TEOLOGIA - PARTE 16

Estudo Teológico Sobre Festas

A PÁSCOA NO CALENDÁRIO

Parte I

Por que o natal é comemorado sempre no dia 25 de dezembro e a páscoa é celebrada em dia e até mês diferente da páscoa anterior? Sabemos que a páscoa judaica e a páscoa cristã são distintas em sua essência, embora ambas abordem o mesmo tema da libertação. A primeira comemora a libertação do cativeiro egípcio sob a liderança de Moisés, enquanto que a segunda, a páscoa cristã, enfoca a libertação do pecado em Cristo Jesus, mediante sua morte e ressurreição.

Contudo, gostaria de chamar sua atenção para o lugar da páscoa nos calendários judaico e cristão. Os judeus comemoram a páscoa no mês de nissan, que equivale ao nosso mês de março ou abril. O calendário judaico é basicamente lunar; o cristão é solar. O calendário cristão remonta ao período de Júlio César, o primeiro imperador romano.

Com o auxílio de Sosígenes, astrônomo de Alexandria, Júlio César elaborou um calendário em que o ano comum seria de 365 dias e que, para acertar o ano civil ao ano trópico (designação para o tempo decorrido entre duas passagens consecutivas), fosse acrescentado de 4 em 4 anos um dia complementar. Ao ano de 366 dias foi dado o nome de bissexto. Por isso, a cada quatro anos o mês de fevereiro tem 29 dias. Esse calendário foi criado no ano 45 a.C. e denominou-se calendário juliano em homenagem ao imperador que o instituiu. No século XVI o papa Gregório XIII fez algumas correções no calendário juliano, e por isso passou a ser chamado também de gregoriano. É que o ano trópico não tem exatamente 365 dias e 6 horas como se pensava, e sim, 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 50 segundos. Portanto, o calendário juliano estava errado em 11 minutos e 10 segundos por ano para mais. Esses, acumulados no decorrer dos séculos, trouxeram confusão, a ponto de em 1585 já haver uma diferença de 10 dias entre o ano trópico e o ano civil. Coube então ao papa Gregório XIII determinar a reforma do calendário cristão.

Em suma, o calendário cristão é solar e o judaico lunar (Luach). Por ser solar, o calendário cristão torna-se bissexto a cada quatro anos. O calendário judaico, diferentemente do gregoriano, está baseado no movimento lunar, quando cada mês (com 29 ou 30 dias) se inicia com a lua nova. Se comparado com o calendário gregoriano, temos em um ano solar 12,4 meses lunares, ocorrendo uma diferença a cada ano de aproximadamente 11 dias. Para compensar essa diferença, a cada ciclo de 19 anos acrescenta-se um mês inteiro (Adar II), o ano de 13 meses ou embolísmico.

Essa alteração é necessária por causa da páscoa. A páscoa judaica deve cair sempre na primavera.

Embora o calendário cristão seja solar, ele é lunar quanto à páscoa. Os cristãos tomaram emprestado o calendário judaico para que a páscoa cristã coincidisse com a páscoa judaica. É por isso que a cada ano a nossa páscoa cai em dias e até meses diferentes. O princípio é o mesmo para o carnaval. Não existe carnaval no calendário judaico, mas por ser o carnaval uma festividade essencialmente pagã, adota-se o calendário lunar para que o carnaval aconteça sempre antes da páscoa.

Lembre-se que a páscoa é uma das festas mais importantes para o judeu. Sua comemoração nunca deve acontecer fora da primavera. É verdade que não é em todo o mundo que se comemora a páscoa na primavera, e sim no outono também; mas isso acontece porque metade do planeta está no hemisfério norte e a outra no hemisfério sul. Aqui no Brasil, por exemplo, na época da páscoa estamos no outono, mas nos Estados Unidos, Europa e Israel é primavera.

Os Evangelhos relatam que Jesus ressuscitou num dia muito especial. Ele ressurgiu no primeiro dia da semana; no dia do Senhor, no domingo. O primeiro dia da semana nunca mais seria o mesmo após a ressurreição de Jesus. Sua ressurreição também ocorreu num dia ensolarado. E na primavera, a estação mais alegre do ano.

Finalmente, quanto ao natal ser comemorado no dia 25 de dezembro, independente do dia da semana (embora não se saiba ao certo o dia em que Jesus nasceu) é que, além de não existir natal no calendário judaico, e por ser o nascimento de Jesus uma data tão importante para o cristianismo, preferiu-se adotar o calendário solar.

Parte II
Quaresma. Veja o que a The Grolier Multimedia Encyclopedia, 1997 nos diz a respeito:

"O Carnaval é uma celebração que combina desfiles, enfeites, festas folclóricas e comelança que é comumente mantido nos países católicos durante a semana que precede a Quaresma. Carnaval, provavelmente vem da palavra latina "carnelevarium" (Eliminação da carne), ticamente começa cedo no ano novo, geralmente no Epifânio, 6 de Janeiro, e termina em Fevereiro com a Mardi Gras na terça-feira da penitência (Shrove Tuesday)." (The Grolier Multimedia Encyclopedia, 1997. Traduzido por Irlan de Alvarenga Cidade)

Em contra partida vemos que isso era apenas um pretexto para que os romanos e gregos continuassem com suas comemorações pagãs, apenas com outro nome, já que a Igreja Católica era quem ditava as ordens na época e não era nada ortodóxo se manter uma comemoração pagã em meio a um mundo que se dizia Cristão.

"Provavelmente originário dos "Ritos da Fertilidade da Primavera Pagã", o primeiro carnaval que se tem origem foi na Festa de Osiris no Egito, o evento que marca o recuo das águas do Nilo. Os Carnavais alcançaram o pico de distúrbio, desordem, excesso, orgia e desperdício, junto com a Bacchanalia Romana e a Saturnalia. Durante a Idade Média a Igreja tentou controlar as comemorações. Papas algumas vezes serviam de patronos, então os piores excessos eram gradualmente eliminados e o carnaval era assimilado como o último festival antes da ascensão da Quaresma. A tradição do Carnaval ainda é comemorada na Bélgica, Itália, França e Alemanha. No hemisfério Ocidental, o principal carnaval acontece no Rio de Janeiro, Brasil (desde 1840) e a Mardi Gras em New Orleans, E.U.A. (dede 1857). Pre´-Cristãos medievais e Carnavais modernos tem um papel temático importante. Eles celebram a morte do inverno e a celebração do renascimento da natureza, ultimamente reunímos o individual ao espiritual e aos códigos sociais da cultura. Ritos antigos de fertilidade, com eles sacrifícios aos deuses, exemplificam esse encontro, assim como fazem os jogos penitenciais Cristãos. Por outro lado, o carnaval permite paródias, e separação temporária de constrangimentos sociais e religiosos. Por exemplo, escravos são iguais aos seus mestres durante a Saturnália Romana; a festa medieval dos idiotas inclui uma missa blasfemiosa; e durante o carnaval fantasias sexuais e tabus sociais são, algumas vezes, temporariamente supensos." (The Grolier Multimedia Encyclopedia, 1997. Traduzido por Irlan de Alvarenga Cidade)

A Enciclopédia Grolier exemplifica muito bem o que é, na verdade, o carnaval. Uma festa pagã que os católicos tentaram mascarar para parecer com uma festa cristã, assim como fizeram com o Natal. Os romanos adoravam comemorar com orgias, bebedices e glutonaria. A Bacchalia era a festa em homenagem a Baco, deus do vinho e da orgia, na Grécia, havia um deus muitíssimo semelhante a Baco, seu nome era Dionísio, da Mitologia Grega Dionísio era o deus do vinho e das orgias. Veja o que The Grolier Multimedia Encyclopedia, 1997 diz a respeito da Bacchanalia, ou Bacanal, Baco e Dionísio e sobre o Festival Dionisiano:

"O Bacanal ou Bacchanalia era o Festival romano que celebrava os três dias de cada ano em honra a Baco, deus do vinho. Bebedices e orgias sexuais e outros excessos caracterizavam essa comemoração, o que ocasionou sua proibição em 186dC." (The Grolier Multimedia Encyclopedia, 1997. Traduzido por Irlan de Alvarenga Cidade)

Essa descrição da Bacchanalia
encaixa como uma luva em Carnaval

"Da Mitologia Romana, Baco era o Deus do vinho e da orgia. O filho de Semele e Júpiter, Baco era conhecido pelos gregos como Dionísio. Sua esposa era Ariadine."

"Dionísio era o antigo deus grego da fertilidade, danças ritualísticas e misticismo. Ele também supostamente inventou o vinho e também foi considerado o patrono da poesia, música e do drama. Na lenda Órfica Dionísio era o filho de Zeus e Persephone; em outras lendas, de Zeus e Semele. Entre os 12 deuses do Monte Olimpo ele era retratado como um bonito jovem muitas vezes conduzido numa carruagem puxada por leopardos. Vestido com roupas de festa e segurando na mão uma taça e um bastão. Ele era geralmente acompanhado pela sua querida e atendido por Pan, Satyrs e Maenades. Ariadine, era seu único amor."

"O Festival Dionisiano era muitas vezes orgíaco, adoradores algumas vezes superavam com êxtase e entusiasmo ou fervor religioso. O tema central dessa adoração era chamado Sparagmos: deixar de lado a vida animal, a comida dessa carne, e a bebida desse sangue. Jogos também faziam parte desse festival." (The Grolier Multimedia Encyclopedia, 1997. Traduzido por Irlan de Alvarenga Cidade)

O Festival Dionisiano então, não parecer ser a mesma coisa que a Bacchanalia e o Carnaval? Nós, os Cristãos, não devemos concordar de modo algum com essa comemoração pagã, que na verdade é em homenagem a um falso deus, patrono da orgia, da bebedice e dos excessos, na verdade um demônio. Pense nisso.

Parte II
A PERSPECTIVA MISSIOLÓGICA DA PÁSCOA CRISTÃ
.Introdução

Num contexto de mudanças tão rápidas e da banalização do cristianismo, eu particularmente creio que a celebração cristã que mais representa o significado do verdadeiro cristianismo é a páscoa cristã.

Nela encontramos elementos que resumem o que verdadeiramente significa ser cristão no mundo de hoje. Sem a páscoa cristã não teríamos nenhuma boa notícia para contar a ninguém.

Ela nos diz por exemplo, que: 1. A experiência da páscoa cristã veio confirmar todo o ministério terreno de Jesus. Ele foi verdadeiro e tudo aquilo que ele disse e fez se consumam nesta experiência maravilhosa; 2. Os evangelhos só foram escritos por causa deste evento e que sem ele não teríamos nada prá contar ao mundo; 3. Também nos fala de uma era que se estava findando e de uma nova que estava tomando forma e começando. A páscoa cristã tem profunda influência na origem da missão da Igreja cristã primitiva, pois era o Cristo ressurrecto e exaltado que atraia e atrai as pessoas a Deus.

Neste contexto eu gostaria de pensar sobre o que tudo isto tem a ver conosco no inicio de um novo milênio e meditar sobre a perspectiva dessa experiência tão singular na história da humanidade, para nós hoje enquanto comunidade cristã, Igreja.

Eu quero pensar que os eventos dos últimos dias da vida de Jesus na terra nos falam sobre a nossa responsabilidade de encarnar sua história e nos remetem para a Missão.

1. A Perspectiva Futura da Comunidade Cristã - Com a páscoa a comunidade cristã ganha perspectiva de futuro, sentido de continuidade, o sonho não acabou. Ela ganha senso de auto definição e identidade própria para prosseguir com sua missão delegada e realizar o seu chamado. É somente com base na experiência deste evento que todo o ministério terreno de Jesus tem significado futuro. Este ministério não cessa, não desaparece, nem tão pouco é extinto, ele continua ministrando no mundo através desse ajuntamento de pessoas que são agregadas a esta comunidade. Sua Igreja.
É exatamente neste particular que podemos dizer que por causa da páscoa cristã, os evangelhos foram escritos, e também não seria muito dizer que sem ela, estes não teriam e nem fariam nenhum sentido para as gerações futuras dessa comunidade. Estes foram escritos não só para mostrar eventos passados e históricos, mas para revelar um fé viva, impulsionadora e verdadeira que queima o peito e faz esta comunidade marchar em direção ao futuro com confiança e segurança de que Cristo está e sempre estará presente com a sua comunidade, seu povo.

2. A Perspectiva da Vitória de Cristo Sobre o Mal - A páscoa também nos fala sobre o ápice da presença de Jesus na terra. Sua ressurreição e exaltação significam que Ele já possui a vitória sobre Satanás, a Morte, o Inferno, o Mundo. E que o seu Reino já se tornou uma realidade, mesmo que nem todos reconheçam isto ainda. Portanto não existe nenhuma perspectiva de se falhar nesta missão, o sucesso da missão da Igreja ou não, não trará ou deixará de trazer o Reino de Deus, que já é uma realidade presente no mundo, conduzida para dentro de nossa experiência (realidade) pelo evento da páscoa cristã.
A comunidade dos primeiros cristãos responde a tudo isto de uma maneira maravilhosa, através da sua expressão missionária. Manifestando por onde passavam os mesmos sinais do Reino de Deus, da mesma forma como Jesus fazia, curando, expulsando demônios e etc. Eles entendiam que não era um esquema, um método mas que o poder da experiência da páscoa cristã era que os conduzia a vitória e assim proclamavam a glória de Deus entre os homens, falando não só da experiência de Cristo que voltou dos mortos, como também de suas próprias experiências como aqueles que foram tirados das trevas para a maravilhosa luz de Deus.

3. A Perspectiva do Espírito Santo Sobre Esta Comunidade - Mesmo que o Pentecostes aconteça depois de quarenta dias, quando o Espírito de Deus foi derramado sobre esta comunidade. Podemos afirmar que existe uma intima ligação entre estes dois eventos. Se o evento da Ressurreição havia trazido confiança e identidade própria à esta comunidade, o derramar do Espírito Santo trouxe coragem, intrepidez e ousadia para que esta comunidade se tornasse testemunha dos fatos ocorridos, mesmo que isto viesse a custar-lhes a própria vida. Foi somente através do poder do Espírito Santo que eles se tornaram testemunhas. Newbigin diz que missão é o fluir do Pentecostes, e alguns até afirmam que a primeira atividade do Espírito Santo é Missão.
É através do Espírito Santo que Cristo continua vivo e ativo no mundo e que no dia de Pentecostes Ele escancara as portas dessa comunidade e lança os seus discípulos para o mundo. Com certeza a experiência da páscoa é o inicio do fim dos tempos. Quando será o fim? O tempo é curto e cabe a nós debaixo da orientação do Espírito Santo fazer a vontade de Cristo da mesma forma que Ele cumpriu a vontade do Pai.

Conclusão
Para os discípulos a ressurreição de Cristo e a vinda do Espírito Santo são provas incontestáveis da presença do Reino de Deus entre nós. Mas o que temos nós a ver com isso, as portas de um novo milênio, num contexto de "terceiro mundo", numa Igreja que luta para descobrir a sua própria identidade num mundo de tão rápidas mudanças?

Bom, penso que para nós, da América Latina:

1. Não há outra possibilidade de se continuar existindo, enquanto Igreja, que não seja sob a perspectiva do Cristo ressurrecto.
Sem o Cristo ressurrecto não existe a suprema autoridade sobre todas as coisas, principados, poderes e dominações deste século presente que nos tornaria impotentes para desenvolver qualquer tarefa missionária.
2. Não há outra possibilidade de se continuar existindo, enquanto Igreja, que não seja sob a perspectiva da natureza missionária da Igreja.
Sem páscoa Cristã a Igreja não seria existente. Esta comunidade cristã só existe por causa do Cristo ressurrecto e é sua tarefa primordial contar a todos que Deus em Cristo reconcilia o homem consigo mesmo.

3. Não há outra possibilidade de se continuar existindo, enquanto Igreja, que não seja sob a perspectiva do já e do ainda não.
A páscoa cristã nos diz que a realidade do Reino de Deus já é presente, e que a caminhada dessa comunidade tem que ser marcada por esta noção do já e do ainda não. Anunciar, buscar e clamar o Reino de Deus, presente e futuro é prerrogativa da existência desta comunidade.

Feliz Páscoa!

Bibliografia
Bosch, David J.,Transforming Mission:Paradigm Shifts in Thelogy of Mission New York, Orbis Books, 1999
Newbigin, Leslie, Trinitarian Doctrine for Today's Mission England, Paternoster Press, 1998

Parte III
"LEVANDO A SÉRIO O NATAL DE JESUS"
"Naqueles dias saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo fosse recenseado. Este primeiro recenseamento foi feito quando Quirínio era governador da Síria. E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. Subiu também José, da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Enquanto estavam ali, chegou o tempo em que ela havia de dar à luz, e teve a seu filho primogênito; envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem. Ora, havia naquela mesma região pastores que estavam no campo, e guardavam durante as vigílias da noite o seu rebanho. E um anjo do Senhor apareceu-lhes, e a glória do Senhor os cercou de resplendor; pelo que se encheram de grande temor, o anjo, porém, lhes disse: Não temais, porquanto vos trago novas de grande alegria que o será para toto o povo: É que vos nasceu hoje, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: Acharás um menino envolto em faixas, e deitado em uma manjedoura. Então, de repente, apareceu junto ao anjo grande multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens de boa vontade" (Lc 2.1-14).

A cena é muito viva, muito forte, impressionante. Pastores estavam no campo guardando rebanhos, possivelmente destinados aos sacrifícios do templo. Eram pessoas desprezadas. Tão desprezadas que eram rejeitados como testemunhas em julgamentos. E, no entanto, foram escolhidos por Deus para receber em primeira mão a mensagem de salvação numa prévia da proclamação na sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4.18,19).

O anúncio não era esperado pelos pastores, e, restabelecida a confiança dos ouvintes, vem a nota de alegria e de vitória: "Fora o temor! Alegria! Profunda alegria!" Na verdade, a alegria sempre anda de mãos dadas com a pregação do evangelho. Jesus Cristo anuncia e traz a salvação, e a alegria imprime a sua marca: "Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar" (Lc10.17; cf. At 5.40, 41).

A proclamação da alegria ocorre porque hoje Ele nasceu! Começou o tempo final, o tempo da realização! Chegou a plenitude dos tempos!

E quem é essa criança recém-nascida? Diz o mensageiro dos céus: o Salvador, o Cristo, o Senhor! E, no entanto, parece que tudo está às avessas, pois o Senhor, o Cristo, o Salvador está repousando num cocho, numa estrebaria.

Esse é, porém, exatamente o sinal de Sua necessidade, pois talvez houvesse na pequena vila de Belém outra criança envolta em faixas que lhe apertariam o corpinho, os braços, as pernas para que se desenvolvessem firmes e ajustadas, segundo criam as comadres da época. Mas dormindo num mangedoura, só o Messias. Esse é o sinal, a marca da humildade, do esvaziamento nos termos do antigo hino que era cantado nas reuniões da Igreja dos apóstolos, e que Paulo registrou em Filipenses 2.5-11, hino que canta a encarnação, ministério, morte, ressurreição e exaltação de Jesus Cristo, hino que representa a confissão de fé dos nossos irmãos da primitiva Igreja:

"Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus, o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz. Pelo que também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu o nome que é sobre todo nome; para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho dos que estão nos céus, e na terra, e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai." (Fl 2.5-11).

Surgem os anjos formando uma grande milícia, um grande exército. Mas é um exército diferente?! Não de guerra, senão de paz! E se realiza, deste modo, o primeiro culto cristão de que se tem notícia: a mensagem foi pregada (vv. 10-12), o coro canta

"Glória a Deus nos mais altos céus, e na terra Sua paz aos homens sobre quem repousa Seu favor" ["Glória a Deus nas alturas, e paz na terra e boa vontade aos homens a quem Ele quer bem"] (v. 14).

Cumpre-se Hebreus 1.6, e em duas linhas, duas breves linhas, cantam os mensageiros de Deus o que significa o nascimento de Jesus. Não é um desejo; é uma proclamação dos extraordinários feitos de Deus, razão porque, quase no fim do Seu ministério terreno, Jesus afirma, "Eu te glorifiquei na terra, completando a obra que me deste para fazer" (Jo 17.4)

Alegria! Grande nota de alegria! Pois se até agora, dava-se glória ao gênio, à fortuna, ao triunfo, no Novo Testamento é a glória de Deus, a paz por excelência, a alegria coroando essa paz!

A PAZ É UM IDEAL

É próprio da linguagem cristã falar em algo que já está conosco, mas ainda há de ser pleno. O reino de Deus já está entre nós, mas há de ser plenamente implantado (cf. Mc 1.15; Lc 17.21; Mt 6.10); Satanás já está vencido, porém o "mundo inteiro jaz no Maligno" (1Jo 2.13b; 5.19b); Jesus Cristo já é vencedor, mas há de vencer (Jo 16. 33; Mt 24.30). A paz é conseqüência da chegada do reino de Deus, não obstante o mundo viver em violência. É tão somente ler as manchetes dos jornais.

"Glória a Deus" é algo fundamental à "paz na terra". A paz de Jesus Cristo, no entanto, não é como a oferecida pelo mundo, pelos sistemas de idéias, pelas escolas de pensamentos ou pelos sistemas políticos. O mundo conhecia a chamada Pax Romana, a paz existente porque Roma era a senhora do mundo. Foi o período de 30 a.C. a 180 d.C., quando deu-se uma grande prosperidade e tranqüilidade por razão do bom governo dos romanos das Ilhas Britânicas aos limites da Mesopotâmia (hoje Iraque) e do Mar do Norte ao Norte da África.

A Pax Romana foi iniciada com Otaviano que conseguiu resolver os problemas internos e externos, acabou com os piratas do Mediterrâneo que prejudicavam a navegação entre a capital do império e as províncias da Äsia Menor e as da costa africana. Estradas foram construídas para uso militar, e depois para transporte de bens de consumo e alimentos: o vinho, o azeite, a cerâmica da Gália (hoje França), vidro da Germânia (hoje Alemanha, têxteis da região gaulesa (hoje Bélgica), o fim do pedágio. O imperador permitiu certa autonomia às províncias e a manutenção da língua, costumes e religião locais. Havia, no entanto, uma língua franca: o grego comum.

Porém, se Jesus tivesse vindo um século antes, o evangelho teria sido bloqueado pelas fronteiras fechadas, e pelos piratas nos mares; se dois séculos depois, os bárbaros não permitiriam a evangelização se expandir. Não é, porém, dessa paz política que os anjos cantaram, pois por volta do terceiro século d.C., acabou a Pax Romana vencida pela anarquia política, inflação monetária e tremenda crise financeira.

A paz encerra todas as bênçãos trazidas pela salvação: é o restabelecimento de tudo o que fora perdido pelo pecado; é a conseqüência da aliança de Deus com Israel, e renovada por Jesus Cristo (cf. Is 54.10). É o evangelho de Cristo, que é o Príncipe da paz, nossa paz (cf. Ef. 6.15; Is 9.5ss; Ef 2.14). É paz de espírito na verdade e na luz, essa luz que envolveu os pastores e como luz de Cristo envolvem cada cristão. Não é paz para o ambicioso, para o mundano, para o ímpio, ou para o que quer vitória passageira. Essa glória e essa paz que há nos céus devem por Jesus Cristo se tornar realidade na terra (cf. Is 57.15-20).

A PAZ É UM DEVER

Aprendemos com a Bíblia que a paz acompanha a fé (Rm 15.13); Acompanha também a justiça e a retidão (Is 32.17); acompanha o conhecimento de Deus (Sl 119.165) e acompanha a mente guiada pelo Espírito Santo (Rm 8.6).
A promoção da paz é um dever dos crentes em Jesus Cristo (Mt 5.4). Entretanto, não é fácil ser pacificador. Nas "bem-aventuranças", Jesus Cristo não está falando de se ser pacífico. Não são bem-aventurados os que tomam uma atitude passiva diante das injustiças, malquerenças e calúnias. São bem-aventurados os promotores da paz, os que ativamente empregam suas energias espirituais, morais e materiais para promover a reconciliação e conseqüentemente a paz. Lembremos que nossa tendência, da velha criatura, do coração não renovado pela misericórdia de Deus, á para represálias e vinganças. Paulo explica esse ensino de Cristo ao nos lembrar que o mesmo Jesus nos confiou o ministério da reconciliação (2Co 5.18), e, realmente, a paz que Jesus trouxe foi a reconciliação entre Deus e a pessoa humana, bem como a reconciliação entre o ser humano e seu semelhante, e a iniciativa é sempre do Criador.

A promoção da paz como dever do cristão é lutar pelo estabelecimento de um ambiente de justiça, e nunca a lei foi tão machucada como em nossos dias: nunca o caráter foi tão desprezado em nossa pátria! Mas isso não é novidade! No começo do século, Capistrano de Abreu, historiador patrício, dando uma entrevista sobre o descredito das leis de nossa pátria, sugeriu que melhor seria que fossem queimadas todas as leis do Brasil, e decretada uma só: "cada brasileiro fica obrigado a ter vergonha!" E o assunto é muito mais antigo: "Portanto se envergonharam por terem cometido abominação? Não, de maneira alguma: nem tampouco sabem que coisa é envergonhar-se" ( Jr 6.15a ).

A promoção da paz como dever do crente em Jesus Cristo é lutar pela sinceridade entre as pessoas, e mais especialmente entre os irmãos em Cristo. No teatro romano, o uso de máscaras determinava o sentimento da cena. Máscaras eram feitas de cera: daí que sem a máscara era estar "sem cera", ou seja, sincera.

Duas coisas alimentam a sinceridade: o amor e a pureza da alma. Quanto ao amor, Paulo ensina, "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes e não tivesse amor, nada seria." (1Co 13.1,2)

Quanto à alma pura, é aquela que se apresenta equilibrada, bem orientada, não dividida em seus sentimentos para com Deus e o próximo. Paulo ensina que "tudo é puro para os que são puros" (Tt 1.15) A alma impura não tem discernimento e não pode expressar o que é bom, porque não discerne entre o bem e o mal.

Jesus Cristo é a expressão da esperança e das promessas do Antigo Testamento: a proclamação aos pobres, aos que vivem afastados, aos que não têem abrigo nas cidades, aos que estão sós como aqueles pastores dos campos de Belém.

A glória de Deus e a paz entre os homens estão em Cristo unidas para sempre. Não é resultado de tratados, alianças ou acordos entre autoridades governamentais, mas é pura obra de Deus! Isso é o que o Natal tem significado para os cristãos comprometidos com o Cristo que é o "Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai Eterno e Príncipe da Paz" (Is 9.6). A essa paz somos chamados!

Nascimento de Cristo
Alfredo Stein
Há quase dois mil anos, no Oriente
nascia uma criança.
Trazia para os homens, para o mundo,
um hino de bonança.
Era de Deus, do Seu amor profundo,
mensagem de esperança,
para falar ao coração descrente.

Nessa noite, no céu, na imensidão,
por ter Jesus nascido,
cantavam anjos - "Glória ao nosso Deus!"
Possa hoje ser ouvido,
cantarem anjos nos mais altos céus,
por ter Jesus nascido
dentro de ti, no teu coração!

Parte V
Parte IV
O NATAL É CRISTÃO?
Devem os cristãos celebrar o Natal? Um bom número de seitas e novas igrejas que professam seguir a Cristo, insistem que o Natal é uma festa pagã o qual todos os verdadeiros cristãos devem afastar-se.

Provavelmente a mais notável destas religiões são as Testemunhas de Jeová, que publicam ferroados ataques sobre a celebração do Natal ano após ano. No entanto, estes grupos não estão sós na sua condenação destes feriados religiosos mais populares.

Muitos cristãos evangélicos também acreditam que o Natal é uma celebração pagã, vestindo "roupas cristãs". Enquanto muitos cristãos marcam o Natal como um dia especial para adorar a Cristo e dar graças pela Sua entrada no mundo, eles rejeitam qualquer coisa que tenha a ver com Papai Noel, árvores de Natal, troca de presentes e tal.

Existem bases bíblicas para rejeitar tudo ou parte do Natal? Qual deve ser a atitude dos cristãos neste assunto? Essa pergunta que está diante de nós.

A resposta dada aqui é de que, enquanto certos elementos da tradição Natalina são essencialmente pagão, eles devem ser rejeitados (especialmente as bebidas e imoralidades, na qual o mundo se acham dona naquele período do ano), o Natal em si e muitas das tradições associadas com ele, pode ser celebrado pelos cristãos que tem uma consciência clara. Aqueles que se inclinam a rejeitar fora de mão, tal posição, podem estar interessados em saber que, durante um tempo este escritor teria concordado com eles. Um exame minucioso destes assuntos incluídos, no entanto, conduz a uma conclusão diferente.

Celebrando o aniversário de Jesus
O argumento básico e comum apresentado contra o Natal, é de que não se encontra na Bíblia. Muitos cristãos, e também grupos como as Testemunhas de Jeová, sentem de que ao não estar mencionado nas Escrituras, não é portanto para ser observado. De fato, as Testemunhas argumentam que desde que as únicas pessoas na Bíblia que celebravam o seu aniversário onde Faraó (Gn 40:20-22) e Herodes (Mt 14:6-10), Deus tem uma visão obscura a respeito de celebrações de aniversário em geral.

Sendo assim, eles sentem, que Deus não aprovaria a celebração do aniversário de Jesus.

Em resposta a estes argumentos, algumas coisas precisam ser ditas. Primeiro de tudo, o fato é que a Bíblia nada diz contra a prática de celebração de aniversários. O que foi mau nos casos de Faraó e Herodes, não era o fato de celebrarem seus aniversários, mas, sim as práticas más nos seus aniversários (Faraó matou o chefe dos padeiros, e Herodes matou João Batista). Segundo, o que a Bíblia não proíbe, seja explicitamente ou por implicação de alguns princípios morais, é permitido ao cristão, enquanto for para edificação (Rm 13:10; 14:1-23; I Co 6:12; 10; 23; Col 2:20-23; etc.). Portanto, desde que a Bíblia não proíbe aniversários, e eles não violarem princípios bíblicos, não há base bíblica para rejeitar aniversários. Pelo mesmo motivo, não há razões bíblicas para rejeitar completamente a idéia de celebrar o aniversário de Jesus.

25 de Dezembro
Outra objeção comum ao Natal está relacionado com a guarda de 25 de dezembro como sendo o aniversário de Cristo. Freqüentemente instam que Cristo não podia ter nascido no dia 25 de dezembro (geralmente porque os pastores não teriam seus rebanhos nos campos de noite naquele mês), portanto, no dia 25 de dezembro, não podia ter sido seu aniversário. Como se isso não bastasse é também apontado de que 25 de dezembro era a data de um festival no Império Romano no quarto século, quando o Natal era largamente celebrado nesse dia.
É verdade que parece não haver evidência como sendo o aniversário de Cristo nessa data. Por outro lado, tem sido demonstrado que tal data não é impossível, como é suposto normalmente.

Contudo, pode ser admitido de que é altamente improvável que Cristo realmente tenha nascido em dezembro 25.

Este fato invalida o Natal? Realmente, não. Não é essencial para a celebração de aniversário de alguém, que seja comemorado na mesma data do seu nascimento. Os americanos comemoram os aniversários de Washington e Lincoln na terceira Segunda-feira de Fevereiro todos os anos, ainda que o aniversário de Lincoln era no dia 14 de Fevereiro e o de Washington, 22 de Fevereiro. Se tivesse certeza de que Cristo realmente nasceu digamos, em 30 de abril, deveríamos então celebrar o Natal naquele dia? Enquanto que não haveria nada de errado com tal mudança, não seria necessário. O propósito é o que importa, não a atual data.

Mas, e com respeito ao fato de ser 25 de dezembro a data de um festival pagão? Isto não prova que o Natal é pagão? Não, não o prova. Em vez, prova que o Natal foi estabelecido como um rival da celebração do festival pagão. Isto é, o que os cristãos fizeram era como dizer, "Antes do que celebrar em imoralidade o nascimento de Ucithra, um falso deus que nunca nasceu realmente, e que não pode lhe salvar, celebremos com alegre justiça o nascimento de Jesus, o verdadeiro Deus encarnado que é o Salvador do mundo."

Algumas vezes, se insta a que se tome um festival pagão tentando "cristianizá-lo" é insensatez. No entanto, Deus mesmo fez exatamente isso no Antigo Testamento. A evidência histórica nos mostra conclusivamente, que algumas festas dadas a Israel por Deus através de Moisés eram originalmente pagãs, os festivais agriculturais, os quais eram cheios de práticas e imagens idólatras.

O que Deus fez com efeito, era estabelecer festividades os quais tomariam o lugar dos festivais pagãos, sem adotar nada da idolatria e imoralidade associado com ela.

Poderia dar a impressão, então, que em princípio nada há de mal em fazê-lo, se tratando do Natal.

Santa Claus (Papai Noel)
Provavelmente a coisa que mais incomoda aos cristãos sobre o Natal mais do que qualquer coisa, é a tradição do Papai Noel. As objeções para esta tradição inclui o seguinte:
[1] Papai Noel é uma figura mística incluído com atributos divinos, incluindo onisciência e onipotência;
[2] quando as crianças aprendem que Papai Noel não é real, eles perdem a fé nas palavras dos seus pais e em seres sobrenaturais;
[3] Papai Noel distrai a atenção de Cristo;
[4] a história de Papai Noel ensina as crianças a serem materialistas.
Em face a tais objeções convincentes, pode-se dizer algo de bom do Papai Noel.
Antes de examinar cada uma destas objeções, deve se notar que, o Natal pode ser celebrado sem o Papai Noel. Retire Papai Noel do Natal e o Natal permanece intacto. Retire Cristo do Natal, no entanto, e tudo que sobre é uma festa pagã. Sejam quais forem nossas diferenças individuais de como tratar o assunto de Papai Noel com as nossas crianças, como Cristãos nós podemos concordar com este tanto.

1.) Não existe dúvida alguma de que Papai Noel na sua presente forma, é um mito, ou conto de fada. No entanto, houve realmente um Papai Noel o nome "Santa Claus" é uma forma anglosaxona do Holandês, Sinter Klaas, que por sua vez significava "São Nicolau".

Nicolau foi um bispo cristão, no quarto centenário, sobre quem pouco sabemos por certo. Ele aparentemente, assistia ao Concílio de Nicéia no AD. 325, e uma forte tradição sugere que ele demonstrava uma singular bondade para com as crianças. Enquanto que o velho vestido de vermelho puxando um trenó conduzido por veado voador é um mito, a história de um velho amante de crianças que lhes trouxe presentes, provavelmente não é - e em muitos países, é só isso que "Santa Claus" é.

Deve-se admitir que contar às crianças que Papai Noel pode vê-los em todo tempo, e de que ele sabe se eles foram bons ou maus, etc... está errado. Também é verdade que os pais não deviam contar a seus filhos a história de Papai Noel como se fosse uma verdade literal. Contudo, as crianças com menos de sete ou oito anos, podem brincar de "fazer de conta" e tirar disso divertimento como se elas pensa-se que é real. De fato, a essa idade elas estão aprendendo a diferença entre o faz de conta e a realidade. Crianças mais jovens ficarão fascinadas pelos presentes que são descobertos na manhã de Natal, debaixo de uma árvore a qual lhes foi dito que são do "Papai Noel", porém, eles não tirarão conclusões sobre a realidade de Papai Noel por meio destas descobertas.

2.) Quando as crianças aprenderem que Papai Noel não é real, poderá perturbá-los um pouco, somente se os pais lhes disseram que ele realmente existe e que ele faz tudo que se pretendia dele. É por isso que deve-se dizer às crianças que Papai Noel é faz de conta, tão logo elas tenham idade suficiente para fazer perguntas a respeito da realidade.

Antes de ser uma pedra de tropeço para acreditar no sobrenatural, ele pode ser um trampolim. Diga às crianças que enquanto Papai Noel é uma faz de conta, Deus e Jesus não são. Diga-lhes que, enquanto Papai Noel só pode trazer coisas que os pais podem comprar ou fazer, Jesus pode lhes dar coisas que ninguém pode – um amigo que sempre está com eles, perdão para as coisas más que eles fazem, vida num lugar maravilhoso com Deus para sempre, etc.

3.) Siga as sugestões acima e não mais será Papai Noel um motivo para distraí-los de Cristo. Diga a seus filhos porque Papai Noel dá presentes, e porque Deus nos deu o presente mais maravilhoso, Cristo.
4.) Pelo contrário, a história de Papai Noel é melhor contada quando é usada para encorajar as crianças a ser abnegadas e generosas.

Árvores de Natal
Um dos poucos elementos sobre a celebração tradicional do Natal, dos que se opõe a isso, afirmam o que diz na Escritura sobre árvores de Natal. Especificamente pensa-se que em Jeremias 10:2-4 Deus explicitamente condenava árvores de Natal: "Assim diz o Senhor: Não aprendais o caminho das nações, nem vos espanteis com os sinais dos céus, embora com eles se atemorizem as nações. Porque os costumes dos povos são vaidade; cortam do bosque um madeiro, e um artífice o lavra com o cinzel."

Certamente há uma semelhança entre a coisa descrita em Jeremias 10, e a árvore de Natal. Semelhança, no entanto, não é igual a identidade. O que Jeremias descreveu era um ídolo – uma representação de um falso deus – como o verso seguinte mostra: "Como o espantalho num pepinal, não podem falar; necessitam de que os levem, pois não podem andar. Não tenhais receio deles; não podem fazer o mal, nem podem fazer o bem." (v.5)

A passagem paralela em Isaías 40:18-20 esclarece que o tipo de coisa que Jeremias 10 tem em mente, é na verdade um objeto de adoração: "Também consumirá a glória da sua floresta, e do seu campo fértil desde a alma até o corpo; será como quando desmaia o doente. O resto das árvores da sua floresta será tão pouco que um menino as poderá contar. Naquele dia os restantes de Israel, e os que tiverem escapado da casa de Jacó, nunca mais se estribarão sobre aquele que os feriu, mas se estribarão lealmente sobre o Senhor, o Santo de Israel." (Is 10:18-20)

Assim, a semelhança é meramente superficial. A árvore de Natal não se origina de adoração pagã de árvores (o qual foi praticada), porém, de dois símbolos explicitamente cristãos, do Ocidente da Alemanha Medieval.

A Enciclopédia Britânica explica o seguinte:

A moderna árvore de Natal, em hora, se originou na Alemanha Ocidental. O principal esteio de uma peça medieval sobre Adão e Eva, era uma árvore de pinheiro pendurada com maças (Árvore do Paraíso) representando o jardim do Éden. Os alemães montaram uma "árvore do Paraíso" nos seus lares no dia 24 de dezembro, a festa religiosa de Adão e Eva. Eles penduravam bolinhos delgados (simbolizando a hóstia, o sinal cristão de redenção); as hóstias eventualmente se transformaram em biscoitos de vários formatos. Velas, também, eram com freqüência acrescentadas como símbolo de Cristo. No mesmo quarto, durante as festividades de Natal, estava a pirâmide Natalina, uma construção piramidal feito de madeira com prateleiras para colocar figuras de Natal, decorados com sempre-verdes, velas e uma estrela. Lá pelo 16º século a pirâmide de Natal e a árvore do Paraíso tinham desaparecido, se transformando em árvore de Natal.
Mais uma vez, não há nada essencial sobre a árvore de Natal para celebrar o Natal. Como o mito moderno de Papai Noel, é uma tradição relativamente recente; as pessoas celebravam o Natal durante séculos sem a árvore e sem o semi-divino residente do Polo Norte.

O que é essencial ao Natal é Cristo. No entanto, isso não quer dizer que devemos jogar Papai Noel e a árvore fora de vez. Neste assunto temos liberdade cristã para adotar estas tradições e usá-los para ensinar os nossos filhos sobre Cristo, ou para celebrar o nascimento de Cristo, sem elas.

Nesse caso, não há nenhuma obrigação para celebrar seu aniversário também, desde que não é ordenado para nós na Escritura.

Todavia, seria estranho de fato, se alguém que foi salvo pelo filho de Deus, não se regozijar-se em pensar no dia que Sua encarnação manifestou-se pela primeira vez ao mundo naquela noite santa.

Parte V
O VERDADEIRO SENTIDO DA PÁSCOA
Informações que todos os Cristãos deveriam ter a respeito da Páscoa


O maior motivo de comemoração para os cristãos é o dia em que seus pecados foram perdoados, o dia em que o homem foi comprado por um preço muito alto e esse preço foi a vida do próprio filho de Deus, que morreu para que todos pudessem ter vida eterna através dEle. Ele morreu, mas também ressuscitou, e esse é o nosso maior motivo de orgulho.

A Páscoa, o feriado onde todos nós deveríamos celebrar com júbilo e regozijo a Graça do Senhor Jesus, tem perdido o sentido ao longo dos anos. Fiquei muito triste quando um dia, ao conversar com uma criancinha de 8 anos, ao perguntá-la qual era o sentido da Páscoa ela ter me dito que era o dia em que deveríamos ficar esperando o "coelhinho da páscoa" para comer os "ovos de páscoa". Aquilo atingiu o meu peito como uma flecha, pois desde muito pequena ela sempre freqüentou a Escola Bíblica Dominical e ficou muito surpresa quando eu lhe disse o que era realmente a Páscoa, então resolvi continuar a pesquisar, vi que apenas 2 em 10 crianças, filhas de Evangélicos, sabem qual é o verdadeiro sentido da Páscoa, mas de quem é o erro? De nós mesmos.

Quem nunca deu um "ovo de páscoa" para o seu filho? Ou ainda, que nunca fez seu filho no domingo de Páscoa acordar bem cedo para procurar os ovinhos que o coelhinho deixou???

Como? O coelho nem ao mesmo coloca ovos! Nas escolas, as professoras fazem uma festinha explicando o sentido da Páscoa, dizendo que é por causa de Jesus que nós a comemoramos ou vestem as crianças de coellhinho e distribuem ovos de chocolate? O ensinamento que deveria ser dado na Páscoa é dado no Natal, ou melhor, na farsa do Natal (Leia "A Pura Verdade Sobre O Natal"). Outro meio que serve para massificar a idéia do "coelhinho da Páscoa" na mente das crianças é a TV, as propagandas que falam sobre os ovos de páscoa e usam a imagem de um coelhinho "fabricando os ovos".

Muitas outras coisas ainda ajudam a esconder a maravilhosa verdade sobre a Páscoa das crianças: Outdoors, Cartazes, encartes nos jornais de domingo etc.

Leia com atenção o texto abaixo da The Grolier Multimedia Encyclopedia 1997, que fala sobre a Páscoa:

"De acordo com The Venerable Bede, o nome da Páscoa (em inglês Easter) é derivado do festival pagão da primavera, da deusa anglo-saxã Eostre, e muitos costumes folclóricos associados com a páscoa (por exemplo, ovos de páscoa), são de origem pagã.

O dia de Páscoa é atualmente determinado pelo primeiro domingo após a lua cheia em/ou após 21 de março. As Igrejas Ortodoxas Orientais, contudo, preferem seguir o Juliano ao Calendário Gregoriano, então sua celebração cai normalmente algumas semanas depois da Páscoa Ocidental. A Páscoa é precedida pelo período de preparação chamado de Quaresma." (The Grolier Multimedia Encyclopedia, 1997. Trexo traduzido por Irlan de Alvarenga Cidade).

Em que caminho estamos educando as nossas crianças? No cristianismo ou no paganismo? Estamos cumprindo a palavra de Deus? Veja o que ela diz:

"Portanto, assim como recebestes a Cristo Jesus, o Senhor, assim também nele andai, arraigados e edificados nele, e confirmados na fé, assim como fostes ensinados, abundando em ação de graças." (Colossenses 2:6-7)

" Porque, desde a infância sabes as sagradas letras, que podem necessitais de que se vos torne a ensinar os princípios elementares dos oráculos de Deus, e vos haveis feito tais que precisais de leite, e não de alimento sólido." (Hebreus 5:12)

"O qual nós anunciamos, admoestando a todo homem, e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, para que apresentemos todo homem perfeito em Cristo" (colossenses 1:28)

Devemos prestar mais atenção em pequenos detalhes que podem se transformar em uma bola de neve no futuro, afetando na vida espiritual e devocional de nossos filhos. Pense Nisso.

Parte VI
UMA VISÃO CRISTÃ DAS FESTIVIDADES DE ISRAEL
Hebreus 10.1-18
Apropriamo-nos do pensamento do filósofo judeu Abraham Heschel ao expressar que as civilizações pensavam e pensam em termos de espaço. Daí as grandes e esplêndidas construções que elas deixaram. Quem não se recorda de ter lido sobre as "Maravilhas do Mundo Antigo", entre elas: as pirâmides do Egito, o Colosso de Rodes, os jardins suspensos da Babilônia, o farol de Alexandria, a Grande Muralha da China. Em nossos dias, a Torre Eiffel em Paris, o Big Ben em Londres, a Estátua da Liberdade em Nova Iorque, e o Cristo Redentor no Rio de Janeiro nos impressionam.

E aí completa o filósofo dizendo que assim não procedeu o povo israelita. Em vez de levantar uma construção, um monumento em termos de espaço que poderia ser derrubado como tantos dos mencionados o foram, eles construíram "monumentos no tempo".

Que expressão linda! "Santuários de tempos", que são as grandes festas mencionadas na Bíblia: Pessach, Hag Shavuoth, Yom Kippur, Hag Sukkoth, ou seja, respectivamente, a Páscoa, a Festa das Semanas, o Dia do Perdão, a Festa dos Tabernáculos. Outro desses monumentos é o "dia de descanso", o Yom Shabbat, do qual devemos aprender o significado de repouso, de honra, de prazer e de alegria.

Mas, como cristãos, que visão temos dessas festividades e dias solenes judaicos? O Dr. J. Scott HORRELL descrevendo o fenômeno da igreja atual diz que "somos mais veterotestamentários do que neotestamentários em nosso pensamento sobre a igreja" É real. Distorções, desvios e muita imaturidade têm sido encontrados entre os grupos evangélicos, históricos alguns, neopentecostais na maioria.

Há uma absurda tendência de confundir a cultura judaica com a fé expressa na Palavra de Deus, admitindo como canônico, portanto, divinamente inspirado, tudo o que procede da cultura e do folclore israelitas. Recordamo-nos que num curso de hebraico moderno patrocinado pelo Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia, em Salvador, onde havia pessoas de origem israelita e três ou quatro evangélicos, uma senhora, membro de igreja neocarismática, chegou ao ponto de chamar as judias, inclusive a professora, de "nossa irmã". Sim, pelo destino natural de cada ser humano; não, à luz da revelação em Cristo Jesus.

Isso é acorrentar-se aos "rudimentos fracos e pobres" de rituais e festividades que têm pleno cumprimento na Nova Aliança, a HaBerith haHadassah, mencionados por Paulo em Gálatas 4.9. Isso é distorção do foco espiritual, o que retrata uma má teologia da Nova Aliança. Aliás, há quem tenha mais facilidade de seguir o que diz o "apóstolo", o "bispo", o pastor, a pastora ou o pregador da televisão que o que ensina o Novo Testamento. No entanto, os estandartes hasteados no extraordinário movimento espiritual que foi a Reforma Protestante do século 16 (Sola Gratia, Sola Fide, Sola Scriptura, Solus Christu) convocam o povo de Deus a voltar à "fé que de uma vez por todas foi entregue aos santos" (Jd 3) , à palavra de Deus "viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes" (Hb 4.12), à "doutrina que é segundo a piedade" (1Tm 6.3).

O fato é que igreja virou um tremendo empreendimento comercial. Demonizada há pouco tempo, hoje é cortejada pelos políticos e corretores de investimento que buscam o apoio dos "apóstolos" e "bispos" de todas as cores doutrinárias. O sucesso é medido pela capacidade de ganhar dinheiro, templos tornam-se shopping centers literal e metaforicamente falando; prestígio é afanosamente buscado. E a determinação paulina "Eu pela lei estou morto para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo, e já não vivo, mas Cristo vive em mim" (Gl 2.19, 20) tornou-se em algumas personalidades "Não mais Cristo, mas meu narcisismo vive em mim".

É como diz SALINAS "Dentro do movimento evangélico observa-se o retorno a antigas, primitivas práticas, justificadas como bíblicas mas pertencentes a uma época quando a visão teológica de Israel era profundamente limitada e primitiva". Com isso, mexe-se com a soteriologia, e, mesmo com a escatologia. A experiência cultual deixa de ser "em espírito e em verdade", teocêntrica, cristocêntrica para ser antropocêntrica e egocêntrica, porque interessa tão somente o que "eu vejo", o que "eu sinto" e o que "eu experimento".

O fato é que Deus tornou a história de Abraão altamente profética ao ligá-lo ao futuro de todos os povos. Cada acontecimento, cada evento, é uma semente, uma sombra, uma figura que amadurece, desabrocha, realiza-se na Nova Aliança. Isso quer dizer que natureza, história e graça de Deus se unem dando significado especial a cada festividade.

UMA LEITURA CRISTÃ DO ANTIGO TESTAMENTO

As festividades religiosas de Israel estavam ligadas às estações do ano agrícola. Eram celebradas na primavera, no começo do verão e no outono. A princípio, iam ao santuário local; do século 7° em diante, tornaram-se festas de peregrinação a Jerusalém. Na época de Jesus, Jerusalém que abrigava 40 mil habitantes passava a 150 mil peregrinos.

As festividades registradas em Levítico 23 são as seguintes:

• Yom Shabbat (Dia do Descanso);
• Pessach (Páscoa);
• Habikurim (Primícias);
• Hag Shavuoth (Semanas, Pentecoste);
• Yom Kippur (Dia do Perdão);
• Hag Sukkoth (Tabernáculos).
E porque todas essas festividades são memoriais, cada uma é cumprimentada com uma bênção especial: "Agradeço-te por nos ter mantido vivos e sãos, permitindo-nos apreciar essa época".

2. Yom Shabbath (Descanso)

A palavra hebraica shabbat é utilizada para uma série de conceitos:
• Para o sétimo dia da semana, o yom shabbat;
• Para a semana inteira, shabbat shanim (Lv 23.5);
• Para o ano sabático, realizado de sete em sete anos (cf. Lv 25.2, 8, 34, 35, 43).
Modernamente, a palavra shabbat é usada para designar "parada, cessação, pausa, repouso, descanso, desistência, interrupção", e, mesmo, "greve". Acrescente-se que a palavra Shabbathai, da mesma raiz, designava o planeta Saturno, cultuado no sétimo dia, o que é atestado em algumas línguas como o inglês "dia de Saturno", Saturday, em holandês, Zaterdag; em afrikaans, Saterdag.

Registra-se na Babilônia a palavra shapattu, o dia do meio do mês (lua cheia), considerado, porém, um dia funesto: médicos não tocavam uma pessoa enferma, sacerdotes não emitiam profecias, reis não comiam carne cozida nem usavam roupa limpa.

É considerado o Yom shabbat como a mais importante celebração judaica. Levando em conta o calendário lunar utilizado liturgicamente pelo judaísmo, começa o dia de repouso na sexta-feira com o surgimento da primeira estrela. Nesse instante, inicia-se a celebração com uma oração de ação de graças nos seguintes termos: "Bendito és Tu, Senhor, nosso Deus, Rei do universo, Que nos santificas com Teus mandamentos e ordens de acender as luzes do shabbat."

O falecido pastor presbiteriano, Dr. Alfred EDERSHEIM, ele mesmo judeu austríaco, reconhece o que ele chama de "intoleráveis regras a respeito do sábado". Diz que só poderão ser compreendidas à luz da Mishah e da Gemara, que compõem a obra de comentários rabínicos intitulada de Talmud. Na verdade, vinte capítulos no Talmud de Jerusalém (Talmud Yerushalmi) e vinte e quatro no Talmud da Babilônia (Talmud Babli) discutem regras absolutamente fúteis no seu entender. Basta dizer que um rabino gastou dois anos e meio estudando o capítulo referente a animais de carga. Discute-se, aliás, o que seja carga, o que se torna um verdadeiro peso. Jesus fala sobre isso quando diz:

"Os escribas e fariseus estão assentados na cadeira de Moisés. Portanto observai e fazei tudo o que vos disserem. Mas não procedais de conformidade com as suas obras, pois dizem e não fazem. Atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem nos ombros dos homens; eles, porém, nem com o dedo querem movê-los" (Mt 23.2-4; cf. Lc 11.46).

Um exemplo desse fardo é não se constituir pecado recolher água da chuva diretamente do céu; entanto, se fosse tomada da parede pela qual escorria, seria pecado. A lei judaica proíbe dirigir no shabbat ou acender um fogão. Mas não proíbe mudar um móvel pesado dentro de casa.

Na verdade, o rabino Abraham Chill define trabalho (melakha) proibido como

"O conceito bíblico de melakha se aplica a trabalho que envolva a produção, criação ou transformação de um objeto. Alguém pode passar todo o shabbat abrindo e fechando um livro até cair de cansaço e não violar o shabbat. Por outro lado, o simples acender de um fósforo, só um, é uma profanação do shabbat porque envolve criação."

A Mishnah fala de trinta e nove trabalhos para os quais há uma interdição. Entre eles, arar, ceifar, assar bolo, tingir lã, tecer, dar permanentemente um nó, costurar, abater um animal, levantar ou demolir uma estrutura. São trinta e oito trabalhos proibidos nos quais se dá um ponto final a um serviço. O trigésimo nono proibido é carregar um objeto de um domínio particular a outro (dentro de casa ou da sinagoga, pode). Tudo o que é proibido usar no shabbat é também proibido de ser manejado: moedas, por exemplo.

Era proibido, ainda, acender e apagar candeeiro, cozinhar ovo, escrever duas letras, esfregar as mãos, andar mais que um certo número de passos (cf. At 1.12), e até prestar socorro a alguém que tivesse membros do corpo quebrados, curar, portanto. Era proibida a compra e venda de mercadorias (cf. Am 8.5), proibidas viagens (Is 58.13), chegando a elaborar quanto se podia caminhar no dia de descanso, no shabbat: 2.000 côvados, ou seja, aproximadamente 2.000 passos , O Livro dos Jubileus (1.8-12), literatura extracanônica, menciona que relações conjugais eram proibidas no Yom shabbat..

Contra esse tipo de mentalidade, Jesus Cristo reagiu por ter observado que haviam perdido a dimensão eterna pelas mesquinharias chamadas de religião! E, por essa razão, curou doentes no dia de descanso:

• curou um paralítico no poço de Betesda (Jo 5.1-18; cf. v. 9), razão porque foi duplamente chamado de herege (cf. v. 18);]
• curou uma cego de nascença (Jo 9.1-7, 13,14,16);
• curou um homem de mão atrofiada (Mc 3.1-6; Lc 6.6-11);
• curou uma mulher com terrível problema na coluna (Lc 13.10-17),
• e permitiu, no dia do shabbath, atividades que eram proibidas pela Lei porque Ele é superior à Lei e Senhor da mesma. Era proibido colher trigo para a alimentação, no entanto, permitiu que as espigas fossem colhidas (Mc 2.23-28).

Os grupos mais radicais na observância do shabbat eram basicamente três: a escola do rabino Shammai, a seita dos essênios e os samaritanos. Shammai entendia as proibições e deveres não apenas para os seres humanos e animais, mas também para objetos inanimados. Não se podia começar o tingimento de lã ou linho se não desse tempo de colocar para secar. Os essênios nem ao sanitário iam?!

A outra escola, bem mais liberal, era a do rabino Hillel, que discutia com Shammai se um alfaiate podia ou não segurar uma agulha depois de iniciado o shabbat. Aliás, Hillel, diferentemente de Shammai, excluía as coisas inanimadas das proibições, e dava um "jeitinho" na questão do trabalho, sugerindo que se pagasse um gentio para terminá-lo.

Toda a Escritura valoriza o descanso, pois desde o seu primeiro livro aponta para o descanso de Deus (Gn 2.3), bem como para o livramento do Egito, pois, "Lembra-te de que foste servo na terra do Egito, e que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão forte e braço estendido. Pelo que o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o repouso" (Dt 5.15).

Uma leitura cristã do shabbat aponta-nos para o perfeito repouso que é Jesus Cristo, o mesmo que pronunciou as confortadoras palavras:

"Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei [eu vos darei shabbat]. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis shabbat para as vossas almas" (Mt 11.28, 29).

Aliás, a preocupação de Jesus pelo bem-estar e conforto físico dos discípulos é algo enternecedor. Ao se retirar para Nazaré, Jesus envia Seus discípulos às vilas e aldeias do entorno daquela cidade dando-lhes autoridade sobre os demônios, o que efetivamente aconteceu (cf. Mc 6.12, 13). Ao retornarem (cf. vv. 30, 31), cansados porém alegres, relataram as bênçãos da missão designada, pelo que ouviram de Jesus o convite: "Vinde vós, aqui à parte, a um lugar deserto, e repousai um pouco". E a explicação: "Porque havia muitos que iam e vinham, e não tinham tempo para comer". Jesus os chama para um shabbat, uma pausa, um descanso.
É preciso encarar esse assunto em termos de tempo e de eternidade. Fixar-se num dia da semana é perder o senso da eternidade, mesmo porque nós não podemos doutrinar em cima de sombras do calendário (cf. Hb 10.1), o sábado temporal, e fazê-lo é perder a noção de que Jesus Cristo, Ele, sim, é o nosso shabbat, o nosso descanso, como mencionado em Hebreus 4.3: "Porque nós, os que temos crido, é que entramos no descanso, tal como disse: Assim jurei na minha ira: Não entrarão no meu descanso; embora as suas obras estivessem acabadas desde a fundação do mundo".

Percebe-se a importância e dignidade do ser humano, imagem do nosso Deus, semelhança do Criador. Percebe-se com absoluta clareza que a Lei e as suas instituições devem ser vistas à luz da eternidade. Realmente, a Carta aos Hebreus diz que a Lei é a sombra dos bens futuros, razão porque afirmamos que não se pode doutrinar em cima de sombras (cf. Hb 10.1). Portanto, com a Nova Aliança, as figuras e sombras da Antiga Aliança caducaram, e com elas as festividades judaicas agora vislumbradas sob o ponto de vista cristão. Que diferença da alegria, da felicidade, da liberdade de se viver na Nova Aliança! Jesus nos libertou disso quando disse, "O shabbat foi feito por causa do ser humano, e não o ser humano por causa do shabbat " ( Mc 2,27).

No Novo Testamento, as referências ao shabbat estão sempre em conexão aos judeus, tendo à frente o partido dos fariseus, ou em relação ao templo e às sinagogas. Mas com respeito ao Dia do Senhor, o primeiro dia da semana, as referências são sempre em relação a Jesus Cristo, ao Espírito Santo, à igreja e aos discípulos. Recordemos que o fato culminante da vida e da obra de Cristo Jesus é a Ressurreição. Por ela, somos justificados, diz a Palavra de Deus (cf. Rm 4.25), somos regenerados (1Pe 1.3), e alcançamos uma boa consciência para com o Pai (1Pe 3.21). Sem a ressurreição, porém, seríamos uns iludidos, a nossa fé completamente vazia e continuaríamos em nossos pecados; os que morreram em Cristo estariam perdidos, e seríamos os mais infelizes, os mais miseráveis, os mais desgraçados de todos os homens! (1Co 15.17-19) Mas só se a ressurreição não tivesse acontecido!

E essa é aspiração maior, o realizado anseio dos crentes: sentir nos cultos, nas suas próprias reuniões, a presença de Jesus Cristo, nosso Salvador! É o que acontece quando no primeiro dia da semana, no Dia do Senhor, "reunimo-nos aqui para glorificar o rei Jesus", o Qual aponta para um descanso superior que é o livramento total e eterno conforme Hebreus 4.9 em diante.

3. Pessach (Páscoa)

As festividades a que todo Israel deveria comparecer eram três: Pessach, Shavuoth e Sukkoth.
Pessach e a Hag Mazzoth, ou seja, a Páscoa e a Festa dos Pães Asmos, são, rigorosamente falando, celebrações distintas, visto que a primeira é celebrada em 14 do mês de Nisã e a segunda a partir do dia seguinte até o 21. No entanto, elas se fundiram a ponto de serem consideradas uma só tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento conforme se pode verificar em Mateus 26.17; Marcos 14.12 e Lucas 22.1. Pessach é uma festa de cunho pastoril, enquanto Hag Mazzoth é uma celebração agrícola.

A informação sobre o Pessach nos vem de textos litúrgicos, de textos históricos e de documentos extrabíblicos. No primeiro caso, temos o registro do ritual da festividade em Êxodo 12, Números 28.16-25, Ezequiel 45.21-2; os calendários religiosos em Êxodo 23.15; 34. 18, 25; Deuteronômio 16.1-8; Levítico 23.5-8; e, ainda, a história de Números 9.1-14.

Com respeito aos textos históricos, o primeiro Pessach celebrado em Canaã encontra-se em Josué 5.10-12; as celebrações públicas no reinado de Salomão (2Cr 8.13); no tempo de Ezequias em 2Crônicas 30.15; a realizada na época de Josias em 2Reis 23.21-23 (2Cr 35.1-18); a celebração depois do Exílio em Esdras 6.19-22. Em relação aos documentos extrabíblicos, destaque-se um papiro e duas ostracas (pedaços de cerâmica escritos) da colônia judaica de Elefantina no Egito.

A palavra pessach, que tem o significado de "passagem", refere-se à passagem do anjo do Senhor (cf. Ex 12.23, 27) que isentou os lares hebreus da última das pragas lançadas sobre a terra do Egito.

A narrativa menciona o sacrifício de um cordeiro ou cabrito cevado sem defeito, macho de um ano, no dia 14 do mês de abibe ("espigas verdes"cf. Lv 23.15; Ex 13.4) como oferta pelo pecado (cf. Ex 12.2-6). Do Exílio em diante este mês passou a ser chamado nisã, segundo nos diz Neemias 2.1.
Inicialmente, Pessach era uma celebração doméstica. Na época de Jesus passou a ser uma grandiosa peregrinação a Jerusalém (cf. Ex 12; Js 5.10-12; Mc 14.1, 2).

Em relação à Festa dos Pães Asmos ou Sem Fermento, esta iguaria era preparada absolutamente sem fermento, razão porque é chamada de "pão de aflição" (cf. Dt 16.3) por causa da saída apressada do Egito (Ex 12.33ss). Na verdade, produtos de pão continuam sendo proibidos nos oito dias da festividade. Realiza-se uma faxina completa na casa de modo a tirar todo resquício de khametz (fermento). Modernamente, pessoas de alto poder aquisitivo, especialmente nos Estados Unidos e Canadá, preferem se hospedar num hotel ritualmente puro (conhecido em hebraico como kosher) durante a semana para evitar a sobrecarga e estresse trazidos pela intensa faxina doméstica.

O fato é que ao celebrarem esta festividade, no seder, os judeus proclamam que chegou a hora de todos os povos serem livres. O tradicional desejo é que em liberdade seja realizada "No ano que vem em Jerusalém!" (Leshana tovah beYerushalaim!). Hoje, judeus da linha reformada preferem exclamar, "No ano que vem que a humanidade seja livre!"

Ocorre que esse é um desejo que já encontrou cumprimento. Uma leitura evangélica nos ensina que, realmente, fomos libertos do Egito, da escravidão e do faraó. Em Cristo, "nosso pessach", "nossa páscoa" (cf. 1Co 5.7), fomos libertos do mundo, do qual o Egito é a metáfora, fomos remidos do pecado, do qual a escravidão é a figura, e fomos salvos do reino do maligno representado pela pessoa do faraó.

O evento correspondente ao Pessach na Nova Aliança é, portanto a Redenção. Na Antiga Aliança, o sangue de animais cobria os pecados. Este é o significado de kafer, "cobertura". No entanto, na Nova Aliança, o sangue de Jesus Cristo tira os pecados, purifica-nos, como esclarece a exclamação de João, o Batista ("Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!", João 1.29), e a claríssima Primeira Carta de João ao dizer que "o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado" (1.7).

Como na páscoa judaica, todo fermento deve ser eliminado, visto ser o símbolo de corrupção, hipocrisia, pecado, e Jesus não hesitou em usar esta figura em Mateus 16.6 ("Cuidado, acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus", cf. Mc 8.15; Lc 12.1), bem como Paulo em 1Coríntios 5.7, 8. Uma leitura cristã observa a expressão de nossa comunhão com Cristo que começa coma redenção (João 6. 48, 51) e prossegue em santificação de vida (1Coríntios 5.6-8; Gálatas 5.9).

4. Hag haBikarim (Festa das Primícias)

Levítico 23.9-14 (cf. Dt 16.9-11) faz referência à Festa das Primícias, e menciona que um molho das primeiras espigas da colheita deve ser movido diante do Senhor. No Yom rishon, o primeiro dia da semana, um cordeiro de um ano sem defeito era oferecido em holocausto, ocorrendo, ainda, uma oferta de cereais e uma libação de vinho. As primícias pertenciam ao sacerdote. EDERSHEIM explica que a oferta das primícias, apropriadamente falando, pertencia à classe das contribuições religiosas e para caridade.

É sugestivo verificar que enquanto o povo levava as primícias, Jesus Cristo, primícia dos que dormem na expressão de Paulo, ressuscitou! Paulo faz essa referência em 1Coríntios 15.20, "Mas de fato Cristo ressurgiu dentre os mortos, e foi feito as primícias dos que dormem" (cf. Cl 1.18; Ap 1.5, 6; 14.4), o que significa que o evento correspondente à Hag haBikarim na Nova Aliança é a Ressurreição de Jesus Cristo.

5. Hag Shavuoth (Festa das Semanas ou de Pentecostes)

Considerada uma festividade de grande alegria e agradecimento pelas dádivas divinas nas colheitas, razão porque recebe igualmente o nome de "Festa da Colheita" (Hag haKatsir, cf. Ex 23.16) e "Festa das Primícias do Trigo" (Ex 34.22), seu mais detalhado registro é encontrado em Levítico 23.15-25 (cf. Dt 16.10), ocorrendo sete semanas a partir da Festa das Primícias.

No sétimo sábado, ofereciam-se cereais, dois pães preparados com farinha nova, com fermento (aliás, o único exemplo em que o uso do fermento é ritualmente prescrito), sete cordeiros de um ano sem defeito, os quais passarão a pertencer ao sacerdote (Dt 18.3, 4), um novilho, dois carneiros, e, em holocausto, um bode (oferta pelo pecado) e dois cordeiros de um ano como sacrifício de paz. O verso 22 regula que na colheita, as espigas caídas e os cantos do campo ficarão intocados destinando-se aos carentes e forasteiros.

É considerada como a festa do aniversário da Torah, renovação anual da Berith, a Aliança, a entrega da Lei dada no Sinai (cf. Ex 19.1, 11; 12.6, 12). Os manuscritos do Mar Morto confirmam a antigüidade desta atribuição (cf. 2Cr 15.10-15).

No entanto, segundo TELUSHKIN, na vida judaica esta festividade é considerada de meio luto, sem maiores detalhes sobre a razão deste pensamento, a não ser a referência feita pelo Talmud a uma praga no segundo século que teria morto 24 mil estudantes do rabino Akiva. Os judeus ortodoxos não cortam os cabelos ou celebram casamento durante o período. É feita a leitura do livro de Rute durante a sua celebração.

Uma releitura do ponto de vista cristão, verifica que como Pessach, esta festividade foi eventualmente relacionada com a história da salvação, e o evento que lhe corresponde na Nova Aliança é o derramamento do Espírito Santo em Jerusalém, cinqüenta dias após a ressurreição de Jesus Cristo por ocasião do Dia de Pentecostes (At 2.1; 20.16; 1Co 16.8).

6. Yom Kippur (Dia do Perdão)

O conceito básico desta solenidade é a reconciliação entre Deus e a pessoa humana, e as pessoas entre si. É considerada a maior das festividades judaicas e sua comemoração anual objetiva fazer a purificação dos pecados (cf. Lv 16.16, 30, 33; Nm 29.7-11; Ez 45.18-20).

No Yom Kippur apenas o Kohen haGadol, o sumo-sacerdote, oficiava com um traje especial. O Talmud chama esta data especial sugestiva e reduzidamente de "O Dia".

O relato bíblico menciona que dois bodes idênticos eram escolhidos, de modo que um era oferecido ao Senhor como oferta pelo pecado, e sobre o outro, a culpa de Israel era transferida pela imposição das mãos do sumo-sacerdote e levado ao deserto.

Era o Yom Kippur o único dia em que o sumo-sacerdote entrava no Kodesh haKadoshim, o Lugar Santíssimo , a câmara reservada do Tabernáculo e do Templo (cf. Lv 16.2; Ex 30.1). Levítico 23.27 regula o modo de celebrar: "afligireis as vossas almas", que tem sido interpretado como um dia de grande jejum.

O bode denominado de "emissário" era conduzido para o deserto ("terra solitária, cf. Lv 16.22a) por um homem responsável para fazê-lo (v. 21b). De Jerusalém ao começo do deserto distava aproximadamente 16 km, havendo dez paradas. Em cada uma, ficava uma ou mais pessoas para assistir o encarregado da condução do animal e acompanhá-lo até a parada seguinte.

Ao chegarem ao deserto, o responsável levava sozinho o bode até um precipício, onde o empurrava no abismo, e voltava. Como estava considerado trefah (impuro), ficava na última parada onde passava o resto do dia e a noite.

Sinalizava-se com bandeiras notificando que o bode tinha cumprido sua missão. Este animal recebia o nome de Azazel, conforme Levítico 16.8, palavra traduzida nas Escrituras como (1) "bode emissário", embora haja diversas interpretações.
(2) Idéia apresentada na versão siríaca das Escrituras Hebraicas é que Azazel seria o nome de um demônio do deserto levando em conta que azaz é "ser forte" e el, Deus. Tal opinião leva em conta que desertos, cemitérios, ruínas eram local de habitação de demônios (Is 13.21; 34.14; Mt 12.43; Mc 5.3).
(3) Por redução, Satanás, opinião esposada pelos adventistas.
(4) Sugere-se "a fim de remover" como significado básico sugerido pela raiz árabe azala cuja significação é "remover".
(5) Outra sugestão é significar uma região desolada (cf. Lv 26.22).
(6) E, por fim, o falecido erudito Roland DE VAUX sugere que a palavra faria referência a precipício, despenhadeiro, o lugar para onde o animal era levado.
Nos dias atuais, o Yom Kippur continua vivo. Na véspera, nas sinagogas, canta-se o Kol Nidreh título dado pelas primeiras palavras desta pungente canção e que quer dizer "Todas as promessas", quando se pede que seja o suplicante liberado de todas as promessas feitas e não cumpridas. Desse momento até o culto final, a Nehilah, ou seja, "Conclusão", todos a partir dos treze anos entram em absoluto e obrigatório jejum, que tem início uma hora antes do feriado se iniciar.

São vinte e cinco horas de meditação, exame de consciência, arrependimento e pedido de perdão a Deus pelos pecados e transgressões do ano anterior. Não bebem qualquer líquido ou tomam banho e nada de intimidades conjugais. Não se pode usar sapatos de couro, que é para diminuir o conforto nesse dia de profunda reflexão. Crianças abaixo de nove anos não jejuam; de nove aos onze para as meninas e aos doze para os meninos, recebem as principais refeições. Dos doze anos para as meninas, e dos treze para os meninos em diante o jejum é obrigatório. À tarde, é lido o livro do profeta Jonas.

A tradição vê o Yom Kippur como o dia em que Deus decide o destino de cada ser humano. O povo ora intensamente uma prece que fala do "fechamento das portas do céu", esperando ser admitido na presença de Deus. O toque do shofar, a trombeta de chifre de carneiro encerra as atividades, e, como expressa o rabino Joseph TELUSHKIN, "O povo experimenta uma grande catarse".

Uma leitura cristã evangélica desta festividade considerada pelos judeus como um dos "dias de terror" demonstra com meridiana clareza que tudo era e continua sendo imperfeito, em nada melhorando a condição do cultuante. EDERSHEIM, um judeu convertido como mencionado, chega a dizer "A Lei não faz nada perfeito". Isso significa não ter um mediador perfeito no seu sacerdote, não tem ter uma expiação perfeita no sacrifício , não ter um perdão perfeito como resultado do trabalho conjunto do sacerdote e da oferenda. E, deste modo, a Carta aos Hebreus esclarece em 10.1 que,
A lei, tendo a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, não pode nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem de ano em ano, aperfeiçoar os que se chegam ao culto".
E também,
"O Espírito Santo mostra-nos assim que, enquanto permanecer de pé o primeiro santuário, o caminho que leva ao verdadeiro santuário ainda não está aberto. O primeiro santuário é apenas uma imagem com referência ao tempo de hoje. Significa que as ofertas e os sacrifícios de animais oferecidos a Deus não são capazes de tornar verdadeiramente perfeitos aqueles que os oferecem" (Hb 9.8, 9).

Não é necessário muito esforço mental para entender que "é impossível que sangue de touros e de bodes tire os pecados" (Hb 10.4). Ou, modernamente, viver na aflição de pedir que o nome seja escrito no Livro da Vida multiplicando a solenidade ano após ano, razão porque lemos com alegria, esperança e fé, "(pois a lei nunca aperfeiçoou coisa alguma), e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus" (Hb 7.19).

Verifica-se que o Yom Kippur, o Dia da Expiação, encontra o seu lado concreto no Calvário (Hb 2.17) porque esta solene festa judaica, um dos chamados "dias terríveis" é só uma sombra da tarde de horror no Calvário projetada.

7. Hag Sukkoth (Festa dos Tabernáculos)
"A mais alegre de todas as festas do povo israelita era a Festa dos Tabernáculos", assim se expressa EDERSHEIM. Celebra o fim das colheitas (cf. Ex 23.16). Realmente: as colheitas estavam nos celeiros; os frutos, recolhidos; a terra aguardava as chuvas para novamente ser preparada. Portanto, é tempo de agradecer a Deus.

Hag Sukkoth, festividade eminentemente agrícola (cf. Lv. 23.29), é realizada no dia 15 do mês de Tishri ou Ethanim, o sétimo do calendário hebreu. É também chamada de Festa das Colheitas (Hag haKatsir, cf. Ex 23.16; 34.22); Festa das Cabanas, das Tendas ou dos Tabernáculos (Lv 33.34, 43; Dt 16.13, 16; 31.10; 2Cr 8.13; Ed 3.4); e, simplesmente, A Festa (1Rs 8.2; 2Cr 5.3; 7.8,9).

Comemora a época quando Israel vivia em tendas. Por isso, constroem-se até hoje cabanas como um memorial durante o período de oito dias (Lv 23.43, 44). Na sua celebração, seguindo o padrão expresso em Levítico 23.40, tomam-se "o fruto da árvore formosa (etrog), palmas de palmeira, e ramos de murta e de salgueiro de ribeiras". Etrog é um fruto cítrico, as folhas de palmeiras com aproximadamente três palmos formam o lulav, três são os ramos de murta e dois os de salgueiro.

As ofertas pelo pecado, que eram bodes, eram feitas cada dia por sete dias. As ofertas queimadas igualmente por sete dia do seguinte modo: no primeiro dia, 13 bezerros; no segundo dia, 12 bezerros; no terceiro dia, 11 bezerros decrescendo um animal a cada dia até o sétimo. As ofertas de bebidas ou libações (cf. Nm 15.1-10) eram de aproximadamente 1,½l de vinho para cada cordeiro;
2l de vinho para cada carneiro,
3 l de vinho para cada bezerro.

As ofertas de manjar descritas em Números 29.12ss eram de aproximadamente 3,7l de farinha misturada com 1½l de óleo para cada cordeiro;
7½l de farinha com 6l de óleo para cada carneiro;
10l de farinha com 3l de óleo para cada bezerro.

Ao todo, 70 bezerros, 14 carneiros e 98 cordeiros.
É curioso e sugestivo lembrar que o Templo de Salomão foi inaugurado durante a Festa dos Tabernáculos (1Rs 8.2; 2Cr 5.3).

O olhar cristão para esta festividade da Antiga Aliança revela-nos a bendita realidade de que Deus armou o Seu próprio Tabernáculo entre nós. O Evangelho de João registra que o Deus tabernaculou, "armou Sua tenda", habitou no nosso meio. Traz uma importante lição a aparente coincidência das raízes hebraica e helênica da palavra shekinah, a presença plena da glória de Deus no meio do seu povo, e a palavra skinê que significa "tabernacular" de acordo com João 1.14 (cf. Ap 7.15).

Como as outras festividades, a Festa dos Tabernáculos demonstra um alto significado na Nova Aliança por ser figura e sombra da casa espiritual na qual o Senhor e o Seu Espírito habitam em nós (cf. Hb 3.5, 6).

CONCLUSÃO
Até parece que a Antiga Aliança era só alegria. Na verdade, a Nova Aliança é, sobretudo, otimista e alegre. Lucas 2.10, 11 registra o primeiro sermão de Natal e fala de "novas de grande alegria".

Os testemunhos dos setenta enviados eram dados com grande alegria porque os demônios se submetiam à autoridade da Palavra (Mt 28.8). Os discípulos foram tomados de alegria pela ressurreição de Jesus, apesar de terem ficado no quase paradoxo de não acreditarem no que viam (Lc 24.41). Em Samaria, consigna o livro dos Atos dos Apóstolos, alegraram-se por causa dos sinais do reino de Deus (8.6-9).

Paulo enfatizou que "o reino de Deus é... alegria no Espírito Santo (Rm 14.17). Aos gálatas, Paulo disse que guardar os deveres e festividades do Antigo Testamento significava um retorno a rudimentos, ao leitinho dos primeiros meses de vida, como bem o declara a sua Carta em 4.8-11.

Em muitas ocasiões, O Senhor declarou a rejeição dessas festas:

"Não continueis a trazer ofertas vãs! O incenso é para mim abominação, e também as luas novas, os sábados , e a convocação das congregações; não posso suportar iniqüidade, nem o ajuntamento solene. As vossas luas novas, e as vossas solenidades, a minha alma as aborrece. Já me são pesadas; estou cansado de as sofrer. Pelo que, quando estendeis as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos; sim, quando multiplicais as vossas orações, não as ouço" (Is 1.13-15; cf. 29.13) ;
"Quando jejuarem, não ouvirei o seu clamor; quando oferecerem holocaustos e ofertas de cereais, não me agradarei deles" (Jr 14.12a; cf. Mq 3.4; 6.6, 7).

Oséias, o profeta, vai predizer no capítulo 2.11 que todas essa solenidades serão abolidas. "Também farei cessar todo o seu gozo, as suas festas, as suas luas novas, e os seus sábados, e todas as suas assembléias solenes".

Com a Nova Aliança, não estamos mais presos ao tempo, mas, sim, abençoadamente ligados à eternidade pelo sangue de nosso Senhor Jesus Cristo. E o apóstolo Paulo o afirma: "Ninguém, pois, vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados, que são sombras das coisas vindouras, mas o corpo de Cristo" (Cl 2.16,17).

No pão do Pessach, cognominado de "pão da aflição", a Nova Aliança vê diferentemente porque nele reside uma indescritível bem-aventurança, visto que Jesus Cristo o transforma em "pão da alegria" ao estabelecer a Ceia Memorial.

Na realidade, o evangelho é, no dizer de Paulo e de Pedro, "pedra de tropeço e uma rocha de escândalo" (Rm 9.33; 1Pe 2.8). O evangelho perturba, choca, transforma, confronta, inquieta, convence do pecado e abate o orgulho humano. Se isso não acontece, é outro ou nenhum evangelho, mas, seguramente, não é o evangelho do Calvário.

Esse nos liberta. Por ele e por causa dele podemos afirmar com o Apóstolo, "Cristo nos libertou para que sejamos de fato livres. Estai, pois, firmes e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da escravidão" (Gl 5.1).

NOTAS
1 HORRELL, p. 9.
2 Cf. DE VAUX, p. 476.
3 Cf. EDERSHEIM, Festas de Israel, p. 159.
4 Cf. TELUSHKIN, p. 599.
5 Entre 800 e 900 m (cf. Ex 16.29; At 1.12).
6 O significado de nisã é "abertura". Este é o primeiro mês do ano civil hebraico (cf. Ex 12.2).
7 Também traduzido literalmente como "Santo dos Santos".
8 Cf. p. 509.
9 Cf. Festas de Israel, p. 117.
10 O Novo Testamento - tradução em português moderno. Lisboa, Sociedade Bíblica, 1978.
11 Festas de Israel, p. 83.
12 Cf. MELAMED (Org..).

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[Confereência proferida no Congresso Bíblico-Doutrinário do Amazonas, realizado em Manaus, 27 a 29 de novembro de 2002]

Sem nadas mais graça e Paz da Parte de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo