even submission - to such deontological morality would allow the development of an ethics of fundraising that would avoid the adoption of alternative ethical systems in which moral decisions are made primarily on the basis of both the situation and the thelos to be achieved.

Notas

Neste ensaio, Ética é entendida como o estudo da Moralidade (no que tange ao seu escopo, modelo e fundamento), e esta última como responsável pela identificação das mores, ou critérios, segundo os quais ações devem ser julgadas permissíveis ou não, obrigatórias ou não. Reconhece-se, contudo, que freqüentemente os termos são usados de forma intercambiável como sinônimos. O autor é professor em tempo integral do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. É engenheiro civil pela Escola de Engenharia Mauá (1978). Bacherel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (1986), Mestre em Teologia Sistemática pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (1997) e Doutor em Filosofia (Ph.D., 2001) pelo Calvin Theological Seminary, em Grand Rapids, Michigan, EUA.. Autor dos artigos "Deus, Revelação e Ética: A teologia da Revelação de James Gustafson," Fides Reformata, vol. III, no. 2 (Julho-Dezembro 1998) e "Nicholas Wolterstorff e a Ética Social do Calvinismo Holandês," Fides Reformata et Semper Reformanda Est, vol. VI, no. 1 (2001). Foi pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana Jardim de Oração por dois anos (1987-88) e pastor da Igreja Presbiteriana de Praia Grande (1989-1997). Atualmente, integra a equipe pastoral da Igreja Presbiteriana de Pirituba, em São Paulo, Capital.

Rae registra que o incêndio ocorrido em Methuen (Massachusetts), que feriu 24 pessoas e deixou 1400 trabalhadores desempregados, trouxe consigo o temor de que a cidade seria economicamente destruída. A despeito de seus 72 anos e de poder simplesmente aposentar-se com o dinheiro do seguro do incêndio, Feuerstein deu um bônus de Natal de US$ 275 a cada empregado mais US$ 20 para serem gastos num supermercado local. Ainda mais, ele propôs o pagamento do salário integral do próximo mês e de noventa dias do seguro-saúde, afirmando sua convicção de que as circunstâncias difíceis representavam um teste das suas convicções morais nas seguintes palavras: "Meu compromisso é com Massachusetts e com a Nova Inglaterra. É onde eu vivo, onde eu me divirto, e onde eu adoro [a Deus]. Malden Mills será reconstruída exatamente aqui..." Scott B. Rae and Kenman L Wong, Beyond Integrity. A Judeo-Christian Approach to Business Ethics (Grand Rapids, Zondervan Publishing House, 1996), p. 16.

Em sua decisão de produzir o medicamento para essa doença chamada river blindness, que afetava apenas populações ribeirinhas de países da África e das Américas Central e do Sul, a despeito da ausência de um retorno financeiro imediato, o laboratório Merck permaneceu coerente com um elemento chave da filosofia da companhia: "Nós tentaremos jamais esquecer que medicina é para as pessoas e não para o lucro. O lucro decorrerá [naturalmente] e se nós lembrarmos disso, ele nunca deixará de surgir. Quanto melhor nos lembramos disso, maior o lucro tem sido." Rae, Beyond Integrity, p. 17.
Rae, Beyond Integrity, p. 16.

Uma pesquisa da literatura disponível nas bibliotecas da Universidade Presbiteriana Mackenzie na área campo de Business Ethics revela a existência de 17 obras tratando de diferentes aspectos deste assunto: Business Ethics, 4th ed. (2002); Business Ethics: Critical Perspectives on Business and Management (2001); Business Ethics: Perspectives on the Practice of Theory (2001); Business Ethics: The Ethical Revolution of Minority Shareholders (2001); Ethics and Governance: Business as Mediating Institution (2001); Business, Institutions, and Ethics: A Text with Cases and Readings (2000); Just Business: Business Ethics in Action, 2nd ed. (2000); Managing Business Ethics: Straight Talk about how to do it Right. 2nd ed. (1999); It's Good Business: Ethics and Free Enterprise for the New Millennium (1997); Current Issues in Business Ethics (1997); Beyond Integrity. A Judeo-Christian Approach to Business Ethics (1996); Business and Society: Corporate Strategy, Public Policy, Ethics. 8th ed. (1996); Business Ethics: A Guide for Mangers (1996); An Introduction to Business Ethics (1996); Ties that Bind: A Social Contracts Approach to Business Ethics (1996); On Moral Business: Classical and Contemporary Resources for Ethics in Economic Life (1995).

Uma evidência deste fato é que a obra de Rae & Wong (Beyond Integrity) não dedica sequer uma de suas 655 páginas à Ética na Captação de Recursos. O mesmo pode ser dito da obra editada por Stackhouse e outros (On Moral Business) que apesar de seu valor e extensão (979 páginas) não dedica uma única seção ao tópico de nosso seminário.

Marilyn Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising (New York and others: John Wiley & Sons. Inc., 2000) e Albert Anderson, Ethics for Fundraisers (Bloomington: Indiana University Press, 1996). Outras obras mencionadas por Anderson como relevantes são Robert L. Payton, Philanthropy: Voluntary Action for the Public Good (New`York: American Council of Education, Macmillan, 1988), especialmente os ensaios "Philanthropy as Moral Discourse,"e "Virtue and its Consequences." Para uma pesquisa da extensão dos escritos sobre filantropia, consultar Daphne Niobe Layton, Philanthropy and Voluntarism (Washington, DC: Foundation Center, 1987 e Indiana Center on Philanthropy, que hospeda a Payton Philanthropic Studies Library, segundo Anderson - o autor destas indicações - "a maior coleção de livros e dissertações sobre filantropia na nação [norte-americana]." Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 135.

Custódio Pereira. Captação de Recursos (Fund Raising). Conhecendo Melhor porque as Pessoas Contribuem (São Paulo: Editora Mackenzie, 2001).

Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 10. Cabe acrescentar que a filantropia não se restringe à doação de dinheiro, mas inclui a doação de tempo e talentos (ver Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 15)

Brian O'Connell, Philanthropy in Action (New York: Foundation Center, 1987), p. 8 apud Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 10.

Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 10. Fischer lança mão da noção de uma economia baseada em doações como uma metáfora para a filantropia, recorrendo ao sistema de presentes (kula) existente lado a lado com o sistema de mercado (gimwali) nas Ilhas Trobriand.

Kula inclui "vastos círculos de doação ritual englobando muitas tribos e ilhas... O processo é caracterizado por um fluxo contínuo de presentes dados, aceitos e retribuídos em todas as direções obrigatoriamente sem qualquer interesse próprio, mas como conseqüência da grandeza e por serviços prestados, através de desafios e promessas (p. 11). No sistema descrito, reciprocidade direta não é esperada, tendo em vista que o receptor do presente deve passá-lo adiante, transformando-se num doador e beneficiando assim a outrem. Para mais detalhes da chamada economia baseada em doações, consultar pp. 13-16. Segundo Anderson, "o propósito último da filantropia é melhorar o bem público."
Ver Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 9.
Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 15.
Pereira, Captação de Recursos, p. 22. O autor ainda ressalta que a maior parte dessas doações são provenientes de pessoas físicas. A título de informação, nos Estados Unidos, a AFP (Association of Fundraising Professionals) conta com 25 mil associados, o que evidencia o investimento feito na formação de captadores de recursos (ver Pereira, Captação de Recursos, p. 19).

A principal razão para a diferença significativa entre o volume de recursos captados no Brasil e nos Estado Unidos, argumenta Pereira é "o método de captação de recursos. O método inclui desde a identificação do doador potencial, sua sensibilização para a causa até a efetivação da doação, prestação de contas e o reconhecimento da instituição recebedora." Pereira, Captação de Recursos, p. 23. Um exemplo de captação de recursos bem sucedido mencionado pelo mesmo autor é o da Harvard University que, numa campanha de cinco anos, conseguiu captar US$ 2.1 bilhões de dólares, contando com um quadro de pessoal de 250 funcionários no escritório de captação de recursos. A entidade evangélica norte-americana O Exército da Salvação captou mais de US$ 1 bilhão em 1996, situando-se pelo quinto ano consecutivo entre as 400 maiores obras de caridade segundo The Chronicle of Philanthropy [ver Christian Century (December 3, 1997):1118].

Pereira, Captação de Recursos, p. 45.

"Em 1999, a empresa [Instituto C&A] investiu quatro milhões de dólares em programas de apoio a mais de oitenta creches, escolas e centros de educação continuada. Cerca de 50 mil crianças e adolescentes foram atendidos pelo programa. Oitocentos funcionários da empresa atuam como voluntários nestas instituições. Uma vez por semana, são liberados para brincar com as crianças, ajudar na gestão e avaliar resultados." Pereira, Captação de Recursos, pp. 56-57. O Instituto Ethos de Responsabilidade Social conta hoje com 70 associados que representam juntos um faturamento anual de 15 bilhões de reais.

Cf. Christian Century, 28 de Agosto-4 de Setembro (1996):806.
Christian Century, August 28-September 4 (1996):p. 806.
Lucas nos oferece um outro exemplo da tensão moral envolvida na captação de recursos ao registrar em Atos 6 que os recursos levantados para o sustento das viúvas dos helenistas estariam alegadamente sendo desviados Fischer faz referência ao fato, mencionando o slogan que na língua inglesa possui uma rima: "As soon as [the] coin in coffer rings, the soul from purgatory springs." Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 38.

Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 22.

Ver 2 Coríntios 8. Outros textos neotestamentários que talvez se refiram à captação de recursos são Atos 6 e Filipenses 4. Não há, contudo, evidência textual nestes últimos casos de que os recursos tenham sido captados por iniciativa de alguém e não ofertados por iniciativa das comunidades envolvidas. A utilização de textos veterotestamentários que registram ordens de Deus aos israelitas para a pilhagem de povos derrotados está sendo conscientemente deixada de lado pelos mesmos enfocarem um contexto que foge ao escopo do presente ensaio.

A preocupação do apóstolo Paulo se evidencia quando ele afirma que sua intenção ao apontar Tito era estar "evitando, assim, que alguém nos acuse em face desta generosa dádiva administrada por nós; pois o que nos preocupa é procedermos honestamente, não só perante o Senhor, como também diante dos homens." (2 Coríntios 8:20-21) Paralelamente, mas em menor medida, recorrerei à obra de Anderson - Ethics for Fundraisers - identificando alguns pontos comuns explorados por aquele autor.

Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 3 (minha ênfase). A grande maioria de captadores de recursos, acrescenta ela, "quer agir com integridade e jamais violaria a confiança pública numa escala maciça." (p. 4)
Ibid., p. 4 (minha ênfase).
Ibid., p. 5 (minha ênfase).
"Quaisquer que sejam os motivos do doador, os padrões de doação não são egocêntricos porque eles não são dirigidos só ou primariamente para o benefício doador. Nem são filantrópicos porque os doadores participam das comunidades que tais doações criaram." Ibid., p. 12.
Ibid., p. 40.
Para Aristóteles, virtudes são traços de caráter firmemente estabelecidos ou disposições para agir segundo componentes intelectuais e afetivos. As virtudes se situam em uma posição intermediária entre dois extremos de deficiência e de excesso, sendo a razão a faculdade que determina esta posição intermediária (cf. Nicomachean Ethics). Não pertence ao escopo deste trabalho uma discussão aprofundada, nem uma avaliação comparativa entre o conceito de virtude em Aristóteles e em Tomás de Aquino (ver Suma Teológica, 5 volumes (Allen, Texas: Christian Classics, reimpr. 1981), 2:819 (Primeira Parte da Segunda Parte, Questão 55 e ss) Ibid., p. 44. Rae & Wong enfatizam a necessidade de virtudes como confiança, honestidade e cooperação como fundamentais para o próprio funcionamento do sistema capitalista, aliado ao caráter para a produção de boas ações. Em suas palavras, "os fundadores dos Estados Unidos criam que o experimento democrático funcionaria somente se houvesse virtude em seus cidadãos.
Ao contrário da crença popular, liberdade total nunca foi o intento dos pais fundadores. Ao invés sua visão era de liberdade 'ordeira' ou 'restringida' - ou seja, liberdade moderada pela moral e caráter." Rae, Beyond Integrity, p. 40. Anderson, a despeito de ressalvar que a cultura contemporânea se caracteriza por "uma ambigüidade moral onipresente," entende que há lugar para enfatizar a virtude no contexto da ação filantrópica. Anderson, Ethics for Fundraisers, p. ix. Na leitura que Anderson faz de Aristóteles, ser moralmente responsável no contexto da filantropia pressupõe o desenvolvimento de um caráter virtuoso. Anderson, Ethics for Fundraisers, p. x. Virtude é entendida como a capacidade para adotar uma linha de ação moderada que evita tanto o excesso quanto a deficiência (ver Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 5)
Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 53. Segundo Monroe, uma pesquisa realizada com pessoas que abrigaram judeus da perseguição promovida pelos nazistas revelou que fatores como religião contexto familiar, riqueza, ocupação e posição familiar não foram determinantes na decisão de prestar socorro. Nas palavras de Fischer, "o mais interessante acerca dos resgatadores é que eles reivindicaram que não havia nada a decidir, não haviam alternativas entre as quais escolher." Ibid., p. 52.
Ibid., pp. 92-96. Ibid., p. 91. Ibid., p. 96. Ibid. Ibid. Do grego telos (fim). Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 97. Deontologia deriva do termo grego dei, que significa é necessário. Daí, concluem Rae & Wong, "vem a noção de obrigações morais que são inerentemente necessárias e não contingentes aos fins e conseqüências que elas produzem." Rae & Wong, Beyond Integrity, p. 35. Stackhouse, em Moral Business, afirma que Deontologia provém do grego deon, que significa dever, obrigação. A despeito das diferenças, Rae e Stackhouse propõem um mesmo conceito: Deontologia define as obrigações morais em termos de princípios pré-estabelecidos, que podem ser identificados através de diferentes recursos, mas em que a moralidade de um ato independe dos seus resultados.

No entendimento de Anderson, o desafio dos agentes morais consiste em posicionar-se ante a pressão da cultura contemporânea, fazendo o que eles sentem que devem fazer (ver Anderson, Ethics for Fudraisers, p. xi) Ibid., p. 25.
O texto original afirma que nenhum ser humano é díkaios, ou seja, de acordo com o padrão, vontade ou caráter de Deus. Em outras palavras, nenhum ser humano é bom (outra tradução possível para o vocábulo grego díkaios) "The Heidelberg Catechism, Lord's Day 3, QA7," Ecumenical Creeds and Reformed Confessions (Grand Rapids: CRC Publications, 1988), p. 15 (minha tradução).

"The Heidelberg Catechism," Q/A 8, p. 15.
"The Belgic Confession," Ecumenical Creeds and Reformed Confessions (Grand Rapids: CRC Publications, 1988), p. 101 (minha tradução). A Confissão Belga deixa claro que estas obras não "contam para nossa justificação," mas decorrem dela.
Por "bem salvífico," os Cânones de Dort se referem a qualquer ato que possa ser considerado como suficiente para satisfazer o padrão de justiça de Deus e, conseqüentemente, merecedor de salvação.
"Canons of Dort," The Third and Fourth Points of Doctrine, Article 3," Ecumenical Creeds and Reformed Confessions, p. 133 (minha tradução).
"Canons of Dort," The Third and Fourth Points of Doctrine, Article 4," Ecumenical Creeds and Reformed Confessions, p. 133 (minha tradução e ênfase).
"Canons of Dort," The Third and Fourth Points of Doctrine, Article 4," Ecumenical Creeds and Reformed Confessions, p. 133 (minha tradução).
"The Heidelberg Catechism," Q/A 91, p. 54.
"Existe um tipo de entendimento das coisas terrenas e outro as coisas celestiais. Eu chamo "coisas terrenas" aquelas que não pertencem a Deus ou ao Seu reino, à verdadeira justiça, ou à felicidade da vida futura; mas que têm sua importância e relacionamento com a vida presente e são, num certo sentido, confinadas aos seus limites. Eu chamo de coisas celestiais o conhecimento puro de Deus, a natureza da verdadeira justiça e os mistérios do Reino Celestial. A primeira classe inclui o governo, o gerenciamento doméstico, todas as habilidades mecânicas e as artes liberais. João Calvino, Institutas da Religião Cristã, John T. McNeil, ed. (Philadelphia: The Westminster Press, 1960), II.ii.13, minha tradução.

Ibidem, II.ii.14, minha tradução.
Ibidem, II.ii.15, minha tradução.
Ibidem, minha tradução.
Stackhouse, On Moral Business, p. 31. Stackhouse não faz distinção entre graça comum e graça especial, razão pela qual ele lista ao lados dos elementos acima mencionados "uma comunidade religiosa que cura, inspira e guia todos que em a conhecê-la para a santidade do amor." Por detrás de tudo isto, um "único ponto integrador" deve ser reconhecido, a saber, Deus (p. 31).
Para Fischer "economias baseadas em doação podem refletir sistemas de fé profundamente baseados em pressuposições filosóficas, religiosas e cosmológicas." Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 13. Expressando suas convicções teológicas pessoais, a autora acrescenta que a "[h]istória não possui um grande senhor controlando o script..." (p. 10), rejeitando assim o ensino da Escritura de que Deus governa os detalhes da história - das nações e de indivíduos - através de um plano eternamente estabelecido (Isaías 46:9-11; Salmo 139:16).
"Caridade nos lembra de que doação filantrópica serve a ideais morais e religiosos e que tanto nossos compromissos interiores quanto nossas atividades exteriores deveriam exemplificar estes ideais." Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 58. Fischer parece sugerir que seres humanos são individualmente responsáveis somente ante si mesmos, a despeito da Escritura afirmar que "todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas." (Hebreus 4:13b, minha ênfase) Para uma breve, mas útil, perspectiva de diversos modelos (ou sistemas éticos), consultar Era & Wong, Beyond Integrity, onde os autores fazem menção ao Egoísmo Ético, Utilitarianismo, Emotivismo, algumas formas de Deontologia e à Teoria da Virtude.
A rigor, ela se refere ao que chamo de dilemas morais como "dilemas éticos" afirmando que "estes surgem nas histórias contínuas de pessoas e organizações." Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 5. Semelhantemente, Anderson, que a "natureza da ética, diferentemente da aritmética, é ser incerta." "Suas questões,"acrescenta, "escolhas e ações podem provocar o menear da cabeça, requerer consideração, consistência e determinação - sem perspectiva clara ou certa de que as decisões sejam totalmente certas." Anderson, Ethics for Fundraisers, p. xii.
Para uma definição de deontologia, consultar nota de rodapé 43.
"Conceituar o pensamento ético como apenas uma questão de aplicar regras a ocasiões específicas... é muito limitado.... Quando tentamos aplicar regras mecanicamente, podemos omitir a necessidade por um entendimento compassivo e esquecer que a aplicação própria de regras deve ser responsiva a características específicas do contexto e a peculiaridades de caráter." Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 9. "Teorias abstratas e tradições religiosas podem funcionar como recursos, ao invés de pontos de partida." Ibidem., p.
xvi. É questionável a tese defendida por Fischer de que a adoção de um modelo deontológico conduziria necessariamente a uma aplicação mecânica de regras.
Ibidem, p. 9.
Ibidem, p. 8. Fischer se refere positivamente ao filósofo John Dewey quando este afima que "Imaginação é o principalmente instrumento do bem." Os dilemas morais devem ser enfrentados com imaginação quanto às alternativas futuras, ao significado das mesmas para os indivíduos, organizações e comunidades envolvidas. Ainda mais, "a organização e os indivíduos devem ser imaginados como não estáticos, mas como mudando e crescendo." Conseqüentemente, um dilema moral deve ser encarado como "uma fase desse crescimento." Ibidem, p. 7-8. Anderson também enfatiza que ser eticamente responsável requer "imaginação moral." Anderson, Ethics for Fundraisers, p. xii.
Fischer, Ethical Decision Making in Fund Raising, p. 9.
"Algumas vezes em nossa reflexão ética, não vemos respostas claras, corretas; todas alternativa é tingida com negatividade, o mal mancha o bem." Ibidem, p. 19.
Literalmente, chamar ética de "cinza," cf. Ibidem, p. 19.
Ibidem, p. 19.
Ibidem, p. 8.
Ibidem, p. 24.
Ver, por exemplo, R. E. Allen, Plato's Euthypro and the Earlier Theory of Forms (New York: Humanities Press, 1970) e Plato, The Republic, Raymond Larson, transl. and ed. (Arlington: Harlan Davidson, Inc., 1979).
Nas palavras de Anderson, Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 4. Paralelamente, o mesmo Aristóteles enfatiza a responsabilidade do ser humano no desenvolvimento de um caráter virtuoso, que significa concretamente buscar a moderação entre o excesso e a deficiência (ver Anderson, Ethics for Fundraisers, p. 5).

Na situação hipotética em questão, deliberadamente se evita a discussão de quaisquer implicações relacionadas a um eventual processo seletivo. A preocupação em pauta não é primariamente de ordem legal, mas moral.

Por resultados satisfatórios, entendam-se benefícios reais e legítimos oriundos da concessão da bolsa como, por exemplo, o desenvolvimento pessoal dos beneficiados, a perspectiva de uma contribuição à sociedade em suas áreas específicas de preparo acadêmico, entre outros.

Revista Fides Reformata
http://www.mackenzie.com.br/teologia/

Parte III
O DESAFIO DE UM CRISTIANISMO ÉTICO

Autor(a): PR. FERNANDO FERNANDES

Pastor da 1ª Igreja Batista em Penápolis/ SP e Prof. no Seminário Teológico Batista de São Paulo. mailto:prfcf@terra.com.br

Introdução:

Buscando uma definição simples e objetiva, admitimos que ética é a teoria ou ciência do comportamento dos homens em sociedade. O objeto de estudo da ética é a moral e o conhecimento científico da moral é a ética.

Entendemos como moral o sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual se regulamentam as relações interpessoais, bem como em comunidade. Em discussão ética, normas são aqueles instrumentos que indicam e medem a correção moral.

É certo que muitas vezes as palavras ética e moral são utilizadas de modo intercambiável, mas quando nos referimos a ética, estamos admitindo a existência de um conjunto fixo de leis morais pelo qual podemos avaliar a conduta humana em todos os níveis de relacionamento. A ética determina o que deve ser, ou seja, como deve ser a conduta moral do indivíduo, a partir do que ele será avaliado por toda a comunidade.

Ética é, na verdade, um labor intelectual, em processo reflexivo e analítico, que desemboca em decisões. A preocupação última deste labor intelectual é a conduta apropriada a partir da avaliação das motivações e das decisões que resultam na conduta.

O grande desafio que se levanta para manutenção de um postulado ético absoluto que prescreva uma conduta moral adequada ao Texto Sagrado, por parte da igreja evangélica, é que muitos evangélicos não têm conduta própria, visto que apenas reagem às pressões e às influências da sociedade, tentando impor para a igreja os seus padrões distorcidos, porém, absolutizados.

I - Postulados éticos que influenciam a sociedade:

O professor Norman Geisler alista seis questões básicas na ética normativa, que de certo pressionam a consciência do cristão que vivencia a sua fé nestes tempos de relativização ética, são elas:

a) Antinomismo: Literalmente "contra a lei". Afirma que não há nenhum princípio moral que aplicado às circunstâncias da vida, nos permita estabelecer em referencial de certo ou errado. Em síntese, admite que não há normas.

b) Generalismo: Sustenta que uma ação pode ser errada, geralmente, mas nem sempre o será, estabelecendo um padrão moral circunstancial por admitir que não há normas universais.

c) Situacionismo: Admite que há uma norma universal, mas admite também que as circunstâncias são tão radicalmente diferentes para que exista uma única regra universal para ser observada. Para os situacionistas, somente o amor permanece como norma universal capaz de se adaptar a todas as situações. O amor pode tornar um ato moralmente correto e só a falta de amor faz um ato amoral.

d) Absolutismo não-conflitante: Admite que há muitas normas universais válidas sem conflito entre si, admitindo, porém, dualidades de idéias, desde de que se preserve o ideal comum no cumprimento do dever.

e) Absolutismo ideal: Admite que há muitas normas universais que as vezes são conflitantes entre si, mas que violar uma dessas normas é moralmente errado, não existindo precedentes. O problema aqui é o abismo entre o ideal e o real, pois vivemos, acertamos e erramos, no mundo real e não no universo ideal. No mundo ideal ninguém infringe normas.

f) Hierarquismo: Admite que há muitas normas éticas universais hierarquicamente ordenadas que diferem entre si em grau de importância, de modo que, diante de um conflito ético, o homem se obriga a obedecer a norma mais elevada nesta estrutura.

Infelizmente tais postulados também exercem certa influência sobre a igreja evangélica. É lamentável perceber que alguns segmentos evangélicos propalam um avivamento de poder sem precedentes na história do cristianismo, mas não demonstram qualquer preocupação com o comprometimento ético de seus pastores, líderes e membros.

Outros, o que é pior, até se preocupam com a ética, porém, praticam uma ética embasada em um dos postulados alistados acima, negligenciando o parâmetro bíblico para a conduta do cristão em uma sociedade não cristã e corrompida pela malevolência impregnada nos corações daqueles que tentam fazer prevalecer o seu distorcido padrão ético personalista.

Para nos posicionarmos mais apropriadamente como igreja genuinamente evangélica que busca vivenciar o cristianismo autêntico e para errarmos o menos possível, apesar de todas as pressões que se nos impõem, devemos buscar uma abordagem evangélica da ética cristã, baseada tão somente no Texto Sagrado.

II - Ênfases da ética evangélica baseada na Palavra de Deus:

A abordagem evangélica da ética visa determinar um conceito equilibrado de certo e de errado, a partir da compreensão e da interpretação da mensagem cristã e dos "fenômenos" da fé. A ética evangélica deve ser total e abrangente em sua observação e em sua abordagem, pois toda ação humana envolve intenção, que é a motivação, volição, que é a decisão de vontade, e ação, que são os meios práticos de conduta. Pelo fato de a Bíblia considerar o homem um ser integral, a ética evangélica não pode se deter apenas ao estudo da ação certa e positiva. Antes, deve alargar seus horizontes, refletindo sobre o comportamento humano em sua inteireza e confrontando o indivíduo com os objetivos espirituais e sociais prescritos na Palavra de Deus, visando aperfeiçoar as expressões comportamentais do cristão em todas os níveis de relacionamento.

Assim como não seria possível qualquer julgamento moral sem a existência de um padrão ético absoluto, também não é possível uma avaliação da conduta cristã evangélica se a igreja não estabelecer normas de conduta e parâmetros de relacionamentos para seus membros.

A igreja é uma comunidade que vive em Cristo e para Cristo. Isto significa dizer que pertencemos a Cristo e que reconhecemos o fato de que somente ele tem o poder e a habilitação para estabelecer as normas de conduta para os que estão integrados á igreja.

Conseqüentemente, viver e interagir nesta comunidade que busca na Palavra de Deus os seus absolutos para estabelecer as suas normas de conduta e os seus parâmetros de relacionamentos nos impõe uma dimensão ética bastante acentuada, pois não se trata de apenas viver com os outros, mas de vivermos para Cristo em comunhão uns com os outros. Ou seja, em Cristo vivemos uns para os outros, o que só é possível quando temos uma consciência ética bem desenvolvida a luz da Palavra de Deus e quando admitimos os absolutos éticos de Deus para a s nossas vidas.

Cristo deve ser considerado não apenas fonte de perdão e da vida eterna, mas também a fonte de orientação ética e do poder de transformação dos nossos conceitos morais. Colocando numa linguagem bíblica e teológica, diríamos que não apenas a justificação, (ação vertical), mas também a santificação, (ação também horizontal), deve ser reconhecida como ação efetiva da graça salvadora de Cristo para o ser humano.

Uma outra ênfase básica que deve caracterizar a ética evangélica é uma visão superior da autoridade bíblica. O Evangelho de Jesus Cristo deve ser o centro da mensagem cristã, como também é o seu elemento unificador. A Escritura é a fonte, o registro inspirado do amor expiatório de Deus por nós, em Jesus Cristo, mas é também a revelação da vontade de Deus para nós.

Para sabermos o que devemos fazer ou o que devemos evitar em nosso cotidiano, como também em que acreditar, consultamos a Bíblia. Desse modo, tanto a ética como a teologia evangélica deve estar solidamente baseada nas Escrituras Sagradas. A Bíblia é a única fonte e normas, de ensino e de prática cristãs a ser considerada pelo cristão sincero.

Devemos evitar uma abordagem puramente baseada em teologismos , como fazem os cristãos nominais, que determinam o certo e o errado com base nos resultados esperados, e ainda, devemos fugir de uma análise puramente contextual, como fazem os cristãos liberais, que tentam determinar o certo e o errado inteiramente, se não exclusivamente, pela análise do contexto sociocultural, estabelecendo uma ética de situação do tipo "você decide".

Se a igreja pretende auxiliar a seus membros para que vençamos as confrontações éticas e a imoralidade de nosso tempo, é imperioso admitir que a proposta básica da ética evangélica deve ser deontológica. Neste caso, a igreja determina o certo e o errado a partir de diretrizes éticas já estabelecidas na Bíblia e de conduta moral previamente exigida por Deus em sua Palavra, mesmo que humanamente sejamos contrariados.

Conclusão:

Finalizando, devemos pensar nos ensinamentos de Jesus a respeito da qualidade moral do cristão. Cristo não valorizou a atitude externa, mas ressaltou a necessidade de se preservar a qualidade moral do coração, ressaltando que a motivação interna para uma atitude é mais significativa, em termos éticos, do que o ato em si.

De acordo com o ensinamento de Jesus, o verdadeiro estado de moralidade de um cristão deve ser avaliado pela atitude interna, visto que externamente qualquer ato pode parecer moralmente bom. Por essa razão, não erramos em asseverar que os ensinamentos de Jesus para que preservássemos os padrões éticos da Palavra de Deus permanecem atemporais, sendo aplicáveis com propriedade espiritual, social e psicológica inegável para os nossos dias, que são demarcados por conceitos errôneos sobre ética e moralidade.

Se estivermos comprometidos com Deus em um relacionamento puro e amoroso, não teremos necessidade de buscar nada fora de Deus e de sua Palavra. Se confiamos que Deus satisfaz as nossas necessidades maiôs prementes, não buscaremos a realização pessoal no hedonismo reinante em nossa sociedade.

Na conscientização ética dos seus membros, a igreja deve ressaltar bem mais os parâmetros éticos proclamados por Jesus no chamado Sermão do Monte, nos capítulos 5 à 7 de Mateus, onde percebemos nitidamente o interesse de Deus em desenvolver o nosso caráter a partir da interiorização dos seus absolutos éticos, que determinarão a nossa verdadeira qualidade moral não pelo que fazemos, mas pelo que realmente somos e que de certo formatará a totalidade de nossas ações e reações na vivência em sociedade.

A igreja tem diante de si um gigantesco desafio. Estudar a Bíblia não é mais prioridade para as pessoas e a moral cristã, em especial a evangélica, é considerada anacrônica por proclamar temas que ressaltam valores como pureza sexual para a juventude, o casamento monogâmico, a fidelidade conjugal, a virgindade, a indissolubilidade do casamento e heterogeneidade sexual, a honestidade, a verdade e a responsabilidade social, dentre outros.

Estes temas são considerados tabus pela nossa sociedade devido à depravação moral ocasionada pelo pecado, embora as justificavas para a imoralidade reinante sejam os avanços sociológicos e o progresso intelectual.

Esta depravação na qual chafurda a nossa sociedade é, na verdade, falta de retidão e de verdadeiro e corretamente direcionado senso religioso, que se originou no pecado que inseriu na humanidade a corrupção moral e que ressaltou em nós a inclinação para a malignidade, Gênesis 3.

Somos desafiados por Deus para confrontarmos este estado de calamidade ética, mas para isso devemos desenvolver uma consciência ética genuinamente cristã e evangélica, assumindo, a partir daí, uma conduta moral que agrade e glorifique ao Senhor nosso Deus, Salmo 15; Efésios 4.17-32.

"... se a nossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus..." (Mateus 5.22)

Não há o que se estudar ou fazer em termos de ética cristã.

Amém.

Parte IV
O DESAFIO DE UM CRISTIANISMO ÉTICO

Autor(a): PR. FERNANDO FERNANDES

Pastor da 1ª Igreja Batista em Penápolis/ SP e Prof. no Seminário Teológico Batista de São Paulo. E-mail: prfcf@terra.com.br

Introdução:

Buscando uma definição simples e objetiva, admitimos que ética é a teoria ou ciência do comportamento dos homens em sociedade. O objeto de estudo da ética é a moral e o conhecimento científico da moral é a ética.

Entendemos como moral o sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual se regulamentam as relações interpessoais, bem como em comunidade. Em discussão ética, normas são aqueles instrumentos que indicam e medem a correção moral.

É certo que muitas vezes as palavras ética e moral são utilizadas de modo intercambiável, mas quando nos referimos a ética, estamos admitindo a existência de um conjunto fixo de leis morais pelo qual podemos avaliar a conduta humana em todos os níveis de relacionamento. A ética determina o que deve ser, ou seja, como deve ser a conduta moral do indivíduo, a partir do que ele será avaliado por toda a comunidade.

Ética é, na verdade, um labor intelectual, em processo reflexivo e analítico, que desemboca em decisões. A preocupação última deste labor intelectual é a conduta apropriada a partir da avaliação das motivações e das decisões que resultam na conduta.

O grande desafio que se levanta para manutenção de um postulado ético absoluto que prescreva uma conduta moral adequada ao Texto Sagrado, por parte da igreja evangélica, é que muitos evangélicos não têm conduta própria, visto que apenas reagem às pressões e às influências da sociedade, tentando impor para a igreja os seus padrões distorcidos, porém, absolutizados.
I - Postulados éticos que influenciam a sociedade:

O professor Norman Geisler alista seis questões básicas na ética normativa, que de certo pressionam a consciência do cristão que vivencia a sua fé nestes tempos de relativização ética, são elas:

a) Antinomismo: Literalmente "contra a lei". Afirma que não há nenhum princípio moral que aplicado às circunstâncias da vida, nos permita estabelecer em referencial de certo ou errado. Em síntese, admite que não há normas.

b) Generalismo: Sustenta que uma ação pode ser errada, geralmente, mas nem sempre o será, estabelecendo um padrão moral circunstancial por admitir que não há normas universais.

c) Situacionismo: Admite que há uma norma universal, mas admite também que as circunstâncias são tão radicalmente diferentes para que exista uma única regra universal para ser observada. Para os situacionistas, somente o amor permanece como norma universal capaz de se adaptar a todas as situações. O amor pode tornar um ato moralmente correto e só a falta de amor faz um ato amoral.

d) Absolutismo não-conflitante: Admite que há muitas normas universais válidas sem conflito entre si, admitindo, porém, dualidades de idéias, desde de que se preserve o ideal comum no cumprimento do dever.

e) Absolutismo ideal: Admite que há muitas normas universais que as vezes são conflitantes entre si, mas que violar uma dessas normas é moralmente errado, não existindo precedentes. O problema aqui é o abismo entre o ideal e o real, pois vivemos, acertamos e erramos, no mundo real e não no universo ideal. No mundo ideal ninguém infringe normas.

f) Hierarquismo: Admite que há muitas normas éticas universais hierarquicamente ordenadas que diferem entre si em grau de importância, de modo que, diante de um conflito ético, o homem se obriga a obedecer a norma mais elevada nesta estrutura.

Infelizmente tais postulados também exercem certa influência sobre a igreja evangélica. É lamentável perceber que alguns segmentos evangélicos propalam um avivamento de poder sem precedentes na história do cristianismo, mas não demonstram qualquer preocupação com o comprometimento ético de seus pastores, líderes e membros.

Outros, o que é pior, até se preocupam com a ética, porém, praticam uma ética embasada em um dos postulados alistados acima, negligenciando o parâmetro bíblico para a conduta do cristão em uma sociedade não cristã e corrompida pela malevolência impregnada nos corações daqueles que tentam fazer prevalecer o seu distorcido padrão ético personalista.

Para nos posicionarmos mais apropriadamente como igreja genuinamente evangélica que busca vivenciar o cristianismo autêntico e para errarmos o menos possível, apesar de todas as pressões que se nos impõem, devemos buscar uma abordagem evangélica da ética cristã, baseada tão somente no Texto Sagrado.

II - Ênfases da ética evangélica baseada na Palavra de Deus:

A abordagem evangélica da ética visa determinar um conceito equilibrado de certo e de errado, a partir da compreensão e da interpretação da mensagem cristã e dos "fenômenos" da fé. A ética evangélica deve ser total e abrangente em sua observação e em sua abordagem, pois toda ação humana envolve intenção, que é a motivação, volição, que é a decisão de vontade, e ação, que são os meios práticos de conduta. Pelo fato de a Bíblia considerar o homem um ser integral, a ética evangélica não pode se deter apenas ao estudo da ação certa e positiva. Antes, deve alargar seus horizontes, refletindo sobre o comportamento humano em sua inteireza e confrontando o indivíduo com os objetivos espirituais e sociais prescritos na Palavra de Deus, visando aperfeiçoar as expressões comportamentais do cristão em todas os níveis de relacionamento.

Assim como não seria possível qualquer julgamento moral sem a existência de um padrão ético absoluto, também não é possível uma avaliação da conduta cristã evangélica se a igreja não estabelecer normas de conduta e parâmetros de relacionamentos para seus membros.

A igreja é uma comunidade que vive em Cristo e para Cristo. Isto significa dizer que pertencemos a Cristo e que reconhecemos o fato de que somente ele tem o poder e a habilitação para estabelecer as normas de conduta para os que estão integrados á igreja.

Conseqüentemente, viver e interagir nesta comunidade que busca na Palavra de Deus os seus absolutos para estabelecer as suas normas de conduta e os seus parâmetros de relacionamentos nos impõe uma dimensão ética bastante acentuada, pois não se trata de apenas viver com os outros, mas de vivermos para Cristo em comunhão uns com os outros. Ou seja, em Cristo vivemos uns para os outros, o que só é possível quando temos uma consciência ética bem desenvolvida a luz da Palavra de Deus e quando admitimos os absolutos éticos de Deus para a s nossas vidas.

Cristo deve ser considerado não apenas fonte de perdão e da vida eterna, mas também a fonte de orientação ética e do poder de transformação dos nossos conceitos morais. Colocando numa linguagem bíblica e teológica, diríamos que não apenas a justificação, (ação vertical), mas também a santificação, (ação também horizontal), deve ser reconhecida como ação efetiva da graça salvadora de Cristo para o ser humano.

Uma outra ênfase básica que deve caracterizar a ética evangélica é uma visão superior da autoridade bíblica. O Evangelho de Jesus Cristo deve ser o centro da mensagem cristã, como também é o seu elemento unificador. A Escritura é a fonte, o registro inspirado do amor expiatório de Deus por nós, em Jesus Cristo, mas é também a revelação da vontade de Deus para nós.

Para sabermos o que devemos fazer ou o que devemos evitar em nosso cotidiano, como também em que acreditar, consultamos a Bíblia. Desse modo, tanto a ética como a teologia evangélica deve estar solidamente baseada nas Escrituras Sagradas. A Bíblia é a única fonte e normas, de ensino e de prática cristãs a ser considerada pelo cristão sincero.

Devemos evitar uma abordagem puramente baseada em teologismos , como fazem os cristãos nominais, que determinam o certo e o errado com base nos resultados esperados, e ainda, devemos fugir de uma análise puramente contextual, como fazem os cristãos liberais, que tentam determinar o certo e o errado inteiramente, se não exclusivamente, pela análise do contexto sociocultural, estabelecendo uma ética de situação do tipo "você decide".

Se a igreja pretende auxiliar a seus membros para que vençamos as confrontações éticas e a imoralidade de nosso tempo, é imperioso admitir que a proposta básica da ética evangélica deve ser deontológica. Neste caso, a igreja determina o certo e o errado a partir de diretrizes éticas já estabelecidas na Bíblia e de conduta moral previamente exigida por Deus em sua Palavra, mesmo que humanamente sejamos contrariados.

Conclusão:

Finalizando, devemos pensar nos ensinamentos de Jesus a respeito da qualidade moral do cristão. Cristo não valorizou a atitude externa, mas ressaltou a necessidade de se preservar a qualidade moral do coração, ressaltando que a motivação interna para uma atitude é mais significativa, em termos éticos, do que o ato em si.

De acordo com o ensinamento de Jesus, o verdadeiro estado de moralidade de um cristão deve ser avaliado pela atitude interna, visto que externamente qualquer ato pode parecer moralmente bom. Por essa razão, não erramos em asseverar que os ensinamentos de Jesus para que preservássemos os padrões éticos da Palavra de Deus permanecem atemporais, sendo aplicáveis com propriedade espiritual, social e psicológica inegável para os nossos dias, que são demarcados por conceitos errôneos sobre ética e moralidade.

Se estivermos comprometidos com Deus em um relacionamento puro e amoroso, não teremos necessidade de buscar nada fora de Deus e de sua Palavra. Se confiamos que Deus satisfaz as nossas necessidades maiôs prementes, não buscaremos a realização pessoal no hedonismo reinante em nossa sociedade.

Na conscientização ética dos seus membros, a igreja deve ressaltar bem mais os parâmetros éticos proclamados por Jesus no chamado Sermão do Monte, nos capítulos 5 à 7 de Mateus, onde percebemos nitidamente o interesse de Deus em desenvolver o nosso caráter a partir da interiorização dos seus absolutos éticos, que determinarão a nossa verdadeira qualidade moral não pelo que fazemos, mas pelo que realmente somos e que de certo formatará a totalidade de nossas ações e reações na vivência em sociedade.

A igreja tem diante de si um gigantesco desafio. Estudar a Bíblia não é mais prioridade para as pessoas e a moral cristã, em especial a evangélica, é considerada anacrônica por proclamar temas que ressaltam valores como pureza sexual para a juventude, o casamento monogâmico, a fidelidade conjugal, a virgindade, a indissolubilidade do casamento e heterogeneidade sexual, a honestidade, a verdade e a responsabilidade social, dentre outros.

Estes temas são considerados tabus pela nossa sociedade devido à depravação moral ocasionada pelo pecado, embora as justificavas para a imoralidade reinante sejam os avanços sociológicos e o progresso intelectual.

Esta depravação na qual chafurda a nossa sociedade é, na verdade, falta de retidão e de verdadeiro e corretamente direcionado senso religioso, que se originou no pecado que inseriu na humanidade a corrupção moral e que ressaltou em nós a inclinação para a malignidade, Gênesis 3.

Somos desafiados por Deus para confrontarmos este estado de calamidade ética, mas para isso devemos desenvolver uma consciência ética genuinamente cristã e evangélica, assumindo, a partir daí, uma conduta moral que agrade e glorifique ao Senhor nosso Deus, Salmo 15; Efésios 4.17-32.

"... se a nossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus..." (Mateus 5.22)

Não há o que se estudar ou fazer em termos de ética cristã.

Amém.

Parte V
Aborto: Infanticídio Qualificado

Autor(a): PR. AIRTON EVANGELISTA DA COSTA

E-Mail: aicosta@secrel.com.br - www.palavradaverdade.com


Qualificado porque premeditado. Os envolvidos sabem com antecedência o dia, a hora, o local e os instrumentos usados na execução das vítimas. E mais: o crime é cometido por motivo irrelevante, contra pessoas inocentes e indefesas.

O Código Penal estabelece pena de um a três anos de detenção para a gestante que “provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque” (Art.123). Para o crime de aborto deveria existir a figura do “homicídio qualificado”, como previsto no Art. 121: (a) por motivo fútil; (b) com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum.

Dependendo do instrumento usado, a criança sofre ou não sofre tortura? Os meios usados são ou não são insidiosos ou cruéis? Consideradas tais circunstâncias, as penas deveriam ser de doze a trinta anos de detenção para parturientes, médicos, auxiliares e diretores dos hospitais envolvidos no crime.

À vista disso, urge que seja alterado o Artigo 123 do Código para atribuir ao aborto a natureza de crime hediondo e, portanto, qualificado. Minha proposta segue em direção contrária à que objetiva descriminar o aborto no Brasil e promover sua total liberação.

Com base na Lei de Deus – “não matarás” -, cujos princípios éticos e morais norteiam as constituições das nações cristãs, não podemos permitir a liberação do aborto. A punição severa, além do castigo no plano divino, é instrumento adequado no combate de tais crimes.

O ventre de uma mulher não pode se transformar num cárcere de horrores. O ser que ali é gerado pelo Autor da Vida não é um condenado à morte; é predestinado à vida – não importa se tenha um dia ou sete meses de existência uterina. Qualquer projeto de liberação do aborto é de origem satânica. O Diabo deseja matar o maior número possível de pessoas. Ele sabe que o homem é a obra-prima de Deus. Como não pode atingir o Criador, descarrega seu veneno contra as criaturas.

’”Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira. Mas, porque vos digo a verdade, não me credes. Quem dentre vós me convence de pecado? E se vos digo a verdade, por que não credes? (Jo 8.44-46).

Há tempo para os que estão com as mãos manchadas de sangue inocente. Que se arrependam de suas ações criminosas, recebam o Senhor Jesus como Salvador pessoal e livrem-se do tormento eterno. A vida humana, que começa na concepção, não pode ser tratada como uma questão técnica e puramente materialista. É danoso ao homem ignorar os absolutos morais de Deus, como faz a falsa filosofia do pós-modernismo.

A idéia dos materialistas é desvalorizar o ser humano enquanto em crescimento no ventre materno, reduzindo-o a uma questão meramente técnica e funcional. Todavia, o nascituro tem direito à mesma proteção dispensada às pessoas já nascidas. O Estatuto da Criança determina ser dever do poder público assegurar, “com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida da criança, mediante a efetivação de políticas sociais e públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso em condições dignas de existência” (Art. 4º e 7º da Lei 8.069, de 13.07.1990).

As tentativas de legalizar o aborto colidem com esses dispositivos, que enfatizam a necessidade de o Estado propiciar ao bebê nascimento sadio. Daí porque “é assegurado à gestante, através do Sistema Único de Saúde, o atendimento pré e perinatal” (Art. 8º).

Vejam quanta insanidade! Os legisladores legislam em favor da criança que se encontra em gestação, para que, com “absoluta prioridade”, o período até o seu nascimento ocorra sem qualquer problema. Os defensores do aborto desejam eliminar a criança antes do nascimento. E querem ter o direito legal de promoverem a matança, sob os auspícios do Governo e recursos do SUS. Os abortistas querem eliminar as crianças antes do nascimento; a Lei as protege nesse período.

O Doador da Vida conhece o homem desde a concepção: “Antes que te formasse no ventre te conheci, e antes que saísses da madre, te santifiquei; às nações te dei por profeta” (Jr 1.5). Notem que o profeta foi santificado antes de nascer. Os abortistas dizem o contrário: “Antes de sair do ventre, a criança não passa de um conjunto de carne e osso informe e sem vida. Queremos o direito de tirá-la do ventre e jogá-la no lixo”.

Sei o quanto é difícil conter a atual tendência liberalista que despreza os valores éticos e morais. Mas deixo aqui o meu protesto e repúdio por tais práticas, contrárias à vontade do Criador da Vida.

Parte VII
O Natal do Noel

Autor(a): PR. AIRTON EVANGELISTA DA COSTA

E-Mail: aicosta@secrel.com.br - www.palavradaverdade.com


Em todo o período de festas natalinas, não ouvi nem vi nas propagandas, entrevistas e programas televisivos qualquer menção ao nome do Senhor Jesus, cujo suposto nascimento no dia 25 de dezembro é a principal razão das festividades.

Nas reuniões em família, onde há fartura de comida e de bebida embriagante, também não se ouve falar no Salvador. Um paradoxo! Afinal, estão festejando o quê? Qual a razão de tanta alegria? Decorre ou não decorre do nascimento de Jesus há mais de dois mil anos?

As razões dos folguedos são as mais variadas: é dia apropriado para trocar presentes; véspera de mais um feriado nacional; a data é propícia para visitas, rever velhos amigos; para enviar a popularíssima e comercializada mensagem de “Feliz Natal e Próspero Ano Novo”; noite apropriada para saborear um peru recheado.

Se um fiel servo de Cristo aparecesse numa dessas reuniões “cristãs” e desejasse falar um pouco do Jesus bíblico, seu nascimento e ensino, como seria recebido? Convenhamos, não seria bem aceito em muitas casas. Em dez minutos de pregação, o ambiente ficaria carregado. Alguns, furtivamente, se retirariam para um local mais “seguro”, sem se esquecerem de levar o copo e o prato com salgadinhos. A anfitriã, que houvera dado oportunidade ao intruso para uma breve palavra, está agora em palpos de aranha:

- Minha festa vai perder o brilho – pensa com seus botões, enquanto, nervosa, toma um gole de uísque importado. Mas oportunidade é oportunidade. O homem, a consultar de vez em quando a Bíblia, continua impassível falando sobre o nascimento de Jesus:

Não havia lugar – diz ele - na hospedaria para que Maria desse à luz o seu filho primogênito. Passados muitos séculos, não há lugar para Jesus em muitos lares. Há, sim, lugar de destaque para um boneco sorridente, de barbas brancas, vestido com as cores da igreja de satã: preto e vermelho. O deus-boneco, conhecido como Papai Noel, destronou o Senhor Jesus. As crianças são ensinadas a pedir presentes ao seu “papai”, o deus bondoso que a todos atendem, entronizado e instalado na sala principal. Tudo parece girar em torno dele, para ele e com ele.

Nesse ponto, a anfitriã não mais consegue conter as lágrimas. Não por causa de alguma reflexão a respeito de sua miserável condição de pecadora. Está triste porque sua festa poderá ser um fiasco. O que dirão os colunistas sociais? Como é que isso pode acontecer logo comigo, eu que sempre primei pelo bom gosto?

Resoluta, segura o homem pelo braço e, com energia, “convida-o” a retirar-se. Em seguida, dirige-se aos convidados:

- Venham todos. Ele já se foi. Peço desculpas. Esqueçam o que aconteceu. Roda aí um forrozinho quente pra gente balançar o esqueleto! Depois bota aquela musiquinha da eguinha pocotó, pocotó, pocotó. E ela mesma, para dar o exemplo, sai pela sala a balançar seus quadris.

Dada a voz de comando, o clima de alegria voltou a reinar. E a festa se estendeu até alta madrugada.

Parte VIII
Eu Sou Cristão!

Autor(a): PR. SÉRGIO LEOTTO

Pastor Auxiliar do Templo Batista Bíblico em Jacareí, Graduação em Teologia no Seminário Bíblico Palavra da Vida

Infelizmente quando iniciamos uma conversa sobre política, logo nos perguntam: Você é de direita ou de esquerda? Então, a partir da nossa resposta já é posto sobre nós um rótulo de comunista, centrista, de direita e assim por diante.

Pois bem, não obstante estas marcas ideológicas que são postas sobre nós, eu quero refletir acerca da forma última de pensar no tocante às possibilidades de se governar política e economicamente.

Sendo um cristão confesso eu não posso deixar de exaltar a originalidade e a “antecipação” do cristianismo (apesar do desenvolvimento que Platão, Aristóteles e outros deram a temática) no que diz respeito à forma de governar. É por isso que eu me policio para afirmar que a minha ideologia político-econômica é oriunda dos princípios cristãos e não de alguma perspectiva centrista, esquerdista..., pois eu julgo estas formas de conceber o “fazer político-econômico” simplesmente como tentativas “inconscientes” de se chegar próximo ao que Deus legara para o homem, porquanto Ele mesmo implantou no coração de suas criaturas a Sua Lei. Então, não me perguntem se sou PSDbista ou Petista; eu sou cristão! Não obstante, não definam cristão como uma forma Norte Americana de ver o mundo (não que eu deixe de ter admiração pelos Estados Unidos), e sim, como um modo de se viver baseado na Palavra de Deus. Então, posto tudo isto, vamos falar sobre a ideologia político-econômica do cristianismo!
Bem, tendo por base o Antigo Testamento e Jesus Cristo, o Cristianismo sustenta a sua ideologia de governo em princípios de solidariedade e fraternidade. Assim, para o cristianismo: o pobre, a viúva, os órfãos e os marginalizados são objetos do socorro e da ajuda da sociedade (entenda-se sociedade como sendo constituída por: Povo, Igreja e Governo). Portanto, não pode haver pessoas que passem necessidades. Este é um princípio básico do cristianismo.

Não obstante, não podemos confundir o cristianismo (aqui eu peço licença aos da Teologia da Libertação para discordar deles) com as propostas do comunismo, pois eles afirmam que aquele é o retrato exato do que Marx quis ensinar. Como eu já disse, não podemos confundir as propostas do cristianismo com tentativas humanas de solucionar os problemas do homem.

O cristianismo ainda tem por base a responsabilidade humana para o seu próprio desenvolvimento sócio-econômico. Podemos ver em textos bíblicos Deus afirmando que o preguiçoso comerá o pão da miséria.

Sendo, então, responsabilidade do homem contribuir para o seu sustendo, podemos concluir que Deus não se opõe a propriedade privada; ao contrário, a riqueza, enquanto produto da honestidade, e como meio de se ajudar o próximo nunca foi hostilizada pelo cristianismo. Por conseguinte, o cristianismo rechaça a atitude daqueles que querem viver tão somente às custas do governo sem, tão pouco, colocarem a “mão na massa”.

O Estado (leia-se Governo) tem uma posição de facilitador e de pacificador, podendo, sempre que for preciso, usar da “força” para manter a paz e a justiça na sociedade. Conseqüentemente, o governo nada mais é que uma instituição que vive em favor do todo e não simplesmente dos pobres.

Com efeito, o governo (ou governos) devem prover condições mínimas para o bom andamento das questões da sociedade. Ele não pode querer assumir o papel de absoluto ou de Deus, pois isto seria o primeiro passo para o totalitarismo.

Assim, podemos dizer que existem partidos políticos e propostas de governo que se assemelham com a cosmovisão cristã, podendo, então, nos achegar a um destes partidos e tentar construir uma nação justa e igualitária; mas, o que temos de lembrar é que o cristianismo está acima de qualquer ideologia humana porquanto ele (o cristianismo) foi concebido pelo próprio Deus sendo, portanto, imune a qualquer falha.

Encerrando, eu quero deixar expresso que sou a favor de uma parceira madura e prudente entre Estado e Igreja. Não para que um imponha ao outro o que cada um deve fazer no que tange as suas atividades particulares e, sim, para que os dois pensem e executem juntos uma proposta político-econômica viável para a sociedade. O cristianismo nunca fez uma dicotomia entre o poder político e o espiritual, tudo é governado por Deus. Ele está acima de todo e qualquer poder. Então, afirmo abertamente: Eu sou cristão!

Parte IX
Ética Cristã na carta aos Romanos - Parte I

Autor(a): PR. RIVANILDO SEGUNDO PEREIRA GUEDES

Auxiliar do Templo Batista Bíblico em Jacareí, Graduação em Teologia no Seminário Bíblico Palavra da Vida

INTRODUÇÃO

Falar em ética em nossos dias realmente não é uma tarefa muito fácil; tendo em vista o cinismo que tem permeado muitas classes de nossa sociedade, principalmente a classe política.

No entanto, não podemos nos eximir em mostrar a nossa “cara”, pois cremos que a Igreja de Cristo é a única que tem um discurso e uma prática que podem realmente mudar o quadro social de nosso país.

O estudo da ética nada mais é do que a análise da moralidade do homem na sociedade. Então, quando estuda-se o ethos de algum povo, estamos, baseados em alguma cosmovisão, “rastreando” a conduta moral do homem.

Assim, a nossa proposta neste trabalho é a de analisar a proposta de ética cristã do apóstolo Paulo, especificamente no livro aos Romanos; buscando compreender as implicações que os seus escritos têm para o homem do Século XXI. Em outras palavras, já estamos deixando claro que a nossa análise partirá dos absolutos de Deus (cosmovisão cristã), os quais são eternos e aplicáveis a toda e qualquer cultura; ademais, este trabalho não pretende abordar “temas” éticos à guisa da filosofia contemporânea, e sim, perseguir a proposta ética de Paulo tendo por base o seu pensamento judaico-cristão.

Este trabalho, então, não intenta estudar capítulo por capítulo do livro de Romanos, antes, elencar os principais temas éticos, “costurando” os argumentos com os textos bíblicos.

I -PANORAMA DO LIVRO DE ROMANOS

Para entendermos melhor o Livro de Romanos faz-se mister expormos algumas questões introdutórias.

A carta aos Romanos é um dos fundamentos para a compreensão da nossa fé. Não se pode dizer que é a carta mais importante do Novo Testamento, porquanto todos os livros neo testamentários formam o corpo doutrinário-teológico da nossa fé; mas, é possível dizer que, é uma carta singular no que diz respeito ao entendimento da liberdade que temos em Cristo por razão da Sua obra consumada.
Romanos foi escrita provavelmente de Corinto, em uma das viagens que o Apóstolo fizera para lá.

Os seus destinatários são Judeus e Gentios cristãos, os quais não formavam apenas uma igreja local no sentido que nós conhecemos (Vide 1:7 – A todos os que em Roma são amados de Deus e chamados para serem santos...), e sim, o conjunto de casas-igreja nas quais os cristãos se congregavam.

O fundamento teológico da carta é a justificação que há apenas no Nome de Cristo. Então, a partir deste tema maior o Apóstolo desenvolve os seus argumentos dentro do campo da ética.

II -A MALDADE INTRÍNSICA DO HOMEM

O Rei Davi já dissera que: em pecado me concebeu a minha mãe. Este é um fundamento básico para iniciarmos o estudo da moralidade do homem. De fato, o homem não é um animal social, o qual nasce bom e é levado ao mal tão somente por influência da sociedade. Ao contrário, ele já nasce em pecado e busca o mal pelo fato dele se encontrar, nas palavras de Santo Agostinho, contaminado pelo pecado, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus - (3:23).

Paulo inicia o livro aos Romanos afirmando que a humanidade, representada ali pelos moradores de Roma, trocaram a verdade pela mentira; ao invés de adorarem a Deus, adoraram a própria criatura; por isso, então, Deus os entregou a uma disposição mental reprovável. É bem verdade que nem todos os homens, em razão da distância de Deus, buscam uma vida de promiscuidade como aqueles buscaram; no entanto, todos aqueles que ainda não foram justificados por Cristo andam “tateando” sem terem uma conduta ética clara que possa leva-los a agradar a Deus, porquanto, a única forma de agradarmos a Deus plenamente é por meio do Sangue de Cristo.

Deste modo, o homem “natural” não tem condições de propor uma mensagem integral para a transformação da sociedade, pois, nas palavras de Schaeffer, a única proposta de transformação real e substancial vem do cristianismo.
Cabe aqui uma aplicação para aqueles que pensam que os ideais humanos podem mudar realmente a sociedade.

Há alguns anos atrás o mundo se viu dividido entre comunistas e capitalistas. Os dois tentaram mostrar para a sociedade que a sua proposta de governo era a melhor e a que realmente atingiria as necessidades básicas do homem. Ledo engano de ambas as partes! Até hoje nenhum dos dois conseguiu de fato suprir as demandas do mundo urbanizado com as suas mazelas e contradições (por mais que eu concorde que o capitalismo tenha conseguido um maior progresso).

Em Romanos 3 observamos Paulo afirmando que não existe nenhum justo, não há quem busque a Deus, não há quem entenda..., isto é, a depravação gerou no homem uma “impossibilidade moral” dele construir uma sociedade mais justa, pois se assim não fosse Cristo teria morrido em vão.

III - A JUSTIFICAÇÃO POR MEIO DA FÉ

Após termos visto que Paulo mostra o homem como absolutamente pecador, dependente de Deus e impossibilitado de fazer “plenamente” o bem para a humanidade, vamos nos deter na proposta de Deus para a mudança do caráter do homem, por meio da Justificação dos seus pecados via o Sacrifício consumado de Cristo.

Paulo nos diz que Deus providenciou a cura para o mal intrínseco do homem. Deus nos prova que Ele é amor e que, quer desenvolver uma relação de intimidade com a sua criatura.

Os capítulos 3 ao 5 passam a discorrer acerca da justificação que há em Cristo. Paulo revela que, por meio do sangue de Cristo, Deus trouxe uma nova era de paz para o homem (5). Então, a partir do momento que o homem se entrega a Cristo, confessando-o como o Seu Salvador e Senhor, a paz de Deus (Fl 4) passa a fazer parte da vida do novo homem, dando-lhe real sentido de vida. Assim, tendo em vista que o pecado é o mal que escraviza o homem, neutralizando-o no que diz respeito a fazer o bem “real”, Deus liberta a Sua criatura, recriando-o à imagem e semelhança de Seu Filho amado, dando-lhes condições de ser o representante de Deus na terra. Ademais, quando o homem crê em Cristo e passa a fazer parte de uma igreja local, ele se torna um emissário do Reino de Deus. O Reino que veio trazer a proposta para “reconstruir” o universo (apesar de que ainda será consumado o Reino sobre a terra. É o “já e ainda não”), e dar esperança para o homem, baseado na obra consumada de Cristo.

É importante frisar que Paulo não tinha interesse de ensinar teologia como um fim em si mesmo, ou à guisa dos compêndios de Teologia Sistemática os quais nós conhecemos. Ao contrário, o seu desejo era o de centralizar o pensamento do povo de Deus na obra de Cristo, para daí leva-los à prática de uma vida correta, que pudesse mudar o contexto de vida deles. Isto é, esta idéia de ensino puramente “intelectual” da fé sem vistas à prática do mesmo, é uma concepção Ocidental de religião e não judaico-cristã. Paulo nunca intentou escrever um compêndio de teologia sistemática conforme conhecemos em nosso meio evangélico ocidentalizado; o seu desejo era o de dar respostas que fossem de encontro aos questionamentos doutrinários e existenciais dos cristãos. Este era o seu real desejo. Ou seja, Paulo entendia que a comunicação teológica se dava por um via muito mais do “coração” do que da “mente” . A teologia deve responder de forma muito clara e direta aos conflitos do homem no seu cotidiano, porém, não de forma superficial, antropocêntrica e simplista. Fazer teologia não envolve “apenas” conhecer o texto bíblico, mas também a realidade em que ele está sendo pregado para que a aplicação faça sentido. Clodovis Boff, em seu livro Teologia Pé no Chão, comenta esta idéia dizendo que a teologia tem que ser feita junto ao povo, e não de forma puramente intelectual sem sentir, contudo, o pulsar do coração do povo. Ele disse:

Pé no chão, significa, em primeiro lugar, uma teologia que caminha com os pés e não com a cabeça. De uma teologia chã, terrosa. Mas sempre grávida dos germes de todo o chão fecundo.

Pé no chão, em seguida, porque esta teologia se faz primeiro com os pés. Trata-se aqui de um pensar teológico que entra pelos pés, penetra por todo o corpo e sobe até a cabeça. Pois há coisas que só captam indo até lá e vendo. Esta teologia diz o que viu e ouviu em suas andanças no meio do povo - (Boff: 1984, 12).

Esta foi a forma pela qual o apóstolo Paulo fez sua teologia. Ele não produziu pensamentos teológicos no vácuo, e sim, mediante situações concretas predefinidas.
Isto chama-se, então, Teologia Prática. Para compreender melhor o que significa este termo, o Dr. Júlio Paulo esclarece afirmando que, “Sendo uma teologia da ação a partir do discernimento, o referencial teórico da Teologia Prática deve ser o de uma teoria crítica e discursiva da ação” ( ZABATIERO, 2003-09 ).

Isto é, a Teologia Prática percorre um caminho diferente do das outras disciplinas teológicas. Ela está mais preocupada com as dimensões da ação cristã, criticando-a e dando-lhe soluções para que possa cumprir melhor os mandamentos de Deus.

Eu não estou afirmando que a Palavra de Deus precise de reparos ou de conselhos. Muito pelo contrário. Creio piamente na Inspiração total das Escrituras, crendo, como conseqüência, na sua Inerrância.

O que quero exprimir é que, o desejo de Paulo era o de formar crentes atuantes e cientes de sua situação histórica. Pois o seu ensino não se deu no vácuo, e sim, em contextos específicos de vivência da fé.
Deste modo, no momento em que o homem é justificado dos seus pecados ele pode se valer do amor sacrificial de Deus para apresentar a Luz para os que ainda estão na escuridão.

III – A LUTA CONTRA O PECADO E O “DESENVOLVIMENTO” DA SALVAÇÃO

Dos capítulos 6 ao 8 Paulo passa a explanar acerca do imperativo da santidade. Para o homem, o limite não é o crer em Cristo, mas, o assemelhar-se a Ele a cada dia. Então, para isso é necessária a santidade.

De acordo com Paulo, a santidade só é possível quando o homem morre de uma por todas para o pecado (cap. 6) ressuscitando para uma nova vida, assim como Cristo o fez (no caso de Cristo Ele morreu não por Ele ter pecado, mas, por nós termos pecado. Ou seja, Ele nos substituiu!). Não obstante, o próprio Apóstolo, nos diz que não temos condições de vencer o pecado, pois o bem que queremos fazer não fazemos, mas o mal que não queremos, esse sim praticamos (cap. 7). Então, a solução está na graça de Deus. Deus é quem vive a vida cristã por nós. Por isso Paulo diz: já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim (Gl 2). Sendo assim, até o processo de santificação é dom da graça de Deus.

Para entendermos a teologia deste brilhante servo de Deus, se faz necessário vasculharmos o seu passado para capturarmos com mais propriedade o seu entendimento da Graça de Deus. O professor Wander pesquisou a vida do Apóstolo e chegou a algumas conclusões:

“Logo após a sua conversão, Paulo desejou imediatamente pregar; evangelizar, salvar o mundo! Seria normal tal ímpeto, afinal, desejava recuperar o tempo que havia perdido, ou ainda, tentar redimir-se dos males que havia causado à igreja de Cristo. Entretanto, ao empreender os primeiros esforços para pregar, as portas se fecharam. Foi então para o deserto da Arábia estudar, refletir, rever toda a sua formação religiosa. Três anos depois decidiu ir para Jerusalém. Lá as portas se fecharam novamente. Sobreveio-lhe, então, certa crise pessoal quanto à sua vocação. Mais dez anos se passaram. Foi quando Barnabé decidiu então procurá-lo, levando-o para a Igreja de Antioquia. Ali, mais um ano ainda teve de esperar. Totalizaram-se, desta forma, 13 ou 14 anos de espera desde a sua conversão, pois, converteu-se aos 28 anos e iniciou o seu trabalho missionário por volta dos 41. (Vide Gálatas 1:10-2:1).

Romanos, juntamente com Gálatas, mostram de forma muito clara a intenção de Paulo em expor que Deus havia libertado o povo da escravidão da lei e, que a vida cristã deveria ser vivenciada tomando por fundamento a Graça de Deus e o sacrifício de Cristo sendo, então, desnecessária a prática de leis cerimoniais da religião judaica.

Elas em conjunto testificam, portanto, da inutilidade do “esforço” humano para nos torna-los mais benquistos diante de Deus; ao contrário, Gálatas e Romanos (esta foi escrita após aquela) são testemunhas da Suficiência que há apenas no sacrifício de Cristo por nós, conferindo para “todo o que nele crê” a possibilidade de crescer na graça e no conhecimento do nosso Salvador.

As duas cartas revelam uma harmonia de assuntos e objetos incontestáveis. Os principais temas que observamos nas duas, são :

Gl 1:15-16 Rm 1:1-5 Separação para o Apostolado
Gl 2:15-21 Rm 3:19-28 Justiça da Fé
Gl 3:6-25,29 Rm 4:1-25 Abraão
Gl 3:26-28 Rm 6:3-5 Batismo
Gl 4:1-7 Rm 7:1-8,16 Servidão e Liberdade
Gl 4:21-31 Rm 9:6-13 Lei e Promessa
Gl 5:13-15 Rm 13:8-10 Liberdade do Amor
Gl 5:16-26 Rm 8:12ss. Vida no Espírito

Udo Shnelle chega, ainda, a dizer que, os conceitos de liberdade e vida no Espírito de Romanos estão prefigurados em Gálatas.

Parte XX
Ética Ministerial
Introdução

Autor(a): PROF. JOSIAS DOS SANTOS BATISTA JUNIOR

Mestre em Teologia, com área de Concentração em Teologia Sistemática, pela FTBSP (Faculdade Teológica Batista de São Paulo) e Bacharel em Teologia pela FAESP (Faculdade Evangélica de São Paulo). E-mail: juniorbat@gmail.com

OBS.: Escrita em forma de tópicos porque está preparada para aula expositiva.

Muitos pensam que o ministério eclesial, são apenas títulos outorgados a pessoas, por seus méritos, conquistas e capacidades próprias.

Esquecem-se que a VOCAÇÃO é o requisito fundamental para o bom ministro de Deus!

Hoje, percebe-se uma “crise funcional” em algumas igrejas, ou seja, pessoas fazendo o que é certo, nos lugares errados, no cargo errado e da forma errada.
Fazemos este estudo, não para confrontar os nossos obreiros, pois temos grande estima por todos, e cremos em suas chamadas.

Na realidade, o que se quer com este trabalho, é conscientizarmo-nos do que Deus quer de cada um de nós, quando somos chamados ao ministério.

O nosso grande desejo, é que possamos fazer a obra de Deus com “sucesso”.

E, quando diz-se sucesso aqui, usa-se este termo num sentido inteiramente sacro!
Ou seja, para nós, servos do Altíssimo, “sucesso” é estar no lugar correto, no momento exato, na função certa, fazendo aquilo que Deus quer e como Ele deseja.

I. MINISTÉRIO LOCAL

O que se quer designar com “Ministério Local”?
Ministério local são as atividades exercidas por intermédio de cargos e funções, outorgadas à pessoas, que fazem uso de suas habilidades vocacionais para o bom serviço local da igreja.

Ou seja, é o cargo ocupacional que beneficia os membros.

Segundo o dicionário, ministério é “mister; cargo; profissão; poder executivo ou o governo”.

Por conseguinte, ministro é “aquele a quem se incumbe um cargo ou função”.
Então, definindo, ministério local é a função ocupada por pessoas vocacionadas para tal, e a boa administração desta.

1. Ética

Ética é a “parte da filosofia que estuda os deveres do homem para com Deus e a sociedade.
Esta característica, ressalta a importância do bom relacionamento entre os ministros e os membros que estão sob o seu ministério.
Quando falamos em ética, falamos da boa educação dos líderes.
A ética tem tudo a ver com a sabedoria, pois a ética é a exteriorização da sabedoria.
O líder que não age com educação e respeito para com os seus subordinados, não pode dizer que possui sabedoria divina!
O ministro deve saber que:

a) Autoridade não se impõe, se conquista;
b) A autoridade não está sobre a pessoa, mas sobre a sua ocupação;
c) Não somos donos da vida de ninguém, mas sim, conselheiros;
d) Não se faz alguém submisso por intermédio do medo pela posição do líder ou por juízos divinos;
e) A ocupação não é para o benefício pessoal, não é para o ocupante, mas é para o benefício da igreja.

O bom obreiro sabe que não se cumprem ordens absurdas!
É preciso exigir de cada um, o que cada um pode dar.

Pois a autoridade repousa sobre a razão.

Assim, como nos é dito nos cursos de direito: “Requisita quem pode e requer quem pede.”

Deus “tudo pode”, então, Ele requisita; nós, como ministros SOB o Poder de Deus, apenas requeremos SOB a requisição dEle.

As pessoas não começarão a fazer algo apenas porque “eu” quero, mas porque foram conscientizadas de que é a vontade de Deus, e que é o melhor para elas mesmas.

Assim, todos estarão espontaneamente fazendo o que você pede, sem o famoso “autoritarismo”.

Tudo isto depende do grau de influência que você exerce sobre as pessoas.

O bom obreiro influencia sem forçar.
E, se quiser ser um influenciador em potencial, deve mostrar-se necessário à vida das pessoas que lideram.

A palavra grega “diakonos” é muitas vezes traduzida por “ministro” ou “servo”.
Na verdade, este termo grego significa mais do que isto, pois a língua grega faz uso de três palavras distintas para referir-se ao testemunho de alguém!

MARTIRÍA = Testemunhar com a própria vida;
KOINONÍA = Testemunhar através da comunhão;
DIAKONÍA = Testemunhar através do serviço.

O obreiro deve fazer uso das três formas de testemunho para ser ético.
Assim sendo, todas as exigências diaconais contidas na Bíblia, direciona-se a todos os obreiros da Casa de Deus!
A Bíblia pede para que o obreiro seja “cheio do Espírito Santo” (At. 6:3).
Mas, aqui surge-nos uma grande pergunta: “o que é ser cheio do Espírito Santo?”

É o simples fato de falar em línguas?
É pular, profetizar, fazer barulho?
Não! Nunca foi segundo a Bíblia!
Vejamos que, após o derramamento de poder, em Atos 2:42, as pessoas cheias do Espírito Santo, tinham características especiais, que são:

Perseveravam na doutrina – obedeciam à autoridade devidamente constituída;
Na comunhão – amor fraterno;
No partir do pão – reuniam-se regularmente nos cultos;
Na oração – dependiam exclusivamente de Deus.

A pessoa cheia do Espírito Santo, mostra frutos disto pela sua conduta, e não pelo seu “barulho”.
Nunca pense que o bom obreiro é o mais “gritão” ou o mais “pulão”!

Não é pelos dons alcançados que se mede a capacidade ministerial de uma pessoa, mas pelo fruto do Espírito sendo desenvolvido em sua vida (Gl. 5:16).

Não Dado a Muito Vinho (I Tm. 3:8).
Creio até ser sem necessidade demorarmo-nos neste ponto, pois só um insensato poderia achar que bebida alcoólica tem alguma coisa de bom para o Templo do Espírito Santo – nosso corpo.
Diz a medicina que nosso corpo precisa de doses diárias de vitaminas que o álcool contém, porém, não se faz necessário tomarmos bebidas alcoólicas para isto, é só balancearmos nossa alimentação, pois em algumas delas, já vem o que necessitamos para nossa saúde.
Irmãos, não useis coisas vãs para dar ocasião ao pecado! As culturas são variadas, então, como brasileiro, devo seguir a cultura evangélica brasileira!
Aqui fala para não sermos dados a MUITO vinho, referindo-se a que podiam beber um pouco. Mas, o vinho ao qual a Bíblia se refere, é o suco da uva natural, não fermentado.
O vinho para os hebreus é como o café para nós.
Nunca deve querer alcançar outros cargos por preços impostos ou lisonjas.
Devem Ter Esposas Exemplares (I Tm. 3:11).
Não adianta o obreiro ser uma benção e a mulher uma perdição.
A esposa do obreiro não deve ser maldizente, murmurenta, faladora da vida alheia, apressada em ir embora, etc.
Devem ser fiéis em tudo, passando confiança ao marido.
Marido de Uma Só Mulher.

Na época, haviam os que eram favoráveis à poligamia, por causa da influência grega, e por isto, Paulo exorta-os a que tenham UMA SÓ ESPOSA.
A esposa é a adjutora, a assistidora, a AJUDADORA, o braço direito do marido.
Quantos obreiros que acabam, às vezes sem perceberem, aderindo à poligamia colocando outras mulheres, que não são a sua, como secretárias pessoais de seu ministério, dando a honra da sua esposa a outra mulher!?
E o pior, é que isto é falta de vigilância sexual, pois assim, estaremos “procurando casca de banana para escorregarmos”.

Temos também aqui, implicitamente, a exigência da atenção à esposa!

Ou seja, há uma só esposa para o obreiro, que é a com quem ele se casou literalmente.
A sua esposa não é a igreja, o ministério, etc., mas a mulher a quem Deus colocou ao seu lado.

Existe uma frase que diz: “atrás de um grande homem, tem sempre uma grande mulher”.

Mas, percebemos pela Bíblia e pela prática, que não é atrás do grande homem que tem uma grande mulher, mas sim, AO LADO.

Ser é mais do que ter.
Nunca diga: “quando eu for, farei isto ou aquilo”, pois isto só demonstra a sua dependência a uma carteirinha.
A carteirinha vem por reconhecimento de serviços prestados, ou seja, a carteirinha não é CONHECIMENTO, mas, RECONHECIMENTO.

2. Responsabilidades Éticas do Obreiro Para Com a Comunidade Local

O obreiro (principalmente o diácono), deve cuidar da ordem no culto.

Não digo ser simplesmente porteiro, mas sim, que cuide de todos os pontos possíveis da igreja – isto conta a portaria, mas não significa que seja porteiro.
O obreiro mantém estes vários pontos em ordem, para que o culto tenha um andamento perfeito.
O obreiro que está na nave da igreja é o que se preocupa com o barulho diferente no corredor da igreja, com o muito andar no momento do culto, com o cheiro de queimado em algum lugar, etc.
Enfim, ele é o que deixa os pastores preocupados só com a Palavra;

Tem que estar apto a auxiliar no culto, na falta do presbítero ou mesmo do pastor.

Deve estar também sempre preparado para uma eventual oportunidade ou até mesmo para a mensagem da noite – pode ser que não dê para o pastor avisá-lo antecipadamente!
O obreiro só não deve ministrar a Ceia do Senhor, se não for presbítero, evangelista ou pastor – salvo por uma eventualidade e com a permissão do ministério.
No caso do uso do óleo da unção e da Benção Apostólica, seguir o exposto acima.

Devem sempre estar bem vestidos.

O obreiro que auxilia de pé, é a porta de entrada da igreja – assim como os cooperadores que ajudam na portaria.
É aquele que sempre está em pé, à vista de todos – procure o obreiro estar em pé sempre (salvo os que atendem ao lado do púlpito).
É honroso ao obreiro estar sempre se portando socialmente.
E ainda, ser bem asseado, com roupas limpas, cheirosas e bem passadas, cabelos bem penteados e cortados, unhas limpas (imagine você pegando o pão da Ceia e ver as unhas sujas do obreiro próximas do pão!), e dentes escovados (é ridículo conversar com um obreiro que tem um mau-hálito terrível!).
É importante ao obreiro ir ao banheiro da igreja, antes do culto, e se olhar no espelho, para ver se está tudo nos conformes consigo mesmo.
Isto é zelo.

Espera-se também que o obreiro que atende na portaria, seja alguém receptivo, bem humorado, e que saiba resolver os problemas na hora do culto, sem chamar a atenção para si.
Outra coisa muito importante para se informar é que, não é ético o obreiro recolher a oferta e, dentro da nave da igreja ou em um canto qualquer, “enfiar” a mão na salva para ficar pegando troco.

Separe os trocos na sala onde for contado o dinheiro (tesouraria), daí sim, saia distribuindo-o para as respectivas pessoas.
Se não conseguir gravar todas as pessoas que lhe pedem troco, ande com um bloco de anotações, e marque quem te pedir troco, e o valor de cada um.
Isto facilita, dá ordem, segurança e embeleza a obra de Deus.
Para facilitar, pede-se para os cooperadores recolherem as ofertas iniciando de um ponto onde ele vá de encontro à tesouraria quando chegar ao último irmão.
Aconselha-se também aos dirigentes a orarem com toda a igreja, juntamente com os diáconos, antes de se recolher os dízimos e ofertas.

- Assim, quando acabarem de recolher, não precisarão orar sozinhos em um canto qualquer da igreja, e também poderão ir juntos à tesouraria.
- É importante contarem o dinheiro em no mínimo duas pessoas e assinarem juntos o valor total em um comprovante a ser entregue ao pastor – faça-se isto logo após o recolhimento.

Pede-se aos obreiros (e cooperadores que estão de pé, auxiliando), que não andem para cima e para baixo com a Bíblia na mão.

Pois devem estar com ambas as mãos livres para alguma eventualidade.
Coloque a Bíblia em um lugar onde você possa vê-la e fique atento ao seu redor.
Quando estiverem todos orando, o obreiro que está servindo como diácono deve estar também orando, mas com os olhos abertos – “Olhai, vigiai e orai...” (Mc. 13:33).
Quando forem fazer algo e um grupo estiver cantando com o (a) regente à frente, não passe pela frente do (a) regente, nem se for abaixado, é falta de ética!

O presbítero deve ser “o braço direito” do pastor, e na falta deste, o presbítero pode e deve dirigir a igreja, cumprindo todas as funções pastorais.

Isto inclui a Ceia do Senhor, a Benção Apostólica, o uso do Óleo da Unção, etc.

Consequentemente, exige-se do presbítero, que saiba ensinar, que seja comunicativo e que tenha um conhecimento aprofundado da Palavra de Deus.
O obreiro deve valorizar a família e administrar bem o tempo, para que possa dar atenção aos seus.

Se assim não fizer, para Deus, ele está em condição pior que a do infiel (I Tm. 5:8).

Mateus 26:41 registra que Jesus disse: “Vigiai e orai”.
Alguns trocam a ordem, dizendo que está escrito “orai e vigiai”, mas, o versículo não se encontra assim!
Vejamos que Jó não se sentia “o santarrão”, “o super-crente”!

Ele não achava que poderia vencer a tudo e a todos pelas suas próprias forças.

Então, como ele se manteve íntegro, reto e temente a Deus?

É simples, ele “se desviava do mal” (Jó 1:1).
Ele vigiava!

O obreiro no ministério local, deve reconhecer suas fragilidades humanas, e saber que quem pisou na cabeça de Satanás foi Jesus, e não nós, ainda (Rm. 16:20).
Quantos que ao alcançarem uma posição na igreja, por vaidade do cargo ao qual ocupam, tornam-se pessoas fechadas ao convívio comum!

Ficam com “cara-de-bule”, parecem “intocáveis” e “incomunicáveis”!

O obreiro deve ser uma pessoa acessível e simpática.
Vejamos o que Deus disse a Jeremias, em 1:5!

Parafraseando para hoje, é como se Deus nos dissesse assim: “Você é um homem do povo, pois o teu ministério foi dado por causa deles! Viva com eles, toque neles. Você é um deles, porém, com a incumbência de cuidar deles.”

Diz-se, acertadamente, que “o pastor tem cheiro de ovelha”.
Deve ter condições de ensinarem ao povo.
Porém, só se ensina o que se sabe! E como está o grau de conhecimento de nossos obreiros?!
Quantos que ao alcançarem um cargo de eminência, sentem-se os “sabichões” e não frequentam mais a Escola Bíblica Dominical, escolas teológicas, seminários, etc.?
Só está apto para ensinar quem está apto para aprender!
Falar-se-á, agora, com os que ensinam.

Aliás, na verdade, será exposto o que escreveu David Wilkerson, no livro “Faminto por mais de Jesus”.

David Wilkerson faz-nos as seguintes perguntas: “O que você está ensinando? A mesma coisa que um dia aprendeu? A revelação adaptada de algum grande pregador? Ou já recebeu revelação pessoal de Jesus Cristo? Se a recebeu, ela é progressiva? O céu está aberto para você?”
Nunca pensemos que já alcançamos tudo, pois somos o povo do caminho, ou seja, estamos “indo”, mas não chegamos ainda! (Os. 6:3)
Não Espancador, Mas Moderado.
Deus, no Antigo Testamento, reclamou sobre isto (Jr. 10:21).
Quantos são verdadeiros “nazistas espirituais”!
O obreiro, deve conscientizar-se que seu trabalho é levantar, não derrubar; curar, não jogar álcool sobre a ferida.
Alguns ainda dizem, quando espancam verbalmente os seus, que estão sendo sinceros, porém, antes de mais nada, devemos ser sinceros com os sentimentos dos outros!
Conforme já foi provado pelos psicólogos do behaviorismo, a disciplina positiva dá melhores resultados que a negativa.
Consequentemente, deve também o obreiro, não usar o púlpito para ataques a ninguém.
Não Ganancioso (I Tm. 3:8). A ganância é o desejo desgovernado por mais e a avareza pelo que já se tem.
E aqui, a ordem é para que o obreiro não seja ganancioso, tanto no que tange o lado material quanto no ministerial.
O dirigente, por exemplo, não pode querer fazer tudo sozinho na igreja.

Não pode querer ser o “bombril” – “mil e uma utilidades”;
E buscar a superioridade ministerial a qualquer custo.
Como se fosse um “papa-cargos”.

O Padre Antonio Vieira, missionário português (1608-1697), disse: “Considerai que querendo mais do que podeis, não só destruís o vosso poder senão também o vosso querer.”
Em Efésios 6:1-3, está exposto os deveres de um filho.

Mas, para que um filho tenha condições de ser conforme este mandamento, seus pais devem ser os motivadores, respeitando os filhos.
Respeito, biblicamente falando, não significa obedecer às vontades dos filhos ou ser submisso aos filhos, mas que devemos respeitá-los como pessoas que são.
Em Efésios 6:4, nos é explicado o modo de respeitarmos os filhos!
Colossenses 3:21 diz-nos o que ocasiona ao filho a falta de respeito dos pais para com ele.
Não sufoque seus filhos com ordens absurdas e com um militarismo barato.

O “por quê” de toda esta exigência de bom governo no lar para o presbítero, está na seguinte parte: “pois se alguém não sabe governar sua própria casa, como cuidará da igreja de Deus?”
Como diz o adágio: “Costume de casa vai à praça”.
Meditemos agora em Lucas 16:10.

Troque a frase NO MÍNIMO por NA FAMÍLIA, e a NO MUITO por NA IGREJA.
Teremos: “Quem é fiel NA FAMÍLIA, também é fiel NA IGREJA, e quem é injusto NA FAMÍLIA, também será injusto NA IGREJA.

Pede-se aos obreiros a que sejam transformados e não que sejam transformistas!
Existem ministérios que, acertadamente, só separam seus obreiros, depois de pesquisarem suas vidas, até mesmo pela vizinhança (Fp. 4:5; I Tm. 3:7).
Não adianta ser obreiro só dentro da igreja, pois isto é muito fácil (II Co. 11:14,15)!
O obreiro deve viver o que prega e pregar o que vive.

Um sermão pode durar alguns minutos, mas com nossas vidas, pregamos sempre.
Você é o sermão!

Que seja pontual nos seus compromissos.

É uma vergonha o culto já ter começado e o obreiro que senta-se no púlpito, estar passando pelo meio da igreja.
Não adianta também esperar e subir na hora da oração, pois isto só demonstrará que o obreiro não tem reverência enquanto fala-se com Deus.
E ainda têm alguns que, além de chegarem tarde, passam cumprimentando todo mundo, parecendo políticos, como se todos só estavam esperando por ele para começarem o culto!

Aos que estão no púlpito, também pede-se que sentem-se decentemente enquanto lá estiverem e não como se estivesse no sofá de sua casa.

II. DOZE EXIGÊNCIAS ÉTICAS QUE DEUS FAZ PARA A ESCOLHA DE UM OBREIRO (LV. 21:21-23)

Têm os que podem somente “comer o pão”.
Existem, porém, os que além de comerem, são escolhidos para “servir o pão”.
E Deus faz algumas exigências aos que serão escolhidos para o “serviço”!
Deus não quer que “sirvam o pão”:

1. Cego (v. 18)

Refere-se a cegueira espiritual.
Cego não pode guiar cego.
Tem que ter visão de Deus.

A visão de Deus não é a nossa visão.
Não devemos limitar a visão de Deus.

2. Paralítico/Coxo (v. 18)

Pessoa paralisada, acomodada na obra não pode servir.
Deus não tem plano de aposentadoria na terra para ninguém.
Temos que nos desenvolver, não é possível o tempo passar e tudo continuar na mesma.
Toda vez que a Bíblia menciona um encontro com Jesus e um paralítico, lê-se a frase: “levanta-te e anda”!

3. Nariz Chato (v.18)

“Chatonildo”, “cri-cri”, “resmungão”, etc.
Tem obreiro que detesta criança!
Outros detestam jovens!
Não dão um sorriso sequer.
Nada está perfeito para eles.

4. Membros Demasiadamente Compridos (v. 18)

Deformados e não transformados.
Têm dupla personalidade, ou seja, um dia está feliz com todos, no outro está batendo em tudo.
Em casa é uma coisa, na igreja é outra.
Não crescem na Graça e no Conhecimento de uma forma equilibrada (II Pe. 3:18).
Cuidado também com a tendência ao “fanatismo” e ao seu oposto, que é o “mundanismo”.

5. Pé Quebrado (v. 19)

Quem tem o pé quebrado, não consegue andar direito.
Tem que usar “amuletas”, que são pernas artificiais.

Precisam às vezes de enfeites intelectuais ou ministeriais (II Co. 10:12, 17-18).
Precisam de algo externo para se locomoverem.
Usam de manivelas para com o povo de Deus.

Tem obreiro se arrastando no púlpito e não reconhece.
Este é presa fácil para o “lobo”, pois não terá tempo de correr e salvar a ovelha.
Jesus quer restituir o “pé” aos que assim se encontram, basta reconhecerem (I Co. 2:1-2).

6. Mão Quebrada (v. 19)

A pessoa com a mão quebrada, não pode estendê-la.

Característica do obreiro que não ajuda ninguém na caminhada.

Também não pode abri-la.

Não contribui, pois é “mão de vaca”.

7. Corcovado/Corcunda (v. 20)

Não conseguem olhar para cima, pois estão cheios de peso nas costas.
? Tem obreiro que carrega o peso da culpa.

Culpa de não se humilhar a ninguém.
De não pedir perdão.
Não podem levantar a cabeça para falarem sobre respeito, porque não são respeitadores.

Tem os que estão corcundas porque carregam a igreja toda nas costas.

Jetro disse para Moisés dividir o serviço.
Não somos funcionários muito ocupados, mas filhos obedientes.

8. Anões (v. 20)

Nunca crescem espiritualmente, sempre têm os mesmos problemas passados.
Estão estagnados:

No conhecimento;
No famoso “eu sou assim mesmo”;
Num ponto de vista antiquado;
Etc.

Não ligam para o crescimento do povo, pois prendem-se em uma frase incompleta, que diz que “Deus não tem compromisso com quantidade, mas sim, com qualidade”.

Porém, creio que Deus tem compromisso com quantidade e com qualidade.
Também mede-se a qualidade pela quantidade!

Tem pessoas que pensam que os projetos de Deus são do tamanho dos seus próprios projetos.

9. Belida no Olho/Catarata (v. 20)

Quem tem este problema, não vê direito, assim, têm uma impressão errada sobre todo mundo (Mc. 8:24).
Vêem as coisas de Deus e não discernem, vêm as do mundo, e igualmente não conseguem discernir.

Ficam tentando colocar sentimentos físicos para descobrir se algo é de Deus, por exemplo: “quando é de Deus eu sinto um fogo dentro de mim!”

Apontam um mamão falando que é uma laranja.

10. Sarna (v. 20)

Quem tem sarna necessita de encostar-se para coçar-se.
A pessoa que tem sarna espiritual anda se coçando nos outros.

É fofoqueiro, mexeriqueiro, etc.

Vive contaminando as outras pessoas com seus problemas, com suas revoltas.
Passa coisas ruins.

Ensinos ruins;
Modos ruins;
Cânticos duvidosos;
Etc.

11. Impingem/Ferida Aberta (v. 20)

Amargura, vingança.

“Perdoar é aceitar não somente a ferida, mas também quem feriu.” (Revista Raio de Luz)

Tem obreiro que usa o púlpito para se vingar.
Tem alguns preconceituosos, racistas, facciosos (Tg. 3:14-16).

12. Testículos Quebrados (v. 20)

Quem tem “testículos quebrados” é estéril.

Sem capacidade de reprodução.
Sem capacidade de gerar vidas.

Obreiro estéril nunca consegue aumentar a quantidade de filhos.
Não adianta colocar este em outro lugar.

Sua mensagem é estéril;
Sua conduta é estéril;
Seu pensamento é estéril;
Seu coração é estéril;
Seu cristianismo é estéril.

CONCLUSÃO

Nossa vida na Obra do Senhor, é como mais uma página, a ser escrita na História da Igreja de Cristo.
E, como está sendo redigida a nossa história?

Será uma história de conquistas ou de fracassos?!

Somos como viajantes no deserto, por onde passamos, deixamos nosso rastro.

Como está sendo deixada as nossas pisadas?

Saibamos também que Deus não chama desocupados.

Não espere sentado a chamada, mas ponha-se em pé, arregace as mangas e mãos à obra!

NINGUÉM passa a ser ALGUÉM após um título.
Cumpramos nosso ministério da melhor forma possível, pois, ao terminá-lo, deveremos dizer como o apóstolo Paulo em II Timóteo 4:7.
Deus confia em seus ministros, não O desapontemos!

Sem nadas mais graça e Paz da Parte de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo